DESTAQUES (28 de fevereiro de 2025)

• Índice de confiança do consumidor caiu 7 pontos para 98,3, a maior queda desde agosto de 2021.
• Expectativa de inflação a 12 meses subiu para 6%, o nível mais alto desde maio de 2023.
• Descida generalizada da confiança em todas as faixas etárias, especialmente entre os 35-55 anos.
• Despedimentos massivos de funcionários públicos por parte do Departamento de Eficiência Governamental geram receios sobre a economia.
• Mercados financeiros reagem negativamente: queda das ações em Wall Street, recuo do dólar e descida nos rendimentos do Tesouro dos EUA.

Queda na Confiança e Impacto das Políticas Económicas

A confiança do consumidor nos EUA registou, em fevereiro de 2025, a sua maior deterioração em três anos e meio, refletindo a crescente preocupação dos americanos com os impactos económicos das políticas da administração do Presidente Donald Trump. O índice do Conference Board caiu 7 pontos para 98,3, muito abaixo da previsão de 102,5 dos economistas consultados pela Reuters, atingindo o seu nível mais baixo desde junho de 2024. A queda de confiança foi transversal a quase todos os grupos etários e níveis de rendimento, com exceção dos lares que ganham menos de 15.000 dólares anuais e aqueles com rendimentos entre 100.000 e 125.000 dólares. A faixa etária 35-55 anos foi a mais afetada.

Entre os fatores citados para esta quebra acentuada, destacam-se:

• Aumento das tarifas sobre importações, que está a encarecer bens essenciais.
• Despedimentos em massa de funcionários públicos, resultantes das novas medidas de corte orçamental.
• Inflação persistente, que pressiona o orçamento das famílias.

A incerteza gerada pelo cenário económico fez com que os planos de compra de bens duradouros, como automóveis e eletrodomésticos, caíssem. Já os gastos em serviços pessoais, saúde e entretenimento presencial aumentaram ligeiramente, enquanto streaming e viagens perderam prioridade.

Tarifas e Política Económica: O Grande Fator de Instabilidade

O relatório do Conference Board sublinhou um aumento significativo nas menções a tarifas comerciais, alcançando níveis não vistos desde 2019. Desde que assumiu o cargo, Trump implementou uma política agressiva de tarifas sobre importações chinesas (10%) e anunciou novas taxas de 25% sobre produtos vindos do México e Canadá. Em fevereiro, aumentou ainda as tarifas sobre aço e alumínio para 25%, e prepara-se para impor impostos sobre automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos.

As tarifas, que funcionam como um imposto indireto sobre os consumidores, têm levado ao aumento dos preços e estão a agravar as preocupações económicas, num ambiente já marcado por elevados níveis de inflação.

Despedimentos no Setor Público e Impacto no Mercado de Trabalho

Outro fator crítico que abalou a confiança do consumidor foi o despedimento massivo de funcionários públicos liderado pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), uma nova entidade criada por Trump e gerida pelo bilionário Elon Musk, com o objetivo de reduzir os gastos federais.

Os cortes abruptos de postos de trabalho no setor público e a suspensão de contratos com fornecedores federais geraram receios sobre um possível efeito dominó no setor privado, à medida que menos dinheiro circula na economia.

O diferencial do mercado de trabalho, indicador que mede a perceção da disponibilidade de empregos, caiu de 19,4 para 17,1, sugerindo um enfraquecimento na criação de postos de trabalho. Se a tendência continuar, os analistas esperam um impacto direto na taxa de desemprego, atualmente na casa dos 4%.

O economista Christopher Rupkey, da FWDBONDS, alertou que a crescente incerteza pode paralisar o consumo e o crescimento económico:

“Nenhum governo federal ameaçou despedir trabalhadores em massa desta forma antes. Os consumidores estão a ficar assustados e o risco de uma desaceleração económica está a aumentar.”

Fed em Dilema: Taxas de Juro e Inflação

A Reserva Federal dos EUA (Fed) enfrenta um cenário difícil, já que a inflação elevada e o abrandamento da economia complicam a sua política monetária.

Depois de reduzir as taxas de juro em 100 pontos-base desde setembro de 2024, a Fed suspendeu novos cortes em janeiro de 2025, aguardando os efeitos das políticas económicas da administração Trump. No entanto, com o arrefecimento do mercado de trabalho e a queda da confiança dos consumidores, os mercados financeiros acreditam que o banco central será forçado a cortar novamente as taxas já em junho de 2025.

As expectativas para a inflação aumentaram de 5,2% para 6%, o valor mais alto desde maio de 2023. Se a inflação continuar elevada, a Fed pode ser forçada a manter as taxas em patamares altos, o que pode agravar ainda mais a desaceleração do consumo e do investimento.

Conclusão

A economia dos EUA enfrenta um momento de forte incerteza, com a confiança do consumidor em queda, expectativas de inflação elevada e um mercado de trabalho enfraquecido. A política agressiva de tarifas da administração Trump e os cortes drásticos no setor público estão a afetar a perceção dos consumidores e investidores, tornando 2025 um ano de desafios económicos.

Os mercados esperam que a Reserva Federal possa atuar para evitar uma recessão, mas, com a inflação ainda alta, as suas opções são limitadas. A evolução da economia nos próximos meses dependerá da capacidade do governo em gerir os riscos da sua política económica e de como os consumidores e empresas se adaptam a um ambiente de incerteza crescente.