DESTAQUES (26 de março de 2025)

• Inflação anual na Austrália desacelerou para 2,4% em fevereiro, face aos 2,5% registados em janeiro.
• Índice de preços ao consumidor não registou variação em fevereiro, contrariando as previsões de estabilidade.
• Inflação subjacente (trimmed mean) caiu para 2,7%, aproximando-se do intervalo-alvo do banco central.
• Queda de 2,5% nos preços da eletricidade impulsionada por subsídios governamentais em Victoria.
• O dólar australiano desvalorizou 0,1% para $0,6299 após a divulgação dos dados.
• Mercados antecipam 70% de probabilidade de um novo corte das taxas de juro já em maio de 2025.

Evolução da Inflação e Impacto no Mercado

O ritmo da inflação na Austrália desacelerou em fevereiro de 2025, reforçando as expectativas de que o Banco da Reserva da Austrália (RBA) possa avançar com novos cortes nas taxas de juro nos próximos meses. Segundo os dados divulgados pelo Gabinete Australiano de Estatísticas na quarta-feira, o índice de preços ao consumidor (IPC) manteve-se inalterado face a janeiro, enquanto a inflação anual abrandou para 2,4%, contrariando as previsões de estabilidade nos 2,5%.

O indicador de inflação subjacente (trimmed mean), que exclui variações voláteis de preços, registou uma descida para 2,7% em termos anuais, após os 2,8% de janeiro. Este indicador manteve-se relativamente estável nos últimos três meses, sugerindo uma trajetória de desaceleração contínua da inflação.

A economista My Bui, da AMP, afirmou que os dados reforçam a tendência de contenção da inflação na Austrália. A previsão para o primeiro trimestre aponta para um aumento de 2,9% na inflação subjacente, o que significaria que este indicador voltaria a situar-se dentro da meta do RBA (2-3%) pela primeira vez em três anos.

Política Monetária e Expectativas de Novos Cortes nas Taxas de Juro

O Banco da Reserva da Austrália (RBA) reduziu as taxas de juro em fevereiro de 2025 pela primeira vez em mais de quatro anos, mas manteve uma abordagem cautelosa sobre futuros cortes. A autoridade monetária segue de perto a inflação subjacente, que, segundo previsões, deverá atingir os 2,7% até ao final do ano, permanecendo acima do ponto médio da meta de 2-3% definida pelo banco central.

O relatório de fevereiro forneceu indicações de alívio nas pressões inflacionistas, especialmente nos setores de alimentação e habitação. Os preços das refeições em restaurantes e de comida para levar cresceram 2,8% e 2,5%, respetivamente, voltando ao intervalo de 2-3% considerado saudável pelo RBA. Já os custos dos seguros, apesar de ainda elevados (7,9% face ao ano anterior), atingiram o nível mais baixo em dois anos, tendo caído para metade desde abril de 2024.

No setor da habitação, os preços continuaram a suavizar-se, impulsionados por uma queda de 2,5% nas tarifas de eletricidade, consequência da implementação de subsídios governamentais no estado de Victoria. Os preços das rendas e novas habitações também apresentaram sinais de desaceleração, crescendo 5,5% e 1,6%, respetivamente.

Os mercados reagiram a estes dados com uma ligeira desvalorização do dólar australiano (AUD), que caiu 0,1% para $0,6299. Os futuros das obrigações a três anos (YTTc1) reduziram as perdas iniciais, fixando-se nos 96,23 pontos. As swaps indicam que existe 70% de probabilidade de um novo corte das taxas de juro em maio.

Previsões e Possível Impacto Político

Os investidores agora concentram-se na publicação dos dados de inflação do primeiro trimestre, prevista para o final de abril. A economista-chefe do Westpac, Luci Ellis, prevê que o RBA manterá as taxas inalteradas na reunião de 1 de abril, mas antecipa um novo corte em maio. Segundo Ellis, mesmo uma pequena surpresa negativa na inflação subjacente poderá solidificar essa decisão.

No entanto, um fator que pode dificultar cortes adicionais nas taxas de juro é a força inesperada do mercado de trabalho, que tem sido um obstáculo para o abrandamento da inflação. O RBA receia que a pressão salarial crescente possa impulsionar novos aumentos nos custos, impedindo que a inflação desça para o ponto médio da sua meta.

A nível político, o governo australiano anunciou, na noite de terça-feira, um novo pacote de cortes fiscais, numa tentativa de recuperar eleitores insatisfeitos antes das eleições de maio. No entanto, a maioria dos analistas considera que estas medidas terão um impacto insignificante na inflação, dado o seu caráter modesto e temporário.

Conclusão

Os dados de inflação de fevereiro de 2025 na Austrália mostram progressos claros na redução das pressões inflacionistas, reforçando a perspetiva de novos cortes nas taxas de juro ao longo do ano. O RBA já deu o primeiro passo em fevereiro, mas mantém uma abordagem prudente, aguardando sinais mais concretos antes de avançar com novas reduções.

Embora a queda nos preços da eletricidade e dos bens essenciais traga alívio às famílias, os desafios permanecem, especialmente no setor laboral, onde a força do mercado de trabalho pode dificultar o arrefecimento da inflação. A decisão do banco central dependerá, em grande medida, dos dados de inflação do primeiro trimestre, que serão divulgados em abril.

Com as eleições a aproximarem-se, o governo tenta impulsionar a economia com cortes fiscais, mas o verdadeiro impacto destas medidas no comportamento da inflação e nas futuras decisões do RBA ainda permanece incerto.