DESTAQUES (15 de abril de 2025)

• A taxa de inflação anual no Canadá abrandou inesperadamente para 2,3% em março, três décimas abaixo do valor de fevereiro.
• O recuo foi impulsionado sobretudo pela queda nos preços da gasolina (-1,6%) e das viagens organizadas (-4,7%).
• A inflação subjacente (índices core acompanhados pelo Banco do Canadá) manteve-se elevada, com o CPI-median em 2,9% e o CPI-trim a recuar ligeiramente para 2,8%.
• A probabilidade de um corte na taxa de juro na decisão do Banco do Canadá agendada para quarta-feira, 16 de abril de 2025, subiu para 48%, face aos 40% antes da divulgação dos dados.
• O dólar canadiano recuou 0,28%, sendo negociado a 1,3911 CAD por dólar americano (71,89 cêntimos USD).
• Taxas de juro da dívida a dois anos caíram 4,2 pontos base para 2,537%.

Desempenho da Inflação e Reação do Mercado

De acordo com dados publicados em 15 de abril de 2025 pelo Statistics Canada, a inflação anual abrandou de forma inesperada para 2,3% em março, contrariando as projeções dos analistas, que apontavam para a manutenção nos 2,6%. Em termos mensais, os preços subiram 0,3%, abaixo da expectativa de 0,6%.

Esta desaceleração é atribuída principalmente à queda nos preços da energia, nomeadamente a gasolina, bem como ao declínio acentuado nos custos de viagens, tanto em pacotes turísticos (-4,7%) como em voos (-12%), influenciado pela redução de viagens dos canadianos para os Estados Unidos.

Apesar do abrandamento geral, os índices de inflação subjacente – os mais relevantes para o Banco do Canadá, mantiveram-se elevados. O CPI-median ficou em 2,9%, tal como em fevereiro, e o CPI-trim desceu ligeiramente para 2,8%.

Perspectivas para a Política Monetária

A nova leitura da inflação aumentou a especulação em torno da próxima decisão de política monetária do Banco do Canadá, marcada para quarta-feira, 16 de abril de 2025. Os mercados ajustaram as probabilidades de um corte na taxa diretora, com a aposta numa pausa a cair de 60% para 52% após os dados.

O economista-chefe do BMO Capital Markets, Doug Porter, destacou a dificuldade da decisão:

“O banco central deve olhar para trás e considerar a inflação subjacente ainda elevada, ou olhar em frente, tendo em conta o enfraquecimento do sentimento dos consumidores e das empresas e o risco de desaceleração económica neste trimestre? É uma decisão difícil.”

Porter acrescentou que “ninguém questionará a sabedoria do banco se este optar por cortar as taxas já amanhã”.

Outro fator que influencia o cenário são os impactos económicos das tarifas impostas pelo Presidente norte-americano Donald Trump sobre importações canadianas, e as respetivas medidas de retaliação, que contribuem simultaneamente para pressões inflacionistas e riscos de abrandamento económico.

Setores com Maior Variação de Preços

Apesar do abrandamento global da inflação, os preços dos alimentos e bebidas alcoólicas registaram aumentos significativos:
• Alimentos: +3,2% (variação anual)
• Bebidas alcoólicas: +2,4% (variação anual)

Estas subidas contrastam com o abrandamento geral e resultam, em parte, da expiração de um benefício fiscal (isenção de imposto sobre vendas) que esteve em vigor entre meados de dezembro de 2024 e meados de fevereiro de 2025.

Conclusão

A surpresa positiva no abrandamento da inflação em março de 2025 oferece ao Banco do Canadá maior margem de manobra para considerar um corte na taxa de juro já na sua próxima reunião de política monetária. No entanto, o nível persistentemente elevado da inflação subjacente continua a ser um obstáculo à normalização da política monetária.

Com indicadores de confiança a enfraquecer e riscos crescentes no panorama económico global, a decisão do banco central será particularmente sensível, podendo marcar o início de uma nova fase no ciclo de taxas no Canadá. A evolução do preço do petróleo, o impacto das tarifas comerciais e o comportamento do consumo interno serão determinantes para o rumo da economia nos próximos meses.