Japão, Politica Monetaria – 09 Out 25

Bank of Japan: rutura interna e política em transição, outubro será o teste decisivo


Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária do Japão (BOJ). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.    


Strategic Highlights — 30 setembro 2025

  • Dois membros do board (Takata e Tamura) votam por subida imediata da taxa para 0,75%, marcando a primeira dupla dissidência em mais de uma década.
  • O BoJ confirma o início da venda de ETFs e J-REITs (330 mil milhões ienes/ano e 5 mil milhões, respetivamente), iniciando o desmantelamento formal da política ultraexpansionista.
  • Minutas de julho e sumário de setembro mostram que cinco dos nove membros já apoiam um novo aumento de taxas “em futuro próximo”, refletindo viragem hawkish.
  • Ex-membros Adachi e Sakurai indicam que a taxa diretora poderá atingir 1,5% até 2028, com a próxima subida “provável em outubro ou dezembro”.
  • Apesar do tom mais restritivo, Kazuo Ueda mantém postura cautelosa, alertando para “riscos descendentes provenientes das tarifas americanas” e “efeitos políticos internos incertos”.

Nota de Contexto

O Banco do Japão (BoJ) atravessa a fase mais sensível desde a sua saída do regime de estímulos massivos em 2024.
Depois de quase duas décadas de juros zero e compra de ativos em larga escala, a autoridade monetária tenta normalizar gradualmente a política sem destabilizar o iene nem o mercado de dívida soberana.

A taxa de juro de referência encontra-se em 0,50% desde janeiro de 2025, após o primeiro aumento em 17 anos.
Com a inflação a 2,7% em agosto e expectativas empresariais próximas de 2,5% a cinco anos, a questão já não é “se”, mas “quando e quanto” o BoJ voltará a subir juros.

1. A viragem hawkish: dissidência interna e nova configuração do board

O encontro de 19 setembro confirmou um ponto de rutura na política monetária japonesa.
Enquanto a maioria votou por manter a taxa nos 0,5%, Hajime Takata e Naoki Tamura defenderam um aumento imediato para 0,75%, argumentando que a inflação “já atingiu a meta de estabilidade” e que “os riscos estão enviesados para cima”.

A divergência é significativa por três razões:

  1. Representa o primeiro voto duplo de dissidência desde 2008.
  2. Sinaliza fragmentação ideológica num board tradicionalmente homogéneo.
  3. Cria pressão política sobre Ueda, que se torna o elemento mais cauteloso entre os nove membros.

O ex-membro Makoto Sakurai (considerado próximo do núcleo técnico do banco) afirmou que a votação “pode ter sido uma mensagem deliberada ao mercado de que um aumento está iminente”.
Seiji Adachi, que deixou o board em março, estima 50% de probabilidade de subida em outubro, caso o relatório trimestral de perspetivas revele revisões em alta para PIB e inflação.

2. As novas linhas de política: fim da era Kuroda

O comunicado oficial de 19 setembro marca a transição formal para o “pós-estímulo”:

  • O BoJ deixará de deter ativos de risco em carteira, iniciando vendas de ETFs (¥330 mil M/ano) e REITs (¥5 mil M/ano) — um passo simbólico, embora de execução muito lenta (equivalente a 0,05% do volume anual da bolsa de Tóquio).
  • A facilidade de empréstimo de ETFs (criada em 2019) será descontinuada.
  • A comunicação reforça a prioridade de “evitar perturbações de mercado”, evidenciando preocupação com o impacto na bolsa e no iene.

O yen reagiu com valorização imediata, aproximando-se da linha crítica de ¥150/USD, enquanto o Nikkei 225 recuou 1,2% após o anúncio.

3. Sinais económicos e calendário de decisão

O debate interno ganhou intensidade nas últimas semanas:

  • As minutas de julho mostram que vários membros já defendiam um retorno gradual à taxa “neutra”, citando inflação persistente e output gap próximo de zero.
  • O sumário de setembro revela que cinco opiniões já apelavam a aumentos “em intervalos regulares”, caso os dados de preços e atividade se mantivessem estáveis.
  • A inflação de alimentos mantém-se elevada, com 20.381 produtos a registar aumentos de preço este ano (+62,8% face a 2024), segundo o Teikoku Databank.

A atenção do mercado concentra-se agora em três datas:

  • 1 outubro: Tankan Survey, que mostrará a reação das empresas às tarifas dos EUA;
  • 6 outubro: relatório regional dos gestores do BoJ;
  • 29–30 outubro: reunião decisiva, acompanhada da atualização do Outlook Report.

Segundo o ex-diretor Tomoyuki Shimoda, “se o Tankan não mostrar deterioração significativa e o mercado acionista se mantiver firme, o ambiente para uma subida em outubro estará criado”.

4. Política, câmbio e a equação Ueda

A decisão monetária está agora entrelaçada com a transição política em Tóquio.
A renúncia do primeiro-ministro Shigeru Ishiba e a eleição de Sanae Takaichi (marcada para 4 outubro) criam incerteza sobre a relação entre governo e banco central.

Embora Takaichi seja defensora de estímulos no estilo “Abenomics”, analistas consideram improvável que consiga travar uma subida de juros, já que o enfraquecimento do iene se tornou politicamente tóxico e pode gerar fricções diplomáticas com Washington.

O governador Kazuo Ueda, por sua vez, mantém-se apegado à prudência: insiste que é “necessário observar mais dados sobre tarifas e exportações” antes de agir.
Contudo, a divergência entre o seu discurso e o consenso crescente do board torna-o politicamente vulnerável caso a inflação continue a acelerar e o iene volte a depreciar.

5. Cenário prospetivo e análise de risco

Os analistas convergem em torno de três pontos:

  1. Alta probabilidade (60%) de subida de 25 pontos base em outubro, levando a taxa para 0,75%.
  2. Normalização gradual até 2028, com taxa terminal projetada em 1,5%, segundo Makoto Sakurai.
  3. Risco principal: “over-tightening” num contexto de inflação exógena (alimentar e cambial), o que poderia travar o consumo e reverter a recuperação industrial.

O dilema de Ueda é clássico:

  • Se adiar a subida, arrisca perder credibilidade anti-inflacionista.
  • Se agir cedo demais, poderá reacender a deflação doméstica via compressão salarial.

Conclusão

Setembro de 2025 marcou o início da fase pós-consenso na política monetária japonesa.
O BoJ não é mais unânime e isso é, paradoxalmente, sinal de normalização.
Com inflação estrutural a 2%, rendimentos corporativos sólidos e pressões cambiais crescentes, o cenário favorece um novo aumento até final do ano.

A dúvida já não é técnica, mas estratégica:

  • Ueda decidirá em outubro, sob o risco de parecer reativo e não proativo;
  • ou adiará para janeiro, preservando a estabilidade política após a sucessão governamental?

A resposta a essa questão e a reação do iene definirá o rumo do ciclo monetário japonês até 2028.


Visite o Disclaimer para mais informações.

Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Política Monetária do Banco Central do Japão, formato “Geral”, atualizado com informações até 30 de Setembro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, BoJ, Banco Central, Japão, Taxa de Juro)

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