
EUA: Crescimento sem Emprego, a transição estrutural do ciclo laboral norte-americano
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com o Emprego nos EUA. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights — 30 setembro 2025
- PIB dos EUA avança 3,9% anualizado no 3.º trimestre, mas a criação líquida de emprego desacelera para apenas +29 mil/mês, o nível mais baixo em quatro anos.
- O número de vagas abertas (JOLTS) mantém-se em 7,23 milhões, enquanto as contratações recuam 114 mil e os quits caem para 3,09 milhões, sinalizando abrandamento estrutural.
- Taxa de desemprego estável em 4,3%, com aumento da duração média do desemprego para 24,5 semanas — o maior valor desde 2022.
- A Fed cortou a taxa diretora para 4,00%–4,25% e admite novo corte em outubro, perante “riscos assimétricos”: inflação em alta e mercado laboral em queda.
- Analistas identificam um desacoplamento histórico entre crescimento e emprego, impulsionado por IA, restrição migratória e substituição tecnológica.
Nota de Contexto
O ciclo económico dos Estados Unidos entra no final de 2025 com sinais mistos. O PIB cresce acima de 3,5%, suportado por forte investimento em tecnologia e infraestrutura digital, mas o mercado de trabalho dá claros sinais de estagnação.
A contradição entre crescimento robusto e desaceleração do emprego é hoje o principal enigma macroeconómico dos EUA e um dos temas centrais de política monetária global.
1. Mercado de trabalho: estabilização aparente, fragilidade estrutural
Os dados do Job Openings and Labor Turnover Survey (JOLTS) de agosto apontam para um mercado laboral em desaceleração sincronizada, nem em colapso, nem em recuperação.
- Vagas totais: 7,23 milhões (variação marginal de +19 mil).
- Contratações: 5,13 milhões (-114 mil).
- Separações totais: 5,11 milhões (-110 mil).
- Demissões: 1,73 milhões (-62 mil).
- Saídas voluntárias (quits): 3,09 milhões (-75 mil).
Os setores industrial e de lazer/hospitalidade registam as maiores quebras nas aberturas de vagas e nas saídas voluntárias, enquanto a educação e saúde sustentam o fluxo de contratação.
O padrão é típico de fadiga cíclica: a mobilidade laboral (turnover) cai simultaneamente em ambos os sentidos, menos contratações e menos demissões, o que tende a preceder fases de recessão técnica.
Além disso, o relatório semanal de jobless claims mostra estabilidade nas novas candidaturas (218 mil) mas aumento da duração média do desemprego para 24,5 semanas, sugerindo menor rotatividade e menor absorção de mão-de-obra.
2. O enigma do crescimento sem emprego
O paradoxo é visível em duas métricas:
- PIB real (Q3 2025): +3,9% anualizado.
- Crescimento médio do emprego: +29 mil/mês (vs. +82 mil no 3T24).
Este desacoplamento entre PIB e emprego resulta de uma combinação de fatores estruturais:
- Investimento em automação e IA, o capex empresarial cresce 11% anualizado no 1.º semestre, enquanto o emprego permanece estagnado.
- Queda da imigração e aumento das deportações, que reduzem a força de trabalho disponível e alteram o “breakeven” de emprego: agora basta criar 50 mil postos/mês para estabilizar o desemprego.
- Substituição setorial: o emprego industrial e tecnológico cai mesmo com investimentos recorde em data centers e automação, o que reforça o efeito de crescimento sem absorção laboral.
Economistas da TS Lombard destacam que o indicador “core payrolls” (excluindo governo e saúde) está próximo de zero há seis meses, padrão observado antes de todas as recessões dos últimos 60 anos.
3. Dados alternativos e impacto do shutdown
Com o encerramento parcial do governo federal desde o início de outubro, os relatórios oficiais do BLS estão suspensos.
Fontes alternativas, Chicago Fed, ADP, Intuit e Challenger, Gray & Christmas, fornecem uma leitura complementar:
- Taxa de desemprego (estimativa Chicago Fed): 4,3% (estável).
- Emprego no setor privado (ADP): -32 mil em setembro.
- Pequenas empresas (Intuit): -48 mil postos (-0,37%).
- Anúncios de cortes (Challenger): -37% m/m, mas 946 mil layoffs no acumulado do ano, o maior total desde 2020.
A combinação de menor contratação e menor despedimento confirma que o mercado laboral não colapsa, mas estagna, um equilíbrio frágil, que mantém a Fed em modo preventivo.
4. Política monetária: o dilema de Powell
A Fed cortou a taxa de juro de referência em 25 pontos base, para 4,00%–4,25%, e os futuros de juros já precificam novo corte em outubro.
O presidente Jerome Powell reconheceu que os “riscos de inflação são ascendentes, e os do emprego, descendentes”, descrevendo a conjuntura como “situação desafiadora”.
Historicamente, cortes de taxa não seguidos de recessão geram ganhos médios de 8% no S&P 500 nos seis meses subsequentes.
Contudo, esta trajetória está a ser conduzida não por fragilidade no consumo, mas por receio de deterioração súbita no emprego, o que reforça o caráter preventivo e político da decisão.
5. Leitura estratégica e implicações de ciclo
A economia norte-americana atravessa uma transição estrutural profunda:
Fator | Tendência observada | Implicação macroeconómica |
Produtividade via IA | Capex elevado, sem criação líquida de emprego | Crescimento sem distribuição de rendimento |
Política migratória restritiva | Queda do “labor supply” e menor mobilidade | Pressão sobre produtividade e salários |
Política monetária pró-cortes | Sustenta ativos financeiros, mas expande riscos de crédito | Reforço da dicotomia Wall Street/Main Street |
Mercado de trabalho em estagnação | Contratações e separações em mínimos | Sinal de fase terminal do ciclo laboral |
Setores tecnológicos e data centers | Elevado investimento e rentabilidade | Crescimento concentrado e não inclusivo |
Conclusão
O terceiro trimestre de 2025 confirma que os EUA vivem uma redefinição do seu modelo de crescimento.
O motor da expansão já não é o emprego nem o consumo, mas a produtividade tecnológica e a reconfiguração do capital.
A “nova economia” americana cresce, mas sem gerar novos postos de trabalho, fenómeno que desafia os instrumentos clássicos de política monetária e redefine o conceito de pleno emprego.
O risco central para 2026 é o de uma recessão silenciosa: PIB positivo, mas rendimento estagnado, consumo em desaceleração e desigualdade em alta.
A Fed enfrenta o dilema de manter liquidez sem alimentar bolhas, enquanto o mercado laboral entra numa era em que a estabilidade já não significa saúde, mas paralisia.
Visite o Disclaimer para mais informações.
Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre o emprego mensal nos EUA, formato “Geral”, atualizado com informações até 30 de Setembro de 2025. Categorias: Economia. Tags: Economia, EUA, NFPs, Emprego, Taxa Desemprego)