Reino Unido, Emprego – 10 Out 25

Reino Unido: mercado laboral entra em fase de abrandamento prolongado com salários ainda acima da meta de inflação


Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Emprego no Reino Unido. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.


Strategic Highlights — 16 setembro 2025

  • Emprego formal recua pelo sétimo mês consecutivo, com menos 8 mil postos em agosto, segundo dados preliminares do ONS.
  • Salários privados crescem 4,7% a/a, em desaceleração ligeira face aos 4,8% de junho, mas ainda acima do nível compatível com a meta de 2% de inflação do BoE.
  • Taxa de desemprego mantém-se em 4,7%, o valor mais alto desde 2021, embora o ONS admita margens de erro por revisão metodológica.
  • Número de vagas sobe pela primeira vez desde início de 2024, atingindo 728 mil entre junho e agosto, sinal de leve estabilização.
  • O Banco de Inglaterra (BoE) deverá manter as taxas em 4%, com apostas de mercado a prever novo corte apenas em fevereiro de 2026.

Nota de Contexto

O mercado laboral britânico encontra-se num ponto de inflexão estrutural: a desaceleração do emprego tornou-se persistente, mas a dinâmica salarial continua elevada, dificultando o ajuste monetário do Bank of England.
Entre fevereiro e agosto, o número de empregados caiu em sete meses consecutivos, refletindo tanto a pressão fiscal sobre empresas (aumento de impostos e salário mínimo) quanto a incerteza política sobre o orçamento de outono do governo Reeves.

Apesar do abrandamento, o mercado ainda mostra sinais de rigidez:

  • Wage growth nominal acima de 5%;
  • Inatividade (população fora da força de trabalho) em queda para 21%, o nível mais baixo desde 2020;
  • Vacâncias que voltam a crescer, sugerindo recuperação parcial do apetite por contratação.

1. Emprego e vagas: estabilização após correção prolongada

Os dados do Office for National Statistics (ONS) indicam que o mercado de trabalho continua a arrefecer, mas com ritmo de declínio mais moderado do que no início do ano.

IndicadorJunho 2025Julho 2025Agosto 2025Variação
Emprego formal (payrolled)-26.000-8.000-8.000Menor queda em 6 meses
Vagas (3m médios)718.000718.000728.0001.ª alta desde fev/2024
Desemprego4,7%4,7%4,7%Estável
Inatividade21,4%21,2%21,0%Mínimo desde 2020

Fontes empresariais apontam que a incerteza fiscal e a subida do imposto patronal estão a restringir novas contratações.
O aumento de 8.000 despedimentos em agosto foi parcialmente compensado por estabilização no setor de serviços profissionais e tecnologia, que absorveu parte da força de trabalho dispensada no varejo e construção.

A economista Yael Selfin (KPMG UK) resumiu o sentimento empresarial:

“Muitas empresas estão a adiar decisões de contratação até haver clareza sobre o próximo orçamento de outono.”

2. Dinâmica salarial e dilema para o BoE

A inflação salarial mantém-se como o maior obstáculo à política monetária.
O crescimento médio dos salários, excluindo bónus, situa-se em 4,8% — mais do que o dobro do nível compatível com a meta de inflação do BoE.

Mesmo com o arrefecimento do emprego, os salários continuam a crescer por três motivos:

  1. Efeitos retroativos do aumento do salário mínimo decidido em abril;
  2. Pressão sindical em setores públicos e transportes, que forçou revisões salariais acima da inflação;
  3. Escassez de mão de obra especializada em tecnologia, engenharia e saúde.

O BoE, que cortou juros para 4% em agosto por votação apertada (5–4), enfrenta agora um impasse de política.
A leitura oficial é de que “o risco inflacionista continua mais alto do que o desejável”, justificando uma pausa prolongada nas reduções de taxa.

Jack Kennedy, do portal Indeed, sintetizou o dilema:

“O Reino Unido vive um cenário de mini-estagflação: o emprego abranda, mas os salários continuam demasiado fortes.”

3. Estrutura setorial: pressão assimétrica

Os dados do ONS mostram divergências relevantes entre setores:

  • Setores em contração: varejo (-0,7% m/m), construção (-0,5%), hotelaria (-0,4%);
  • Setores estáveis: tecnologia e serviços financeiros;
  • Setores em recuperação: saúde pública e logística, com +3.000 vagas líquidas criadas em agosto.

Essa assimetria explica a resistência salarial: os setores de alta qualificação, responsáveis por 40% da massa salarial total, continuam com escassez de oferta, sustentando aumentos de remuneração.

Além disso, a decisão do governo de aumentar o imposto sobre empresas em julho reduziu a margem líquida de contratações no setor privado em cerca de 1,5 p.p., segundo o RSM UK.

4. Perspetiva macro e implicações monetárias

O BoE mantém postura de espera ativa:

  • Não há corte previsto até fevereiro de 2026;
  • A inflação global deve recuar para 3,8% até dezembro, mas salários e rendas mantêm pressão sobre o núcleo (core CPI).
  • O crescimento do PIB continua anémico, 0,2% trimestral, refletindo impacto da política fiscal contracionista.

Os investidores ajustaram as probabilidades de corte:

  • 30% de hipótese de corte em novembro;
  • Plena precificação para fevereiro de 2026, segundo LSEG data.

Em suma, o mercado laboral é agora o elo-chave entre a política fiscal expansionista (gastos públicos e salário mínimo) e a restrição monetária do BoE.

Conclusão

O Reino Unido atravessa o que se pode descrever como “desinflação laboral sem folga”:
o emprego desacelera, mas os salários continuam a crescer acima do limiar de estabilidade de preços.

A persistência desse desequilíbrio torna improvável uma nova redução das taxas antes de início de 2026, especialmente enquanto:

  • o desemprego se mantiver abaixo de 5%;
  • o crescimento salarial superar 4%;
  • e as vacâncias voltarem a aumentar, ainda que marginalmente.

O cenário base é de estabilização gradual do mercado de trabalho até ao primeiro semestre de 2026, com a inflação salarial a recuar lentamente e a política monetária a permanecer “mais restritiva por mais tempo”.


Visite o Disclaimer para mais informações.

Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre o emprego mensal no Reino Unido, formato “Geral”, atualizado com informações até 16 de Setembro de 2025. Categorias: Economia. Tags: Economia, Reino Unido, Emprego, Taxa Desemprego)

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