
Reino Unido: mercado laboral entra em fase de abrandamento prolongado com salários ainda acima da meta de inflação
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Emprego no Reino Unido. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights — 16 setembro 2025
- Emprego formal recua pelo sétimo mês consecutivo, com menos 8 mil postos em agosto, segundo dados preliminares do ONS.
- Salários privados crescem 4,7% a/a, em desaceleração ligeira face aos 4,8% de junho, mas ainda acima do nível compatível com a meta de 2% de inflação do BoE.
- Taxa de desemprego mantém-se em 4,7%, o valor mais alto desde 2021, embora o ONS admita margens de erro por revisão metodológica.
- Número de vagas sobe pela primeira vez desde início de 2024, atingindo 728 mil entre junho e agosto, sinal de leve estabilização.
- O Banco de Inglaterra (BoE) deverá manter as taxas em 4%, com apostas de mercado a prever novo corte apenas em fevereiro de 2026.
Nota de Contexto
O mercado laboral britânico encontra-se num ponto de inflexão estrutural: a desaceleração do emprego tornou-se persistente, mas a dinâmica salarial continua elevada, dificultando o ajuste monetário do Bank of England.
Entre fevereiro e agosto, o número de empregados caiu em sete meses consecutivos, refletindo tanto a pressão fiscal sobre empresas (aumento de impostos e salário mínimo) quanto a incerteza política sobre o orçamento de outono do governo Reeves.
Apesar do abrandamento, o mercado ainda mostra sinais de rigidez:
- Wage growth nominal acima de 5%;
- Inatividade (população fora da força de trabalho) em queda para 21%, o nível mais baixo desde 2020;
- Vacâncias que voltam a crescer, sugerindo recuperação parcial do apetite por contratação.
1. Emprego e vagas: estabilização após correção prolongada
Os dados do Office for National Statistics (ONS) indicam que o mercado de trabalho continua a arrefecer, mas com ritmo de declínio mais moderado do que no início do ano.
Indicador | Junho 2025 | Julho 2025 | Agosto 2025 | Variação |
Emprego formal (payrolled) | -26.000 | -8.000 | -8.000 | Menor queda em 6 meses |
Vagas (3m médios) | 718.000 | 718.000 | 728.000 | 1.ª alta desde fev/2024 |
Desemprego | 4,7% | 4,7% | 4,7% | Estável |
Inatividade | 21,4% | 21,2% | 21,0% | Mínimo desde 2020 |
Fontes empresariais apontam que a incerteza fiscal e a subida do imposto patronal estão a restringir novas contratações.
O aumento de 8.000 despedimentos em agosto foi parcialmente compensado por estabilização no setor de serviços profissionais e tecnologia, que absorveu parte da força de trabalho dispensada no varejo e construção.
A economista Yael Selfin (KPMG UK) resumiu o sentimento empresarial:
“Muitas empresas estão a adiar decisões de contratação até haver clareza sobre o próximo orçamento de outono.”
2. Dinâmica salarial e dilema para o BoE
A inflação salarial mantém-se como o maior obstáculo à política monetária.
O crescimento médio dos salários, excluindo bónus, situa-se em 4,8% — mais do que o dobro do nível compatível com a meta de inflação do BoE.
Mesmo com o arrefecimento do emprego, os salários continuam a crescer por três motivos:
- Efeitos retroativos do aumento do salário mínimo decidido em abril;
- Pressão sindical em setores públicos e transportes, que forçou revisões salariais acima da inflação;
- Escassez de mão de obra especializada em tecnologia, engenharia e saúde.
O BoE, que cortou juros para 4% em agosto por votação apertada (5–4), enfrenta agora um impasse de política.
A leitura oficial é de que “o risco inflacionista continua mais alto do que o desejável”, justificando uma pausa prolongada nas reduções de taxa.
Jack Kennedy, do portal Indeed, sintetizou o dilema:
“O Reino Unido vive um cenário de mini-estagflação: o emprego abranda, mas os salários continuam demasiado fortes.”
3. Estrutura setorial: pressão assimétrica
Os dados do ONS mostram divergências relevantes entre setores:
- Setores em contração: varejo (-0,7% m/m), construção (-0,5%), hotelaria (-0,4%);
- Setores estáveis: tecnologia e serviços financeiros;
- Setores em recuperação: saúde pública e logística, com +3.000 vagas líquidas criadas em agosto.
Essa assimetria explica a resistência salarial: os setores de alta qualificação, responsáveis por 40% da massa salarial total, continuam com escassez de oferta, sustentando aumentos de remuneração.
Além disso, a decisão do governo de aumentar o imposto sobre empresas em julho reduziu a margem líquida de contratações no setor privado em cerca de 1,5 p.p., segundo o RSM UK.
4. Perspetiva macro e implicações monetárias
O BoE mantém postura de espera ativa:
- Não há corte previsto até fevereiro de 2026;
- A inflação global deve recuar para 3,8% até dezembro, mas salários e rendas mantêm pressão sobre o núcleo (core CPI).
- O crescimento do PIB continua anémico, 0,2% trimestral, refletindo impacto da política fiscal contracionista.
Os investidores ajustaram as probabilidades de corte:
- 30% de hipótese de corte em novembro;
- Plena precificação para fevereiro de 2026, segundo LSEG data.
Em suma, o mercado laboral é agora o elo-chave entre a política fiscal expansionista (gastos públicos e salário mínimo) e a restrição monetária do BoE.
Conclusão
O Reino Unido atravessa o que se pode descrever como “desinflação laboral sem folga”:
o emprego desacelera, mas os salários continuam a crescer acima do limiar de estabilidade de preços.
A persistência desse desequilíbrio torna improvável uma nova redução das taxas antes de início de 2026, especialmente enquanto:
- o desemprego se mantiver abaixo de 5%;
- o crescimento salarial superar 4%;
- e as vacâncias voltarem a aumentar, ainda que marginalmente.
O cenário base é de estabilização gradual do mercado de trabalho até ao primeiro semestre de 2026, com a inflação salarial a recuar lentamente e a política monetária a permanecer “mais restritiva por mais tempo”.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre o emprego mensal no Reino Unido, formato “Geral”, atualizado com informações até 16 de Setembro de 2025. Categorias: Economia. Tags: Economia, Reino Unido, Emprego, Taxa Desemprego)