Destaques (31 de Março de 2025)

• O PMI oficial da indústria chinesa subiu para 50,5, o valor mais alto em 12 meses.
• A leitura positiva ocorre antes da entrada em vigor das novas tarifas dos EUA anunciadas a 2 de Abril.
• O subíndice de novas encomendas internas subiu para 51,8, sinalizando recuperação da procura doméstica.
• A actividade nos serviços e construção também acelerou, mas mantêm-se as pressões deflacionistas.
• A retoma industrial poderá ser de curta duração face ao novo embate tarifário de Washington.

Dados Industriais Mostram Força em Março, Mas Contexto Agrava-se com Medidas de Trump

A economia chinesa registou a sua expansão industrial mais robusta em um ano durante Março, com o índice PMI oficial a subir de 50,2 para 50,5, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas (NBS). O resultado coincidiu com as expectativas dos analistas, refletindo os efeitos de estímulos fiscais internos e de compras antecipadas por parte de clientes estrangeiros face à expectativa de novas barreiras comerciais.

Contudo, esta recuperação surge antes do anúncio oficial de novas tarifas “recíprocas” por parte da administração Trump, confirmadas a 2 de Abril. As novas medidas impõem uma tarifa base de 10% sobre todas as importações para os EUA, com uma taxa de 34% aplicada diretamente às importações chinesas, o que deverá reverter rapidamente os sinais positivos de Março.

O subíndice de novas encomendas internas subiu para 51,8, o nível mais alto em 12 meses, revelando um esforço de recuperação da procura doméstica. A queda nas encomendas externas abrandou, mas manteve-se ligeiramente abaixo do limiar de expansão (50), antecipando o impacto das tarifas agora confirmadas.

Melhoria Parcial, Mas Fragilidade Estrutural Persiste

Julian Evans-Pritchard, economista-chefe para a China na Capital Economics, comentou que os dados dos PMIs “são compatíveis com um crescimento mais lento do PIB no primeiro trimestre”, mesmo com o impulso das encomendas e do investimento em infraestruturas.

O PMI dos serviços e construção também melhorou ligeiramente para 50,8, mas analistas alertam que a retoma é desigual e ainda marcada por pressões nos preços e pelo desemprego urbano. “A queda nos preços de output apesar da subida das encomendas é preocupante”, sublinhou Xu Tianchen, do Economist Intelligence Unit.

A recuperação das pequenas e médias empresas contrasta com as dificuldades dos grandes grupos industriais. A vulnerabilidade estrutural mantém-se elevada, sobretudo tendo em conta a nova vaga de tarifas norte-americanas que deverá atingir o sector exportador já em Abril.

Xi Jinping Tenta Conter Perceção Negativa Externa

Num esforço para conter o pessimismo em torno da economia chinesa, o Presidente Xi Jinping reuniu-se recentemente com CEOs de multinacionais, apelando à defesa das cadeias globais e da estabilidade económica. Pequim aposta também na renovação do programa de troca de eletrodomésticos e veículos antigos por novos, para impulsionar o consumo interno.

Ainda assim, a maioria dos analistas duvida da sustentabilidade do atual momento. “Acreditamos que os próximos trimestres serão marcados por maior pressão externa”, alertou a Capital Economics, referindo que os efeitos das tarifas dos EUA deverão sentir-se plenamente a partir do segundo trimestre.

Conclusão

Apesar dos dados encorajadores de Março nos PMIs industriais e de serviços, a economia chinesa enfrenta agora um novo embate tarifário com os EUA, que ameaça inverter os sinais de recuperação. A resposta de Pequim com estímulos fiscais e incentivos ao consumo pode amortecer parte do impacto, mas a vulnerabilidade externa mantém-se elevada. Com as novas tarifas de Washington já em vigor, a resiliência observada em Março poderá ter sido apenas uma pausa técnica antes de nova desaceleração.