Destaques (4 de Abril de 2025)

• A economia dos EUA criou 228 mil empregos em Março, superando todas as previsões.
• O desemprego subiu ligeiramente para 4,2%, com mais pessoas a entrar na força laboral.
• Tarifas de Trump e tensões comerciais ameaçam travar o dinamismo do mercado de trabalho.
• Sectores como saúde, retalho e logística foram os principais motores da criação de emprego.
• A Fed admite impacto inflacionista e recessivo das novas tarifas.

Criação de Emprego Acentuada Antes da Turbulência Comercial

O mercado de trabalho norte-americano demonstrou forte resiliência em Março, com 228 mil novos postos de trabalho adicionados, acima das estimativas mais otimistas (135 mil). Este desempenho teve como base a retoma de atividade após um Inverno rigoroso e o regresso de cerca de 10 mil trabalhadores grevistas do sector da distribuição.

Contudo, muitos economistas alertam que este relatório do Bureau of Labor Statistics já parece datado. A entrada em vigor das novas tarifas de importação de Donald Trump, que impõem um mínimo de 10% sobre a maioria dos bens, alterou radicalmente as previsões para os próximos meses.

Sectores com Maior Dinamismo

A criação de emprego foi especialmente forte na saúde (+54 mil), assistência social (+24 mil), retalho (+24 mil), e logística e transportes (+23 mil), impulsionada por um aumento nas encomendas e transporte de bens antecipando as tarifas.

Também se registaram aumentos no sector da restauração (+29,8 mil) e na construção (+13 mil), graças à melhoria das condições meteorológicas.

Por contraste, a indústria transformadora apenas adicionou 1.000 empregos, e o sector financeiro aumentou em 9 mil.

Governo Reduz, Mas Com Moderação

Apesar das medidas drásticas de contenção de custos por parte da nova agência federal DOGE (Department of Government Efficiency), liderada por Elon Musk, o número total de funcionários públicos apenas caiu 4 mil. Isto deve-se ao facto de muitos trabalhadores estarem em licença paga ou com indemnizações em curso, sendo ainda contabilizados como empregados.

Incerteza e o Impacto das Tarifas

O presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, reconheceu na sexta-feira que as tarifas de Trump “excederam as expectativas”, e alertou que o impacto económico “será igualmente maior”, incluindo inflação mais elevada e crescimento mais lento.

Com os mercados em queda e o Nasdaq perto de território de bear market, os analistas antecipam que a Fed volte a cortar taxas já em Junho, depois de ter pausado em Janeiro. O mercado laboral ainda mostra força, mas a confiança das empresas e dos consumidores está a deteriorar-se.

Previsões para Abril e Verão

Economistas de várias instituições, como o Citigroup, alertam que os efeitos das tarifas começarão a notar-se já nos dados de Abril, com provável queda no emprego no retalho e em sectores mais sensíveis ao consumo.

Apesar de os salários médios terem crescido 0,3% no mês (3,8% em termos anuais), o aumento do número de pessoas com múltiplos empregos e de desempregados de longa duração levanta dúvidas sobre a robustez do crescimento.

Conclusão

O relatório de Março reflecte um mercado de trabalho ainda vigoroso, mas os sinais de inflexão são claros. As tarifas generalizadas impostas pelos EUA, combinadas com o aumento da incerteza, ameaçam inverter a tendência positiva nos próximos meses. O verdadeiro impacto começará a desenhar-se nos relatórios de Abril e Maio, sendo expectável uma moderação significativa no ritmo de contratação se as tensões comerciais se mantiverem.