Destaques (10 de Abril de 2025)

• O índice de preços no consumidor (CPI) recuou 0,1% em março, a primeira queda mensal desde maio de 2020.
• A inflação homóloga desceu para 2,4%, mas os mercados preveem subidas futuras devido ao impacto das tarifas comerciais.
• Trump elevou as tarifas sobre bens chineses para 125%, apesar da pausa parcial noutras tarifas anunciada na véspera.
• Core CPI subiu apenas 0,1%, o menor avanço desde junho de 2024.
• Os mercados antecipam cortes de 100 pontos base na taxa de juro da Fed até final do ano.

Inflação surpreende em baixa, mas com sinais de volatilidade futura

Os preços no consumidor nos Estados Unidos caíram inesperadamente 0,1% em março, com destaque para a queda nos preços da gasolina e dos carros usados, segundo os dados divulgados esta quinta-feira pelo Departamento do Trabalho.

Embora o dado tenha sido recebido com alívio inicial, analistas alertam que o recuo poderá ser temporário, já que as tarifas adicionais impostas por Donald Trump sobre as importações chinesas deverão começar a ter efeitos visíveis nas próximas leituras.

O CPI anual abrandou para 2,4% em março, face aos 2,8% registados em fevereiro, mas esta descida foi atribuída em grande parte ao comportamento de preços de energia e transporte.

Impacto das tarifas e reação dos mercados

Na quarta-feira, Trump anunciou a suspensão temporária das tarifas sobre vários parceiros comerciais, mas reforçou os direitos aduaneiros sobre a China, subindo de 104% para 125%, totalizando 145 com os anteriormente aplicados.

Mantém-se também um imposto geral de 10% sobre praticamente todas as importações, bem como tarifas de 25% sobre veículos.

Estas medidas, que visam reduzir o défice comercial e proteger a indústria doméstica, agravam os receios de recessão e já provocaram fortes quedas nos mercados bolsistas e na confiança dos consumidores.

Os mercados esperam agora um corte acumulado de 100 pontos base na taxa de juro da Reserva Federal em 2025, com o primeiro movimento antecipado já para junho.

Preços de bens e serviços: pressões cruzadas

Os preços dos combustíveis caíram 6,3% em março, o que explica parte do alívio. Mas os alimentos subiram 0,4%, com destaque para os ovos (+5,9%), carne e lacticínios. Já frutas, vegetais e cereais recuaram.

Nos serviços, os bilhetes de avião caíram 5,3% e os preços de hotéis recuaram 3,5%, numa possível indicação de enfraquecimento da procura turística.

Em contraste, o aluguer equivalente de casa subiu 0,4%, enquanto os custos com cuidados pessoais aumentaram 1,0%.

O núcleo da inflação (core CPI), que exclui energia e alimentação, avançou 0,1% no mês e 2,8% em termos anuais, o menor ritmo desde março de 2021.

Conclusão

O recuo da inflação em março trouxe algum alívio imediato, mas não altera a perspetiva de subida futura dos preços num contexto de tarifas reforçadas e incerteza económica global.

Apesar da pausa parcial nas tarifas, o aumento das taxas sobre bens chineses e a manutenção de direitos alfandegários generalizados deverão reacender pressões inflacionistas nas próximas leituras.

A Reserva Federal enfrenta agora um equilíbrio delicado entre sustentar o crescimento e controlar os preços, com os mercados a antecipar cortes na taxa de juro, mas com dúvidas crescentes sobre se estes serão exequíveis caso a inflação volte a acelerar.

O cenário permanece frágil, com impactos cruzados da política comercial, comportamento dos consumidores e evolução do mercado laboral.