Destaques (11 de Abril de 2025)

• Índice de preços no produtor (PPI) caiu 0,4% em Março, contrariando as expectativas do mercado.
• Preços da energia recuaram significativamente, explicando boa parte da queda mensal.
• Tarifas generalizadas continuam a alimentar riscos inflacionistas, apesar do alívio temporário decretado por Trump.
• Expectativas de cortes na taxa de juro da Fed aumentaram, com o mercado a prever uma descida de 100 pontos base até final do ano.
• Tensões comerciais com a China agravam-se, após novas tarifas de 125% de parte a parte.

Alívio pontual nos preços, mas persiste pressão das tarifas

A inflação ao produtor nos Estados Unidos registou uma queda inesperada de 0,4% em Março, sinalizando um potencial alívio de curto prazo nos custos para as empresas. O número, divulgado esta sexta-feira pelo Departamento do Trabalho, contrasta com a expectativa de uma subida de 0,2% e representa a primeira descida mensal desde meados de 2023.

O declínio foi impulsionado por uma queda acentuada nos preços da energia, o que compensou pressões noutros segmentos. Em termos homólogos, o PPI subiu 2,7%, abaixo dos 3,2% registados em Fevereiro.

Tarifas de Trump limitam alívio e alimentam preocupações com inflação futura

Apesar dos dados benignos, o alívio poderá ser apenas temporário. O Presidente Donald Trump adiou durante 90 dias as tarifas adicionais sobre os parceiros comerciais, mas manteve uma tarifa base de 10% sobre quase todas as importações, assim como tarifas específicas de 25% sobre veículos, aço e alumínio.

Mais preocupante, a tarifa sobre bens chineses foi aumentada para 125%, ao que Pequim respondeu com tarifas de igual magnitude sobre produtos norte-americanos. O agravamento do conflito com a China reacendeu os receios de que a inflação ao produtor volte a subir nos próximos meses, à medida que os custos de importação se refletirem nos preços finais.

Fed sob pressão entre inflação e abrandamento económico

A acta da reunião de 18-19 de Março da Reserva Federal revelou que os decisores estão cada vez mais preocupados com um cenário de inflação persistente combinada com desaceleração do crescimento. O risco de estagflação ganhou força, sobretudo após os mais recentes dados de inflação no consumidor e o impacto das tarifas sobre os sectores produtivos.

O mercado financeiro antecipa agora uma redução acumulada de 100 pontos base nas taxas de juro até ao final de 2025, com o primeiro corte esperado já em Junho. A taxa diretora da Fed encontra-se atualmente no intervalo de 4,25% a 4,50%. No entanto, a concretização destes cortes dependerá da evolução da inflação nos próximos meses.

A Fed tem mantido uma postura cautelosa e de observação, sublinhando que os dados futuros serão determinantes para qualquer ajustamento da política monetária. Se a inflação reacelerar devido aos efeitos das tarifas ou da instabilidade nas cadeias de abastecimento, os cortes previstos poderão ser adiados ou até revertidos.

Conclusão

A queda do PPI em Março trouxe um alívio técnico para as pressões de curto prazo, mas a escalada de tarifas impulsionada por Trump compromete esse progresso. A intensificação da guerra comercial com a China, a manutenção de tarifas transversais e os sinais de procura interna mais fraca alimentam um cenário cada vez mais desafiante para a economia norte-americana.

Com a Fed pressionada entre controlar a inflação e evitar uma recessão, e os mercados a anteciparem cortes agressivos nos juros, as próximas leituras de preços e atividade serão cruciais para definir o rumo da política monetária. O risco de estagflação permanece uma ameaça concreta, e a imprevisibilidade da política comercial norte-americana adiciona uma camada extra de incerteza ao panorama económico global.