DESTAQUES (14 de fevereiro de 2025)

• Queda de 0,9% nas vendas a retalho, a maior desde março de 2023.
• Impacto de condições meteorológicas extremas, incluindo tempestades de neve e incêndios florestais em Los Angeles.
• Continuação da incerteza sobre tarifas comerciais, afetando a confiança do consumidor.
• Fed mantém postura cautelosa, sem expectativa de cortes de taxas até ao segundo semestre.

Queda Acentuada nas Vendas a Retalho em Janeiro

As vendas a retalho nos Estados Unidos registaram uma queda de 0,9% em janeiro, a maior descida mensal desde março de 2023, conforme revelou o Departamento do Comércio na sexta-feira. O recuo foi mais acentuado do que o previsto pelos economistas, que estimavam uma leve queda de 0,1%. No entanto, os analistas sugerem que o resultado pode refletir fatores temporários, em vez de uma mudança estrutural na economia.

O mês de janeiro foi marcado por temperaturas gélidas, tempestades de neve e incêndios florestais, particularmente em Los Angeles, o que pode ter prejudicado o tráfego nos comércios e centros urbanos. Apesar da queda mensal, as vendas a retalho apresentaram um crescimento anual de 4,2%, sugerindo que o consumo continua relativamente resiliente.

Jay Hawkins, economista sênior da PNC Financial, destacou que “as condições meteorológicas adversas, especialmente nas principais áreas metropolitanas dos EUA, podem ter impactado as compras presenciais”.

Tarifas e Inflação Pesam no Sentimento do Consumidor

O aumento dos preços e as incertezas em relação às tarifas comerciais também podem ter influenciado a desaceleração das vendas. As recentes medidas tarifárias da administração Trump, que incluem uma taxa adicional de 10% sobre produtos chineses e a possibilidade de tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá, levaram a um aumento da preocupação dos consumidores sobre a inflação futura.

A Universidade de Michigan relatou que as expectativas de inflação a um ano atingiram um máximo de 15 meses no início de fevereiro, sugerindo que as famílias estão a antecipar aumentos de preços nos próximos meses.

James Knightley, economista-chefe internacional do ING, acrescentou que “os consumidores podem estar hesitantes, temendo que os aumentos tarifários afetem os preços de bens essenciais, levando a uma contenção temporária nos gastos”.

Impacto no Mercado e Perspectiva para a Fed

Os dados não alteraram significativamente as expectativas sobre a política monetária da Reserva Federal (Fed), que continua a sugerir que qualquer corte de taxas de juros ocorrerá apenas na segunda metade de 2025. A Fed tem mantido a sua taxa de referência inalterada entre 4,25% e 4,50%, após reduções de 100 pontos base desde setembro.

Os mercados financeiros tiveram uma reação cautelosa às notícias, com Wall Street a apresentar leve volatilidade e o dólar a perder valor face a outras moedas principais. Os rendimentos das obrigações do Tesouro também caíram, refletindo uma menor confiança no crescimento económico a curto prazo.

Principais Setores Afetados

O setor automóvel foi um dos mais atingidos, com as vendas nas concessionárias a caírem 2,8%, após um aumento de 0,9% em dezembro. A escassez de veículos continua a ser um desafio, com os inventários a esgotarem-se e a produção automóvel a registar um declínio de 5,2% em janeiro.

Outros setores também sofreram quedas acentuadas:

• Artigos desportivos, livrarias e hobbies: -4,6%
• Lojas online: -1,9%
• Materiais de construção: -1,3%
• Mobiliário e eletrónica: quedas significativas

No entanto, o setor de restauração e bebidas apresentou um crescimento positivo de 0,9%, o que pode indicar que os consumidores ainda têm disposição para gastos com serviços. As vendas nas estações de serviço também aumentaram 0,9%, impulsionadas pelos preços mais elevados da gasolina.

Perspetivas para o Primeiro Trimestre de 2025

A economia dos EUA continua a crescer, mas os sinais de desaceleração tornam-se cada vez mais evidentes. A Fed de Atlanta reduziu a sua estimativa de crescimento do PIB para 2,3% no primeiro trimestre, face à previsão anterior de 2,9%.

Apesar disso, os analistas continuam confiantes de que o consumo continuará robusto nos próximos meses, impulsionado por um mercado de trabalho sólido e níveis recorde de riqueza das famílias, devido ao elevado valor dos imóveis e a um mercado acionista relativamente forte.

Tuan Nguyen, economista da RSM US, destacou que “se a economia mantiver a sua resiliência, devemos esperar uma recuperação das vendas nos próximos meses”.

Conclusão

A forte queda nas vendas a retalho em janeiro pode ser atribuída a fatores temporários, como o clima adverso, os incêndios florestais e a escassez de veículos. Contudo, o impacto das tarifas e a deterioração da confiança do consumidor representam riscos significativos para a economia nos próximos meses.

A Fed continuará a monitorizar os dados económicos antes de decidir sobre possíveis cortes nas taxas de juro. Enquanto isso, os investidores devem acompanhar a evolução das tarifas comerciais e a recuperação do consumo para avaliar a direção da economia norte-americana no primeiro semestre de 2025.