DESTAQUES (16 de abril de 2025)

• As vendas a retalho nos EUA aumentaram 1,4% em março de 2025, superando o crescimento de 0,2% registado em fevereiro.
• A subida foi impulsionada por uma forte procura de automóveis, antes da entrada em vigor das tarifas globais de 25% sobre carros e camiões, aplicadas no início de abril.
• O consumo discricionário continua sob pressão, afetado por preocupações económicas e expectativas de inflação.
• As vendas a retalho “core” (excluindo automóveis, combustíveis, materiais de construção e restauração) cresceram 0,4% em março, abaixo da previsão de 0,6%.
• O Banco da Reserva Federal de Atlanta prevê uma contração de 0,3% do PIB no primeiro trimestre de 2025, após um crescimento de 2,4% no trimestre anterior.

Comportamento do Consumo e Impacto das Tarifas

Segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio dos EUA em 16 de abril de 2025, o consumo registou uma forte recuperação em março, com as vendas a retalho a subirem 1,4%, acima das previsões dos analistas (1,3%). A principal razão para este aumento foi a corrida dos consumidores à compra de veículos automóveis, antecipando-se à entrada em vigor das tarifas aduaneiras de 25% impostas pela Administração Trump no início de abril.

Fabricantes de automóveis reportaram um forte aumento nas vendas em março, resultado de um movimento de consumidores que procuraram antecipar os aumentos de preços esperados com os novos impostos sobre importações.

Além dos automóveis, há também sinais de acumulação de bens importados, com os consumidores a anteciparem possíveis subidas nos preços. No entanto, os dados de cartões de crédito e débito apontam que este impulso no consumo é dominado por famílias com rendimentos elevados, enquanto os consumidores com baixos rendimentos mostram maiores dificuldades para manter o consumo, especialmente nos setores discricionários.

Incertezas Económicas e Perspetivas para o Consumo

Apesar da recuperação pontual nas vendas, os níveis de confiança dos consumidores continuam a cair, situando-se perto de mínimos de três anos, com as expectativas de inflação a 12 meses no ponto mais alto desde 1981. Este cenário é agravado pela política de despedimentos em massa de funcionários públicos, resultado da estratégia do governo federal de reduzir o tamanho do Estado, o que está a ter um impacto negativo no sentimento económico geral.

Segundo uma nota do Bank of America Institute, o consumo em serviços discricionários (como viagens, entretenimento ou restauração) recuou em março, ao mesmo tempo que os gastos com necessidades básicas (como seguros, rendas e serviços públicos) continuaram a subir, refletindo os efeitos da inflação no comportamento do consumidor.

As vendas a retalho core, que excluem categorias voláteis e são consideradas um indicador mais preciso do consumo interno, cresceram 0,4% em março, após uma revisão em alta para 1,3% em fevereiro. Contudo, este valor ficou abaixo das expectativas dos analistas, que apontavam para um crescimento de 0,6%.

Impacto no PIB e Previsões Económicas

Mesmo com o desempenho sólido das vendas a retalho nos últimos dois meses, os economistas consideram que o consumo total abrandou no primeiro trimestre de 2025, devido a uma redução nas despesas com serviços, que são o principal motor da economia.

O consumo representa mais de dois terços da atividade económica dos EUA. No último trimestre de 2024 (outubro a dezembro), o PIB cresceu a um ritmo anualizado de 4,0%. No entanto, as projeções para o primeiro trimestre de 2025 são mais sombrias: a maioria dos economistas estima um crescimento inferior a 0,5%, sendo que o Banco da Reserva Federal de Atlanta já antecipa uma contração de 0,3%, ajustada às importações e exportações de ouro.

Conclusão

Os dados de março de 2025 mostram uma forte subida nas vendas a retalho nos EUA, impulsionada por compras antecipadas de veículos e bens importados face à entrada em vigor de tarifas comerciais. Contudo, os sinais de desaceleração no consumo discricionário, o declínio do sentimento do consumidor e o risco de recessão colocam um travão ao otimismo.

Apesar do dinamismo recente em algumas categorias de consumo, o cenário económico geral permanece frágil, marcado por pressões inflacionistas, despedimentos no setor público e desaceleração no crescimento económico. A sustentabilidade do consumo nos próximos meses dependerá em grande parte da estabilidade dos mercados financeiros, da trajetória da inflação e do nível de confiança dos consumidores, especialmente entre as famílias de rendimento mais elevado.