Destaques (17 Mar 25)

• Vendas a retalho nos EUA cresceram apenas 0,2% em fevereiro, abaixo das previsões de 0,6%.
• Recuperação modesta após a queda de 1,2% em janeiro, a maior desde novembro de 2022.
• Consumo discrecionário enfraquece, com quedas em restaurantes, vestuário e eletrónica.
• Setor automóvel continua em retração, com vendas a cair 0,4%.
• Expectativas de novos cortes da Fed em junho aumentam, à medida que a economia desacelera.

Vendas a retalho crescem ligeiramente, mas consumidores mantêm cautela

As vendas a retalho nos EUA subiram 0,2% em fevereiro, um valor abaixo das expectativas do mercado, que apontavam para um crescimento de 0,6%. O número representa uma ligeira recuperação face à queda acentuada de 1,2% em janeiro, que foi a maior descida desde novembro de 2022.

Os dados, divulgados pelo Departamento do Comércio a 17 de março de 2025, sugerem que o consumo ainda está sob pressão, refletindo a incerteza económica, os impactos das tarifas comerciais e os despedimentos no setor público.

Apesar do crescimento modesto, os analistas alertam que o consumidor americano está mais cauteloso, reduzindo gastos em áreas como restaurantes, vestuário e eletrónica.

“Este relatório deve aliviar os receios de que a economia já esteja a contrair-se,” afirmou Samuel Tombs, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics. “Mas o risco de um crescimento muito mais fraco agora parece elevado, à medida que os consumidores tentam reconstruir as suas poupanças devido à incerteza sobre o emprego.”

Pontos fortes e fracos do consumo em fevereiro

Embora o crescimento global das vendas tenha sido modesto, houve diferenças significativas entre os setores:

✅ Vendas em lojas online subiram 2,4%, impulsionadas pelo comércio digital.
✅ Saúde e cuidados pessoais registaram um crescimento de 1,7%.
✅ Materiais de construção e equipamentos de jardim tiveram um aumento ligeiro de 0,2%, refletindo uma procura estável no setor.

❌ Setor automóvel caiu 0,4%, depois de uma queda de 3,7% em janeiro, sinalizando um enfraquecimento na procura por veículos.
❌ Restaurantes e bares registaram uma descida de 1,5%, a maior desde janeiro de 2024, indicando um menor apetite dos consumidores por despesas discricionárias.
❌ Vestuário e calçado caíram 0,6%, enquanto as vendas de eletrónica desceram 0,3%.
❌ Postos de gasolina registaram uma queda de 1%, refletindo a descida dos preços dos combustíveis.

O declínio nas receitas de restaurantes e bares é particularmente preocupante, pois é visto como um indicador-chave da confiança dos consumidores. O frio intenso em algumas regiões dos EUA pode ter tido um impacto, mas os economistas também apontam para um enfraquecimento da disposição para gastar.

“O comportamento dos consumidores está a mudar,” disse Scott Anderson, economista-chefe do BMO Capital Markets. “O crescimento do consumo continua, mas as escolhas estão a ser mais cuidadosas, o que pode levar a um crescimento mais lento nos próximos meses.”

Fed mantém taxas, mas cortes podem recomeçar em junho

A Reserva Federal (Fed) reúne-se esta semana e deve manter as taxas de juro entre 4,25%-4,50%, após tê-las reduzido em 100 pontos base desde setembro de 2024.

Contudo, o mercado já prevê que novos cortes poderão ocorrer a partir de junho, à medida que a economia mostra sinais de desaceleração.

Os economistas destacam que a Fed enfrenta um dilema, pois precisa de equilibrar o risco de um abrandamento económico com a possibilidade de novas pressões inflacionistas devido às tarifas comerciais impostas pelo presidente Donald Trump.

“A Fed está numa posição delicada,” afirmou Scott Anderson, do BMO Capital Markets. “Precisa de gerir o impacto de um consumo mais fraco, mas também de garantir que as tarifas não reacendem a inflação nos próximos meses.”

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, alertou no início do mês que a economia poderá desacelerar à medida que os estímulos governamentais são substituídos pelo consumo privado. No domingo, Bessent afirmou que não há garantias de que os EUA evitem uma recessão em 2025.

Impacto das tarifas comerciais e despedimentos no setor público

O setor retalhista também enfrenta um ambiente difícil devido à guerra comercial em curso. O presidente Donald Trump implementou tarifas adicionais de 20% sobre os produtos chineses, aumentando a incerteza económica e pressionando os preços ao consumidor.

Além disso, os despedimentos massivos no setor público, como parte da estratégia da administração Trump para reduzir o tamanho do governo, podem agravar a situação. O corte de milhares de postos de trabalho federais pode reduzir ainda mais o consumo, especialmente em áreas onde a economia local depende fortemente de empregos públicos.

Com a confiança dos consumidores em queda e os gastos das famílias a tornarem-se mais cautelosos, os economistas já projetam uma desaceleração no crescimento do consumo para apenas 1,2% no primeiro trimestre, muito abaixo dos 4,2% registados no quarto trimestre de 2024.

Conclusão

As vendas a retalho nos EUA tiveram um crescimento modesto de 0,2% em fevereiro, após a queda acentuada de janeiro, mas os sinais de fraqueza no consumo continuam evidentes.

Os consumidores reduziram os gastos em bens discricionários, com quedas significativas nos setores automóvel, vestuário e restauração, enquanto as vendas online e produtos essenciais continuaram a crescer.

A Fed deverá manter as taxas de juro inalteradas esta semana, mas os mercados já antecipam novos cortes a partir de junho, caso a desaceleração económica se intensifique.

A incerteza sobre a política comercial dos EUA e os despedimentos no setor público podem continuar a pressionar o consumo, tornando 2025 um ano desafiante para o setor retalhista.