Banco do Japão adota postura prudente face a um cenário altamente volátil

O Banco do Japão optou por manter as taxas de juro inalteradas em 0,5% na reunião de política monetária de abril, citando um ambiente de elevada incerteza económica global, agravado pelas recentes tarifas comerciais impostas pela administração Trump.

A decisão, aprovada por unanimidade, surge num contexto em que o BOJ ainda tenta normalizar gradualmente uma política monetária ultra-expansiva que dura há mais de uma década, mas vê-se limitado pela combinação de:

• Crescimento económico mais fraco
• Inflação estrutural ainda frágil
• Tensão comercial global

“Queremos manter uma abordagem flexível. Ainda não é possível prever quando o nosso cenário-base se materializará”, afirmou o governador Ueda.

Previsões revistas em baixa: crescimento e inflação recuam

No seu relatório trimestral, o BOJ:

• Cortou a previsão de crescimento para o ano fiscal que termina em março de 2026 de 1,1% para 0,5%
• Previu uma expansão de apenas 0,7% no ano fiscal seguinte, face aos 1,0% estimados anteriormente
• Adiou a convergência da inflação subjacente de 2% para o segundo semestre de 2026, recuo de um ano face à previsão de janeiro

A inflação de base (core CPI) deverá:

• Atingir 2,2% em 2025,
• Cair para 1,7% em 2026,
• E voltar a subir para 1,9% em 2027

A trajetória é influenciada por salários crescentes, mas também por consumo e investimento em retração, o que reduz o ímpeto da procura interna.

Tarifas dos EUA criam nova camada de incerteza

O relatório do BOJ cita expressamente que as novas tarifas decretadas pelos EUA estão a penalizar o comércio global, e, por consequência, a economia japonesa. Entre os efeitos destacados:

• Queda nas exportações japonesas
• Redução dos lucros empresariais
• Adiamento de decisões de investimento por empresas e consumidores
• Risco de interrupções nas cadeias de fornecimento

Ueda sublinhou que “o cenário base pode mudar consoante a evolução das tarifas, e isso terá impacto direto nas decisões de política monetária”.

Yen em queda e bolsa em alta: mercado aposta em adiamento de novas subidas

Após a reunião, o iene caiu face ao dólar, refletindo a perceção de que o BOJ adiará eventuais aumentos de taxas para depois de 2025. Ao mesmo tempo, o índice Nikkei valorizou-se, com os investidores a interpretarem a manutenção da taxa como sinal de apoio à liquidez e aos ativos de risco.

“O BOJ está a recuar. Quer ver primeiro como os dados evoluem antes de mudar de direção”, disse Bart Wakabayashi, gestor da State Street em Tóquio.

Conclusão

O Banco do Japão continua numa posição de equilíbrio delicado: por um lado, reconhece que a inflação aproxima-se da meta; por outro, enfrenta uma conjuntura global desfavorável, agravada por tarifas comerciais e riscos de estagflação.

A estratégia passa por adiar novos aumentos de taxas até haver mais clareza nos dados e nas negociações comerciais internacionais. Até lá, o BOJ manterá uma política cautelosa, com foco na estabilidade e na resiliência do sistema financeiro.