Destaques (24 Mar 25)

• Serviços no Reino Unido atingem máximo de sete meses, com PMI a subir para 53,2 em março.
• PMI industrial caiu para 44,6, o pior nível desde setembro de 2023.
• PMI composto avançou para 52,0, sugerindo crescimento marginal de 0,1% no PIB no primeiro trimestre.
• Empresas continuam a cortar empregos, mas a um ritmo mais lento, antecipando subida de impostos e salários mínimos em abril.
• Exportações industriais sofreram maior queda desde agosto de 2023, pressionadas por receios de guerra comercial com os EUA.
• Expectativas de produção futura na indústria registaram a maior queda desde o início da série em 2012 (excluindo pandemia).

Serviços sustentam recuperação tímida da economia britânica

O inquérito PMI da S&P Global divulgado a 24 de março indicou que a atividade no setor dos serviços do Reino Unido atingiu um máximo de sete meses, com o índice a subir para 53,2 em março, face aos 51,0 de fevereiro. Esta leitura, acima da marca dos 50 pontos, sinaliza expansão económica, e poderá oferecer algum alívio à ministra das Finanças, Rachel Reeves, antes do seu esperado discurso sobre o estado das finanças públicas.

A recuperação dos serviços foi sustentada por nichos de crescimento no setor financeiro, segundo a S&P Global, embora outras áreas continuem a enfrentar dificuldades.

Indústria em retração acentuada e com perspetivas sombrias

Por outro lado, o PMI da indústria transformadora caiu para 44,6, o nível mais baixo desde há 18 meses, evidenciando uma contração profunda. As exportações industriais recuaram ao ritmo mais acentuado desde agosto de 2023, reflexo direto do impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, que entram em vigor a 2 de abril.

A leitura da produção futura na indústria registou a maior queda desde o início da série em 2012, excetuando o colapso durante os confinamentos de março de 2020. A S&P Global atribui esta quebra à deterioração das perspetivas de vendas internacionais e à crescente volatilidade dos mercados globais.

“Há muitas preocupações sobre as tarifas dos EUA e previsões pessimistas para as exportações”, afirmou a S&P Global.

O setor industrial britânico, que durante quase dois anos superou os seus homólogos da zona euro, ficou agora 4,1 pontos abaixo do PMI industrial do bloco europeu, o maior diferencial negativo desde 2018.

Mercado laboral sob pressão e empresas viram-se para a automatização

As empresas continuaram a reduzir pessoal, ainda que a um ritmo mais moderado do que em fevereiro, em antecipação à subida do salário mínimo de quase 7% e ao aumento das contribuições patronais em abril. Alguns empregadores referiram o investimento em automatização como resposta aos novos encargos laborais.

Segundo a S&P Global, os custos de produção subiram a um ritmo mais lento, mas os preços cobrados mantiveram-se estáveis em março, dado o esforço das empresas para compensar o aumento iminente dos custos salariais.

Implicações políticas e fiscais em foco

Rachel Reeves deverá anunciar, ainda esta semana, uma revisão em baixa das previsões de crescimento económico para 2025, o que, conjugado com custos de financiamento mais elevados, deverá obrigá-la a rever os planos de aumento da despesa pública.

O Banco de Inglaterra, por sua vez, acompanha de perto o impacto do aumento das contribuições patronais, tendo deixado em aberto a possibilidade de pausar o atual ritmo trimestral de cortes de juros, que mantém desde outubro de 2024.

Conclusão

Os dados de março sugerem que o Reino Unido poderá evitar uma recessão técnica no início de 2025, com o setor dos serviços a compensar a debilidade crescente da indústria. No entanto, as perspetivas continuam frágeis, dada a iminente aplicação de tarifas comerciais pelos EUA, o aumento de custos laborais em abril e a deterioração do comércio externo.

Com o crescimento limitado a 0,1% no primeiro trimestre, e as empresas a responderem com cautela às mudanças estruturais no mercado, o desafio para a política económica será equilibrar apoio à atividade com contenção da inflação e sustentabilidade fiscal.