Estratégia de Aquisição e Resposta Regulamentar

A Safran reforçou significativamente a sua posição no mercado aeroespacial com a compra do negócio de controlos de voo da Collins Aerospace, numa operação anunciada em 2023 e aprovada pela Comissão Europeia a 4 de abril de 2025. Esta aquisição, avaliada em 1,8 mil milhões de dólares, marca um passo estratégico para preparar a empresa francesa para a próxima geração de aviões altamente digitalizados, ao mesmo tempo que expande o seu portefólio de soluções civis e militares.

No entanto, a Comissão Europeia levantou preocupações sobre a concorrência no fornecimento de sistemas de atuadores estabilizadores horizontais ajustáveis (THSA), temendo aumento de preços e redução de opções no mercado. Para mitigar estes receios, a Safran comprometeu-se a alienar toda a sua unidade de THSA na América do Norte. Esta unidade inclui instalações no Canadá, Estados Unidos e ativos no México, com a empresa Woodward já selecionada como potencial compradora desde dezembro de 2024.

A última aquisição relevante da Safran remonta a 2018, com a compra da fabricante de assentos Zodiac, o que demonstra a importância estratégica desta nova operação, especialmente num contexto de crescente digitalização dos sistemas de aviação.

Relações Comerciais com a China e Impactos Geopolíticos

Num desenvolvimento paralelo, o CEO da Safran, Olivier Andries, revelou a 25 de abril de 2025 que a China decidiu isentar de tarifas alguns componentes aeronáuticos importados, incluindo motores, trens de aterragem e naceles (carcaças dos motores). Esta medida insere-se num esforço mais amplo para reduzir tensões comerciais com os Estados Unidos e garantir o fornecimento estável de peças essenciais.

A decisão chinesa surge num momento em que os operadores aéreos enfrentam escassez de peças de reposição, agravada por atrasos nas cadeias de abastecimento globais. Ao isentar certos componentes de tarifas que poderiam atingir 125%, a China sinaliza uma tentativa de normalizar as relações comerciais no setor aeronáutico.

Esta notícia é particularmente relevante para a joint venture CFM International, formada pela Safran e a GE Aerospace, responsável pelo desenvolvimento do motor LEAP, utilizado em aviões como o Boeing 737 MAX, o Airbus A320neo e o novo COMAC C919 da China. Os motores são produzidos em fábricas na França e nos EUA, com as duas empresas a partilharem responsabilidades no fabrico.

Perspetivas de Mercado e Considerações Estratégicas

A inclusão de motores e partes associadas na lista de 131 categorias de produtos com isenção de tarifas, que circulou amplamente na China em abril de 2025, pode traduzir-se numa redução das incertezas logísticas para a Safran e os seus parceiros. O alívio fiscal contribui para manter operacional a frota chinesa e reforça a posição da empresa francesa num dos maiores mercados da aviação mundial.

Embora a medida chinesa não se aplique a aeronaves completas, ela beneficia diretamente fornecedores como a CFM, Honeywell, Collins Aerospace e outros grupos ocidentais que participam na produção do C919, o primeiro avião comercial de passageiros inteiramente desenvolvido pela China.

Conclusão

A Safran encerra o primeiro trimestre de 2025 com dois importantes desenvolvimentos que fortalecem a sua presença global. A aquisição estratégica da Collins Aerospace, aprovada com condições, consolida o seu portefólio tecnológico num setor cada vez mais digital e exigente. Simultaneamente, os benefícios fiscais concedidos pela China colocam a empresa numa posição favorável num mercado vital e em crescimento.

No entanto, apesar destes avanços, a empresa enfrenta desafios contínuos relacionados com cadeias de fornecimento, tensões geopolíticas e exigências regulatórias. A forma como a Safran gerir estes fatores nos próximos trimestres será determinante para a sua capacidade de manter o ritmo de crescimento e inovação no competitivo setor aeroespacial.