Lucros históricos impulsionados por seguros e tesouraria recorde

A Berkshire Hathaway reportou um desempenho excecional em 2024, com o lucro operacional anual a atingir $47,44 mil milhões, e o resultado líquido total a atingir os $89 mil milhões, impulsionado por ganhos de capital não realizados nas participações em ações, incluindo Apple, American Express e Bank of America.

Grande parte deste desempenho deveu-se a:

• Melhoria da subscrição no setor segurador, com destaque para a Geico
• Rendimento elevado sobre T-bills norte-americanos, dada a subida das taxas curtas
• Eficiência nas operações industriais, energia e serviços

Buffett destacou a “capacidade única da Berkshire para navegar tempos de incerteza com liquidez abundante e sem dívidas significativas a nível holding”.

Transição de liderança: Buffett deixará o cargo de CEO no fim de 2025

Na assembleia anual em Omaha, Warren Buffett, agora com 94 anos, anunciou que deixará formalmente o cargo de CEO no final de 2025, ao fim de 60 anos à frente da empresa. O sucessor será o vice-presidente Greg Abel, que já liderava as operações não seguradoras desde 2018.

“O tempo chegou para Greg assumir a liderança como CEO. Estarei por perto para ajudar quando necessário, mas a última palavra será dele”, disse Buffett.

Apesar do anúncio, Buffett manterá o cargo de presidente do conselho de administração, o que tranquilizou os investidores. O título simbólico de “chairman” poderá, mais tarde, ser assumido pelo seu filho Howard, para preservar a cultura empresarial.

Geico e seguros continuam a destacar-se

A Geico mais do que duplicou o lucro de subscrição em 2024, fruto de:

• Aumentos agressivos de prémios
• Redução de custos, com corte de 10.000 empregos desde 2022 (26% da força laboral)
• Diminuição da sinistralidade, com rácios de perdas a caírem de 81% para 71,8%

O CEO da Geico, Todd Combs (também gestor de investimentos da Berkshire), foi elogiado por Buffett como tendo “reestruturado radicalmente” a seguradora.

O conjunto de operações seguradoras da Berkshire, que inclui ainda General Re e National Indemnity, gerou $1,3 mil milhões em lucros no trimestre, apesar de perdas pontuais devido aos incêndios na Califórnia.

Negócios não seguradores mostram força desigual

O desempenho fora do setor segurador foi misto:

• Berkshire Hathaway Energy aumentou os lucros em mais de 50%, com margens mais altas e provisões menores com incêndios passados
• BNSF (ferrovias) registou queda de 6% no lucro trimestral
• As divisões de retalho, habitação (Clayton Homes) e automóveis apresentaram margens mais fracas, afetadas por custos elevados e menor procura

Buffett vende ações, acumula caixa e alerta para défice público

A Berkshire manteve a sua tendência de venda líquida de ações, reduzindo posições em Apple (ainda a maior posição) e Bank of America. A empresa não fez grandes aquisições e investiu apenas $2,9 mil milhões em recompras em 2024, sem qualquer recompra em 2025 até 10 de fevereiro.

O caixa atingiu $347,7 mil milhões, com Buffett a escrever:

“Muitas vezes, nada parece atrativo; muito raramente encontramos algo que nos entusiasme.”

No seu relatório anual, Buffett também criticou a política fiscal dos EUA, referindo-se ao risco de “desvalorização do dólar pela via do défice” e apelando a Washington para usar os impostos de forma prudente e responsável.

Conclusão

A Berkshire Hathaway entra em 2025 com fundamentos financeiros sólidos, caixa recorde, operação seguradora fortalecida e uma transição de liderança clara e já em andamento. A substituição de Buffett por Greg Abel marca o fim de uma era, mas também o início de uma nova fase, na qual a estrutura descentralizada da empresa poderá mostrar a sua resiliência.

Com a confiança do mercado ainda elevada, o maior desafio da Berkshire será manter a sua disciplina de investimento e alocar capital de forma eficiente num mundo com valuations elevados e instabilidade macroeconómica crescente.