ADM afunda lucros com tarifas e escândalo financeiro e avança com reestruturação global

Pressão externa e interna abala resultados da ADM

A 6 de maio de 2025, a ADM reportou resultados bastante abaixo do histórico recente, com lucro ajustado de apenas 70 cêntimos por ação no primeiro trimestre, uma queda acentuada face aos $1,46 registados um ano antes. Embora o valor tenha superado por pouco as estimativas de Wall Street, o contexto é claro: o grupo enfrenta múltiplas pressões estruturais.

O impacto das tarifas comerciais impostas pelos EUA, especialmente sobre a China e parceiros estratégicos, levou a um colapso nas margens de esmagamento de oleaginosas. A empresa também enfrentou queda nas vendas globais de milho e soja, num cenário de stocks elevados e procura internacional retraída.

Reestruturação com cortes de pessoal e encerramentos seletivos

Em resposta ao deteriorar das condições de mercado, a ADM avançou com um plano de redução de custos entre 500 e 750 milhões de dólares nos próximos 3 a 5 anos. O plano inclui até 700 despedimentos globais, representando cerca de 1,7% da força laboral da empresa.

A nova vaga de cortes, iniciada em março de 2025, afetou sobretudo a divisão de serviços agrícolas e processamento de sementes oleaginosas, o maior segmento da empresa. Os primeiros cortes começaram no escritório suíço da ADM, sede europeia da empresa, e estenderam-se posteriormente aos EUA.

Cada região recebeu metas de redução específicas impostas pelo novo CFO Monish Patolawala, recrutado em julho de 2024, pouco depois do surgimento das investigações financeiras que abalaram a administração da empresa.

Escândalo contábil e investigações criminais

A ADM continua sob escrutínio devido a irregularidades contabilísticas identificadas no final de 2023, que deram origem a várias investigações nos EUA, incluindo uma de natureza criminal. O escândalo prejudicou gravemente a confiança do mercado: as ações da empresa caíram quase 30% desde janeiro de 2024.

Apesar disso, a empresa reafirmou a sua projeção de lucro anual ajustado entre $4 e $4,75 por ação em 2025, embora tenha admitido que o resultado final ficará provavelmente na extremidade inferior desse intervalo. Se confirmado, será o terceiro ano consecutivo de queda de lucros.

Segmentos pressionados, com exceção da nutrição

O segmento agrícola e de oleaginosas, que representa o coração operacional da ADM, viu o lucro operacional encolher 52% no primeiro trimestre. O setor de soluções de hidratos de carbono também teve um desempenho fraco, com queda de 3% nos lucros, apesar de alguma recuperação nos resultados de bioenergia (etanol).

O único segmento com crescimento foi a área de nutrição, com uma subida de 13% no lucro operacional, ajudada pela redução de custos e desempenho sólido em ingredientes especializados.

Conclusão

A ADM enfrenta em 2025 um dos contextos mais adversos da sua história recente, com tarifas internacionais, um escândalo financeiro e um ambiente agrícola global pouco favorável a convergirem num mesmo ciclo. A resposta da empresa passa por redução agressiva de custos, reestruturação de equipas e aposta seletiva em segmentos mais rentáveis como nutrição e bioenergia.

Ainda assim, os riscos permanecem elevados, tanto do lado regulatório como operacional. A capacidade da ADM de estabilizar os seus resultados dependerá da gestão da sua reputação, da normalização do comércio global e da rapidez com que conseguir reequilibrar as suas operações face ao novo cenário macroeconómico.