Economia da Alemanha mostra sinais mistos entre recuperação industrial e pressão das tarifas

Produção e encomendas industriais dão sinais de alívio

Após mais de dois anos de contração, a indústria alemã apresentou crescimentos pontuais na produção e nas encomendas no primeiro semestre de 2025. Em março, a produção industrial subiu 3% face ao mês anterior, e as encomendas aumentaram 3.6%, sinalizando estabilização após um período prolongado de fraqueza. Também em maio, as encomendas do setor de engenharia avançaram 9% face ao ano anterior, embora beneficiando de uma base comparativa fraca.

Apesar destes avanços, analistas alertam que parte desta melhoria foi motivada por adiantamento de compras para evitar novas tarifas dos EUA, o que pode levar a nova desaceleração nos próximos meses.

Exportações enfrentam perda de competitividade

O setor exportador continua sob pressão. Após um início de ano impulsionado pelo “frontloading” antes das tarifas norte-americanas, as exportações caíram em maio e o Bundesbank assinalou uma perda de quota de mercado global por parte das empresas alemãs. As tarifas impostas pelos EUA, com impacto significativo no setor automóvel e de máquinas, estão a minar a competitividade externa, enquanto a procura global por alguns produtos industriais se mantém fraca.

Inflação e política monetária

A inflação abrandou para valores próximos da meta de 2% do ECB em maio, aliviando parte da pressão sobre o poder de compra, mas o consumo interno continua anémico. O abrandamento dos preços foi acompanhado por estabilidade relativa nos custos energéticos, mas a incerteza geopolítica e tarifária mantém os consumidores cautelosos.

Confiança dos investidores melhora, mas consumidores mantêm pessimismo

O índice ZEW de confiança dos investidores subiu mais do que o esperado em junho e julho, refletindo expectativas de estabilização económica e possível recuperação em 2026. Em contraste, os consumidores continuam pessimistas, influenciados por preocupações políticas internas, custos de vida e riscos no mercado de trabalho.

Perspetivas de crescimento e riscos

As previsões para 2025 variam entre estagnação e uma contração de 0.3%, segundo diferentes instituições económicas. O Conselho Alemão de Peritos Económicos salienta que a economia atravessa uma “fase pronunciada de fraqueza” e que as tarifas norte-americanas são um risco central para o desempenho exportador. A taxa de desemprego aproxima-se dos 3 milhões de pessoas, o valor mais elevado da última década.

Estímulos fiscais e aposta na competitividade

O governo aprovou um pacote de alívio fiscal de 52 mil milhões de dólares para empresas e um plano de investimento de 500 mil milhões de euros em infraestruturas, que deverá ter efeitos mais visíveis a partir de 2026. O objetivo é reforçar a competitividade industrial, modernizar a rede de transportes e acelerar a transição energética.

Economistas alertam, contudo, que o impacto será gradual, dependendo da rapidez na execução orçamental e da capacidade de ultrapassar entraves burocráticos.

Conclusão

A economia da Alemanha vive um momento de transição frágil, com sinais de estabilização industrial e alguma melhoria no sentimento dos investidores, mas ainda fortemente condicionada por tarifas comerciais, perda de competitividade e consumo interno fraco. As medidas fiscais e de investimento criam perspetivas mais otimistas para 2026, mas o curto prazo continuará a ser marcado por crescimento limitado e elevada incerteza.