
Alemanha: Recessão prolongada e inflexão fiscal sob pressão política
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Economia da Alemanha. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 07 outubro 2025
- PIB alemão caiu 0,3% no 2.º trimestre, confirmando a terceira contração anual consecutiva, inédita no pós-guerra.
- Encomendas industriais recuaram 0,8% em agosto, marcando quatro meses seguidos de queda, com a procura externa a cair 5%.
- Inflação estabiliza em 2,1% (core 2,7%), mas o custo de vida e o desemprego acima dos 3 milhões limitam o consumo interno.
- O Orçamento de 2025, de 591 mil milhões EUR, marca uma viragem estrutural na política fiscal, com 116 mil milhões EUR em investimento e 2,4% do PIB destinados à defesa.
- Apoio ao partido AfD triplicou nas eleições regionais, enquanto o governo de Friedrich Merz enfrenta críticas pela lentidão nas reformas prometidas.
Nota de Contexto
A Alemanha, maior economia da Europa, atravessa uma das fases mais prolongadas de estagnação industrial e política económica ambígua das últimas décadas. Após dois anos de contração (2023 e 2024), o país entra em 2025 sem sinais claros de recuperação.
A combinação de tarifas norte-americanas, custos energéticos elevados, transição industrial incompleta e lentidão das reformas estruturais tem corroído a confiança empresarial e o potencial de crescimento. O novo governo de Friedrich Merz, empossado em maio, tenta reposicionar o país através de um vasto programa de investimento público e alívio fiscal seletivo, mas enfrenta divisões internas na coligação com o SPD e pressão crescente da extrema-direita (AfD).
1. Crescimento e Produção: o prolongamento da estagnação
O PIB contraiu 0,3% no 2.º trimestre de 2025, revisto em baixa face à estimativa inicial de -0,1%, com o comércio externo a contribuir negativamente pela primeira vez desde 2022.
- Exportações -0,1% t/t, penalizadas pela queda de 7,9% nas vendas aos EUA após a aplicação de tarifas de 15% sobre produtos europeus.
- Importações -0,1%, refletindo fraca procura interna.
- Investimento total -1,4%, com retração marcada na construção e em equipamento.
Apesar de medidas expansionistas, o Ministério da Economia reconheceu que “o que foi decidido não é suficiente para tornar a Alemanha competitiva novamente”.
As encomendas industriais recuaram 2,9% em julho e 0,8% em agosto, acumulando quatro meses consecutivos de descida.
O colapso foi mais acentuado na indústria automóvel (-6,7%) e no equipamento elétrico (-16,8%), enquanto o setor automóvel perdeu 51.500 empregos num ano, num total de 245 mil empregos industriais eliminados desde 2019.
2. Mercado de Trabalho e Confiança: sinais de fragilidade
O desemprego ultrapassou os 3 milhões em agosto, pela primeira vez em uma década, e subiu 14.000 em setembro, para 2,98 milhões, segundo dados do Bundesagentur für Arbeit.
A taxa ajustada manteve-se em 6,3%, mas as ofertas de emprego caíram 66 mil em termos anuais, para 630 mil vagas.
“O mercado de trabalho continua sem estímulos para uma recuperação mais forte”, declarou Andrea Nahles, chefe do instituto laboral alemão.
A moral empresarial do Ifo oscilou fortemente:
- Subiu em julho (88,6) e agosto (89,0) para o maior nível desde 2024,
- Mas voltou a cair em setembro (87,7), contrariando previsões e refletindo “um revés nas perspetivas de recuperação”, segundo Clemens Fuest.
O sentimento do consumidor (GfK) deteriorou-se pelo terceiro mês consecutivo, com o índice a cair para -23,6 em setembro, o valor mais baixo desde fevereiro. O receio de perder o emprego e a perceção de inflação persistente retraíram o consumo.
3. Preços e Política Monetária
A inflação alemã subiu para 2,1% em agosto, interrompendo o ciclo de desinflação, com a inflação subjacente a manter-se em 2,7% pelo terceiro mês consecutivo.
A inflação dos serviços permaneceu em 3,1%, e a dos bens acelerou para 1,3%, refletindo pressões de custos energéticos e efeitos indiretos das tarifas norte-americanas.
Apesar do leve aumento, os analistas mantêm o consenso de que o BCE não alterará as taxas diretoras até ao final do ano, dado que a inflação se mantém próxima do alvo de 2% e a economia “permanece em paragem técnica”.
4. Viragem Fiscal: o orçamento expansionista de 2025
Em setembro, o Bundestag aprovou o orçamento federal de 2025, o primeiro desde a reforma constitucional que flexibilizou as regras de endividamento.
O plano totaliza 591 mil milhões EUR, incluindo:
- 116 mil milhões EUR em investimento,
- 81,8 mil milhões EUR de novo endividamento,
- e 2,4% do PIB em defesa, ainda abaixo da nova meta da NATO de 3,5%.
O ministro das Finanças, Lars Klingbeil, classificou-o como “uma mudança de paradigma”, afirmando que “a Alemanha abandonou a era da austeridade”.
No entanto, a coligação enfrenta um défice projetado de 30 mil milhões EUR até 2027, e as discussões sobre cortes em prestações sociais já começaram.
5. Política e Reação Social
O governo Merz-SPD tem sido criticado por lentidão nas reformas estruturais e implementação limitada das promessas fiscais e energéticas.
Medidas como a redução do imposto elétrico e a flexibilização da lei das cadeias de abastecimento foram aprovadas parcialmente, enquanto as prometidas reduções fiscais mais amplas ficaram adiadas.
“O governo não pode continuar a esconder-se atrás de comissões e adiar decisões necessárias”, advertiu Rainer Dulger, presidente da BDA.
A lentidão reformista, somada à crise industrial, traduziu-se num salto eleitoral do partido de extrema-direita AfD, que triplicou o seu apoio para 16,5% nas eleições locais da Renânia do Norte-Vestefália.
O resultado é interpretado como um sinal de descontentamento com a política económica, num contexto em que 61% dos alemães esperam um agravamento das condições económicas até 2026.
6. Perspetivas para 2026–2027
Os cinco principais institutos económicos alemães (DIW, Ifo, IfW, RWI, IWH) projetam:
- Crescimento de 0,2% em 2025,
- 1,3% em 2026 e 1,4% em 2027, com inflação estável em 2%.
O desemprego deverá subir ligeiramente para 6,3% em 2026, antes de recuar para 5,6% em 2027, enquanto o aumento do rendimento real poderá reativar o consumo privado.
A Citi e o Commerzbank apontam para um “crescimento fraco, mas positivo” a partir do segundo semestre de 2026, sustentado por investimento público e reativação industrial gradual, embora os riscos políticos internos e externos continuem elevados.
Conclusão
A Alemanha entra no final de 2025 num ponto de inflexão:
o modelo industrial exportador tradicional encontra-se sob reestruturação, o mercado interno está fragilizado, e a governabilidade política tornou-se mais volátil.
O orçamento expansionista de 2025 é um passo decisivo para reanimar a economia, mas a ausência de reformas estruturais profundas, energia, fiscalidade, digitalização e mercado laboral, impede que o país capitalize plenamente o investimento público.
Enquanto isso, a erosão da confiança social e o avanço do AfD refletem o custo político da inação económica.
Sem aceleração tangível até meados de 2026, a Alemanha arrisca prolongar a “recessão silenciosa” que hoje define a sua posição no coração da Europa.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Economia da Alemanha, formato “Geral”, atualizado com informações até 07 de Outubro de 2025. Categorias: Economia. Tags: Economia, Alemanha, PIB)