DESTAQUES (28 de janeiro de 2025)

• PIB da Alemanha deverá contrair 0,1% este ano, marcando o terceiro ano consecutivo de declínio.
• Crise estrutural na indústria, com custos elevados de energia e incerteza económica a penalizarem o crescimento.
• Setor automóvel afetado, com a Volkswagen a anunciar cortes de custos para se manter competitiva.
• Ameaças de tarifas dos EUA podem agravar a recessão, levando a uma contração de até 0,5% em 2025.

Alemanha Rumo ao Terceiro Ano de Declínio Económico

A economia alemã enfrenta um cenário de crise prolongada, com o produto interno bruto (PIB) a cair 0,1% este ano, segundo previsões da associação industrial BDI. Se confirmado, este será o terceiro ano consecutivo de retração, um evento sem precedentes desde a reunificação da Alemanha na década de 1990.

Peter Leibinger, presidente do BDI, alertou que o crescimento da indústria sofreu uma quebra estrutural, sendo esta crise mais do que um simples reflexo da pandemia e da guerra na Ucrânia. Para ele, os problemas da economia alemã são internos e acumulam-se desde 2018, sem uma resposta eficaz por parte dos sucessivos governos.

A indústria automóvel, um dos pilares da economia alemã, também está a ser fortemente afetada. A Volkswagen anunciou cortes agressivos de custos para tentar manter a sua competitividade num setor cada vez mais pressionado.

Fatores que Pesam na Economia Alemã

A economia alemã enfrenta múltiplos desafios estruturais, entre os quais:

• Custos elevados da energia, que reduzem a competitividade da indústria.
• Taxas de juro ainda elevadas, que limitam o investimento e o consumo.
• Concorrência crescente de mercados externos, especialmente da China.
• Burocracia excessiva, que trava a inovação e a expansão das empresas.
• Incerteza política, que afeta a confiança dos investidores.

Além disso, os desentendimentos sobre como reanimar a economia contribuíram para o desgaste da coligação governamental, dificultando a implementação de políticas eficazes.

Propostas da BDI para Recuperação

Para Leibinger, a Alemanha precisa de um plano de recuperação urgente, baseado em:

• Investimento público em infraestruturas modernas para impulsionar a transformação económica.
• Redução da burocracia, para tornar as empresas mais ágeis e competitivas.
• Preços de energia mais baixos, essenciais para a recuperação industrial.
• Uma estratégia clara para inovação e investigação, garantindo que a Alemanha continua a ser um polo tecnológico.

Além disso, Leibinger defende que a Alemanha deve recuperar um papel de liderança na União Europeia, ajudando a tornar o bloco mais independente e estrategicamente sólido.

Ameaça das tarifas de Trump Pode Agravar Recessão

Outro fator que poderá aprofundar a crise económica alemã é a possível escalada das tensões comerciais com os EUA. O regresso de Donald Trump à Casa Branca e a sua retórica protecionista representam um risco direto para a indústria alemã, especialmente no setor automóvel e industrial.

Leibinger alertou que, se Trump avançar com tarifas todas que anunciou sobre produtos europeus, a economia alemã poderá encolher até 0,5% em 2025, em vez da atual previsão de -0,1%.

Para minimizar os riscos, o BDI defende que a Alemanha deve fortalecer a relação comercial com os EUA, destacando competências estratégicas únicas que tornem o país um parceiro essencial para Washington.

Conclusão

A Alemanha enfrenta uma crise económica prolongada e estrutural, com perspetivas de recessão pelo terceiro ano consecutivo. A indústria luta contra custos elevados, concorrência intensa e incerteza política, enquanto a falta de medidas governamentais eficazes tem dificultado a recuperação.

O cenário pode agravar-se com as novas políticas comerciais dos EUA, aumentando os riscos para a maior economia da Europa. O caminho para a recuperação exige reformas estruturais urgentes, investimentos estratégicos e uma política económica mais assertiva, para evitar que a Alemanha continue a ser um dos países mais frágeis da União Europeia nos próximos anos.