Argentina 2025: apoio dos EUA, vitória de Milei e mercados em rali, mas reservas e câmbio continuam no centro do risco
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a economia da Argentina. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 30 outubro 2025
- Swap cambial EUA–Argentina de 20 mil milhões USD assinado pelo BCRA; detalhes técnicos não divulgados por Washington. Peso fecha em mínimo histórico (1.475/USD) na véspera do acordo.
- Eleições intercalares (26 out) dão vitória ampla a Milei, reforçando mandato reformista e desbloqueando expectativas de aceleração de medidas. Ações +22% (Merval) e bónus +7 a +13 cêntimos; peso aprecia ~4% no dia seguinte.
- Pacote potencial de 40 mil milhões USD: além do swap de 20 mil milhões, Tesouro dos EUA trabalha num veículo de 20 mil milhões para dívida soberana; compras de pesos já efetuadas.
- Atualização 17 out: o Tesouro confirmou novas compras de pesos e, pela primeira vez, intervenção também no mercado “blue-chip swap”; o FMI assinalou que o apoio está a estabilizar e que tem mantido coordenação estreita. Nesse dia, o peso oficial caiu ~3,4% para ~1.450/USD, com NDF 1M ~1.446 e 3M ~1.690; o Tesouro não revelou montantes/calendário.
- Fitch: apoio dos EUA evitou downgrade; upgrade depende de plano credível para reconstrução de reservas FX.
- Desinflação em curso (estimativa 31,8% a/a em setembro; 2,1% m/m), mas pressões reguladas e dinâmica cambial podem reaquecer preços; orçamento 2026 projeta equilíbrio/superavit e PIB +5%.
Nota de Contexto
A Argentina entra no último trimestre de 2025 a meio de uma reforma económica liberal (foco em consolidação orçamental, desregulação e abertura comercial) conduzida por Javier Milei. Para estabilizar mercados e apoiar o programa, os EUA avançaram com um swap cambial de 20 mil milhões USD e preparam um veículo adicional de 20 mil milhões USD para dívida — um pacote inédito que inclui compras diretas de pesos no mercado. Em paralelo, a dinâmica política doméstica ganhou tração com a vitória nas intercalares, reduzindo risco legislativo e ancorando expectativas de continuidade reformista.
1) Política e apoio externo: desenho e condicionalidades
O BCRA anunciou a 20–21 outubro a assinatura do acordo de estabilização cambial com o Tesouro dos EUA, salientando que o mecanismo alarga o instrumentário de política e a liquidez das reservas; a comunicação americana manteve-se parca em detalhes, num contexto de forte volatilidade do peso e de eleições iminentes.
Dias antes e depois do anúncio, o Tesouro dos EUA confirmou compras de pesos e o trabalho num veículo de 20 mil milhões USD para investimento em dívida argentina, elevando o apoio potencial a 40 mil milhões USD e sustentando o sinal político de apoio ao programa de Milei.
— Compras de pesos renovadas e intervenção no mercado “blue-chip swap” confirmada pela primeira vez por responsáveis do Tesouro;
— o FMI (Nigel Chalk) afirmou que o apoio está a estabilizar e que a equipa do Fundo tem estado profundamente envolvida com o Tesouro e as autoridades argentinas;
— no próprio dia, o peso oficial recuou ~3,4% para ~1.450/USD (face ao fecho recorde anterior de ~1.474,5), com NDF 1M ~1.446 e 3M ~1.690;
— o Tesouro não divulgou os montantes nem o calendário das operações.
Implicação estratégica: o apoio externo compra tempo, mas não substitui a normalização do regime cambial nem a acumulação orgânica de reservas. A eficácia do swap e do veículo de dívida dependerá do calendário de reformas, da ancoragem fiscal e da gestão da transição cambial.
2) Eventos políticos: vitória de Milei e reprecificação de ativos
As intercalares de 26 outubro produziram uma vitória decisiva da La Libertad Avanza, interpretada como mandato para aprofundar a agenda de austeridade e liberalização. O apoio dos EUA foi politicamente condicionado ao progresso das reformas, com mensagens públicas de Donald Trump e de Scott Bessent alinhadas nesse sentido.
Os mercados reagiram com um rali generalizado: bónus +7 a +13 cêntimos, Merval +21,8%/dia, ADRs +19% a +32%, e peso a apreciar para ~1.430/USD no fecho (após pico intradiário mais forte). A leitura de “via verde” legislativa induziu queda do prémio de risco e reapreciação cambial.
Implicação estratégica: a vitória amplia a janela de execução para reformas (código laboral, privatizações, enquadramento FX). Para investidores, reduz risco de reversão e melhora a visibilidade de fluxos, mas o timing e o sequenciamento das medidas serão determinantes para a durabilidade do rali.
3) Inflação, câmbio e orçamento: o triângulo macro de 2026
A desinflação mostra tração: consenso apontou 2,1% m/m em setembro (1,9% em agosto) e 31,8% a/a, o mínimo de >7 anos; economistas destacaram que o pass-through cambial foi contido no mês, com maior risco em outubro dada a instabilidade do ARS.
O Projeto de Orçamento 2026 promete equilíbrio/superavit (1,5% do PIB), PIB +5%, e inflação 10,1% até final de 2026, com 85% da despesa alocada a educação, saúde e pensões (aumentos reais previstos).
Riscos e pontos de atenção:
- Câmbio: o peso atingiu mínimo histórico antes do swap (1.475/USD); vários analistas questionam sustentabilidade do regime atual (bandas, intervenções), o debate sobre ajuste/float permanece aberto.
- Reservas: sem reforço estrutural, a dependência de linhas externas implica risco de cliff; a Fitch vincula melhora de rating a plano de reservas.
- Sequenciamento de reformas: acelerar reformas pró-mercado pode consolidar expectativas e atrair IDE, mas choques cambiais podem reavivar a inércia inflacionista e erosão de rendimentos reais no curto prazo.
4) O papel dos EUA: intervenção e precedentes
A análise de Jamie McGeever (Reuters) caracteriza as compras diretas de pesos como um precedente pouco usual de intervenção cambial unilateral dos EUA num EM, gesto com racional geopolítico (disputa de influência com a China, que mantém swap de 18 mil milhões USD com a Argentina) e ideológico (apoio a políticas “pró-mercado”), mas arriscado face aos fundamentos FX.
A comunicação oficial de Bessent sustenta a narrativa de um “pacote de 40 mil milhões USD” e de uma espécie de “Doutrina Monroe Económica”, ancorada em SDRs/ESF e no incentivo a capitais privados via o veículo de dívida.
Leitura estratégica: o apoio dos EUA é condição necessária para estabilizar o curto prazo, mas não suficiente sem reformas cambiais e reconstrução de reservas que reduzam a dependência de “lifelines”.
Conclusão
A combinação vitória política + apoio dos EUA desencadeou uma reprecificação positiva dos ativos argentinos e abriu espaço para acelerar reformas. Contudo, a sustentabilidade deste ciclo dependerá de três entregas:
- Plano claro de reservas (reduzir intervenção defensiva e acumular FX),
- Transição ordenada do regime cambial (evitar saltos disruptivos de pass-through),
- Execução orçamental compatível com o equilíbrio/superavit de 2026, com comunicação crível para ancorar expectativas.
Se estes pilares forem cumpridos, o rali pós-eleitoral poderá estender-se, com compressão adicional de spreads e queda do risco-país. Caso contrário, a dependência de apoios extraordinários tenderá a reaparecer e com ela a volatilidade.
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