DESTAQUES (18 de fevereiro de 2025)

• O Banco da Reserva da Austrália (RBA) cortou a taxa de juro de referência em 25 pontos base, fixando-a em 4,1%, a primeira redução desde novembro de 2020.
• A decisão surge após a inflação do quarto trimestre de 2024 ter surpreendido pela positiva, desacelerando para 3,2%.
• O dólar australiano caiu 0,1%, para $0,6352, enquanto os futuros de obrigações a três anos recuaram cinco pontos.
• O governador do RBA, Michele Bullock, afastou a hipótese de novos cortes imediatos, descrevendo as expectativas do mercado como “irrealistas”.
• O Primeiro-Ministro Anthony Albanese, que enfrenta eleições até 17 de maio de 2025, poderá beneficiar politicamente da decisão.

Decisão do Banco Central e Reação do Mercado

O Banco da Reserva da Austrália (RBA) decidiu, a 18 de fevereiro de 2025, reduzir a taxa de juro de referência para 4,1%, um corte de 25 pontos base que representa o primeiro ajustamento descendente em mais de quatro anos. A última redução havia ocorrido em novembro de 2020, durante o pico da pandemia, quando as taxas caíram para um mínimo histórico de 0,1%.

O corte já era amplamente esperado pelos mercados, depois de os dados da inflação do quarto trimestre de 2024 terem mostrado um abrandamento para 3,2%, dentro da meta do banco central de 2%-3%. No entanto, a instituição manteve um tom prudente, alertando que ainda é cedo para considerar a batalha contra a inflação vencida.

A reação do mercado foi mista: o dólar australiano caiu 0,1%, para $0,6352, enquanto os futuros de obrigações a três anos desvalorizaram cinco pontos, refletindo a incerteza dos investidores quanto à trajetória futura das taxas.

Perspectivas Futuras e Declarações do RBA

Na conferência de imprensa, a governadora do RBA, Michele Bullock, afastou as expectativas de cortes agressivos nos próximos meses, afirmando que “a decisão de hoje não implica que novos cortes ao ritmo sugerido pelo mercado estejam garantidos”. Bullock reforçou que o banco precisa de mais evidências de que a inflação continua a desacelerar antes de avançar com novas reduções.

Embora a inflação tenha caído para 2,4% no quarto trimestre de 2024, e a métrica mais observada pelo banco – a média ajustada – tenha descido para 3,2% (vinda de 3,6%), o RBA alertou que pressões inflacionistas podem persistir no médio prazo devido ao forte mercado de trabalho. O desemprego manteve-se em 4,0% em dezembro de 2024, e só deverá subir ligeiramente para 4,2% nos próximos meses. A decisão do RBA contrasta com as políticas de outros bancos centrais globais. Enquanto a Reserva Federal dos EUA (Fed) parece estar a pausar os cortes, a Nova Zelândia deverá anunciar um corte de 50 pontos base no dia 19 de fevereiro de 2025.

Impacto na Economia e Reação Política

O corte nas taxas de juro é um alívio para os consumidores australianos, especialmente para os proprietários de imóveis, uma vez que os quatro maiores bancos do país reduziram as suas taxas de juro em 25 pontos base, acompanhando o movimento do banco central.

No entanto, a acessibilidade à habitação continua a ser um desafio, com os preços das casas a descerem dos níveis recorde registados nos últimos meses, mas ainda elevados face à capacidade financeira dos australianos.

O Primeiro-Ministro Anthony Albanese, que enfrenta eleições até 17 de maio de 2025, poderá tirar proveito político da decisão do RBA. Com a economia australiana a evitar uma recessão e a inflação sob controlo, aumentam as especulações de que o governo possa antecipar as eleições para capitalizar sobre estas condições favoráveis.

O Ministro das Finanças, Jim Chalmers, saudou a decisão do RBA, afirmando que o corte é um “passo positivo” para aliviar os encargos das famílias australianas. “Esta é a aterragem suave que previmos e para a qual nos preparamos, mas sabemos que ainda há trabalho a fazer”, disse Chalmers numa conferência de imprensa.

Previsões para os Próximos Meses

Os economistas permanecem divididos sobre a trajetória futura das taxas. O Commonwealth Bank of Australia descreveu o corte como um “alívio da pressão sobre o travão económico, e não um acelerador”, destacando que o baixo nível de desemprego permite ao banco central manter uma abordagem gradual na normalização da política monetária.

O analista sénior da Capital Economics, Abhijit Surya, acredita que o RBA fará apenas mais dois cortes durante este ciclo de flexibilização, já que a expectativa do banco é de uma retoma do consumo das famílias e um crescimento gradual da economia, o que pode impedir cortes mais agressivos.

Conclusão

O Banco da Reserva da Austrália deu o primeiro passo na flexibilização da política monetária, mas manteve uma abordagem prudente, reforçando que novos cortes dependerão da evolução da inflação e do mercado de trabalho.

A decisão é positiva para os consumidores e proprietários de imóveis, mas o banco central continua a enfrentar desafios significativos, nomeadamente o risco de inflação persistente e a necessidade de evitar cortes prematuros que possam reacender pressões inflacionistas.

Com as eleições iminentes, a política monetária do RBA poderá desempenhar um papel crucial no cenário político australiano, tornando os próximos meses decisivos para a economia e para o governo de Anthony Albanese.