RBA: Pressões Inflacionistas Persistentes Adiam Easing e Elevam Debate Sobre Restritividade da Política Monetária
Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária da Austrália (RBA). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights — 12 novembro 2025
- Inflação acima de 2–3% até meados de 2026, mesmo assumindo um corte adicional em 2026, segundo a própria RBA.
- Taxa diretora mantida em 3,6% nas reuniões de final de outubro e de 4 novembro, com mercados a afastar cenários de cortes antes de maio 2026.
- Core CPI de 1,0% no 3T, muito acima da previsão de ~0,6%, considerado um “material miss” pela governadora Bullock.
- Output gap positivo: economia a operar com procura acima do potencial, “a mais apertada desde os anos 1980”, segundo Hauser.
- Desemprego sobe para 4,5%, mas a RBA vê ainda “aperto significativo” no mercado laboral, mantendo prudência quanto ao ritmo de easing.
Nota de Contexto
A Reserve Bank of Australia (RBA) entrou em 2025 com um ciclo de flexibilização gradual após a inflação recuar substancialmente desde os picos pós-pandemia. No entanto, os dados divulgados no início do 4.º trimestre alteraram o enquadramento: a inflação voltou a acelerar acima do previsto, os indicadores de procura permanecem sólidos e o mercado imobiliário recuperou vigor. O banco central, liderado por Michele Bullock, encontra-se agora perante um equilíbrio delicado, conter pressões inflacionistas persistentes sem comprometer a recuperação económica. A estrutura da economia australiana, marcada por baixa produtividade, fraca expansão de capacidade e forte dependência de construção e serviços, tornou mais difícil a calibragem da política.
1. Enquadramento Macroeconómico e Resultados do 3T
A economia australiana iniciou a recuperação no ano passado, mas de forma atípica: a procura superava ligeiramente o potencial produtivo, situação que Hauser descreve como “a mais apertada desde o início da década de 1980”. Esta dinâmica implica que qualquer aceleração adicional da atividade pode gerar inflação adicional, mesmo sem estímulos monetários.
O CPI do 3.º trimestre de 2025 veio confirmar o risco:
- Headline: 3,2%, acima da banda alvo (2–3%).
- Core: +1,0% no trimestre, quando a RBA previa cerca de 0,6%.
A governadora Michele Bullock enfatizou que um valor de 0,9% já seria um “material miss” para as previsões, reforçando a preocupação com pressões subjacentes, sobretudo em serviços e construção.
O mercado de trabalho mostra sinais de arrefecimento, mas não suficientes para justificar easing agressivo:
- Desemprego: 4,5%, máximo de quatro anos, mas ainda compatível com um mercado “apertado” segundo Bullock.
- Hauser acrescenta que não há sinal de deterioração súbita (“no sign the labour market is about to fall off a cliff”), mantendo a leitura de resiliência.
2. Política Monetária: Risco de Restritividade Insuficiente e Fim Prematuro do Ciclo de Cortes
2.1 O ponto de viragem
A RBA realizou três cortes de juros em 2025, mas nos últimos meses o banco passou a admitir maior incerteza. Na reunião de 4 novembro, manteve a taxa a 3,6%, justificando-se com:
- inflação mais alta,
- procura interna mais forte,
- recuperação expressiva do setor imobiliário.
Bullock reconheceu que o ciclo de easing pode já ter terminado:
“It’s possible there’s no more rate cuts… we might not have to come down as far.”
O mercado alinhou-se rapidamente:
- Nenhum corte antes de maio 2026,
- Swaps precificam apenas ~17 bps de easing em 2026, contra ~20 bps antes dos dados de inflação.
2.2 Debate interno sobre a verdadeira restritividade
Hauser, em entrevista de 12 novembro, revelou que há “debate crescente” sobre se a taxa de 3,6% continua “marginalmente restritiva”:
“If it turns out we are no longer mildly restrictive, that has important implications for our future policy stance.”
Este ponto é crítico: se a política já não for restritiva, a trajetória de inflação poderá permanecer desalinhada da meta, exigindo uma pausa prolongada nos cortes ou até reconsideração futura.
3. Indicadores de Procura e Desequilíbrios Setoriais
O comportamento da procura complica a leitura da política monetária:
3.1 Crédito à habitação e imobiliário
- Novos empréstimos à habitação aumentaram ~18% no 3T, sinal de que as condições financeiras podem não ser tão restritivas quanto se pensava.
- Preços das casas subiram em outubro ao ritmo mais forte em >2 anos, alimentando preocupações sobre inflação imobiliária.
3.2 Sentimento do consumidor
- A confiança subiu de forma acentuada no início de novembro; Hauser classificou a leitura como “errática”, preferindo esperar por confirmações adicionais.
3.3 Produtividade e capacidade
A RBA alerta que a fraca produtividade é um risco para a credibilidade do processo desinflacionista:
“The economy needs more supply… if we fail, we may find ourselves boxed in on the rail.”
Sem aumento de capacidade e eficiência, a economia continuará altamente sensível à pressão da procura, dificultando qualquer ciclo prolongado de easing.
4. Perspetivas: Inflação Persistente e Alargamento dos Prazos de Ajuste
O enquadramento mais recente aponta para um horizonte mais longo de inflação acima da meta:
- A convergência para 2–3% só ocorrerá na segunda metade de 2026, segundo a RBA.
- Mesmo assumindo um corte adicional em 2026, as projeções colocam a inflação em 2,6%, acima do ponto médio (2,5%).
As previsões dos bancos australianos refletem esta incerteza:
- NAB espera taxa estável até maio 2026.
- CBA vê o ciclo de easing como terminado.
- Westpac projeta dois cortes em 2026, mas admite risco elevado.
O consenso sublinha que a inflação se tornou o principal fator a monitorizar, mais relevante do que o mercado de trabalho, que permanece resiliente.
Conclusão
A RBA encontra-se num dos momentos mais complexos da sua história recente. Após um ciclo inicial de cortes em 2025, os dados do 3.º trimestre revelaram forças inflacionistas mais persistentes do que o esperado, levando a instituição a suspender easing adicional e a reconhecer a possibilidade de que a política atual não seja suficientemente restritiva.
A economia australiana continua marcada por procura robusta, um mercado imobiliário reativado e um mercado laboral apenas moderadamente mais fraco. Esta combinação limita a margem de manobra da política monetária, enquanto a inflação permanece acima da meta durante mais tempo.
A estratégia da RBA dependerá agora de três eixos:
- avaliação da verdadeira restritividade da taxa atual,
- evolução da inflação subjacente,
- capacidade da economia em melhorar produtividade e expandir oferta.
O banco central mantém o objetivo de um “soft landing”, mas a rota tornou-se mais estreita. O risco dominante para 2026 é que a inflação permaneça demasiado resistente, forçando a RBA a prolongar o período de taxas estáveis e potencialmente a adiar ainda mais qualquer ciclo de easing.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Política Monetária da RBA, formato “Geral”, atualizado com informações até 12 de Novembro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, RBA, Banco Central, Taxa de Juro, Austrália)