DESTAQUES (1 de abril de 2025)

• O Banco da Reserva da Austrália (RBA) manteve a taxa de juro em 4,1%, após o corte de 0,25 pontos percentuais em fevereiro, o primeiro em mais de quatro anos.
• A declaração do banco central suprimiu referências explícitas à prudência em novos cortes, sugerindo uma ligeira inclinação dovish (favorável à flexibilização).
• A moeda australiana valorizou 0,3% após o anúncio, cotando-se a 0,6262 USD.
  • Os mercados de swaps passaram a refletir 60% de probabilidade de novo corte já na próxima reunião de maio.
• O contexto económico global, com foco numa potencial guerra comercial e instabilidade nos EUA, aumentou a cautela do banco central.

Contexto Monetário e Estratégia do Banco Central

Na reunião de 1 de abril de 2025, o RBA manteve a taxa diretora estável nos 4,1%, tal como amplamente esperado pelos mercados. Esta decisão segue-se ao corte de fevereiro de 2025, o primeiro desde 2020. Apesar de não haver nova redução, o comunicado da instituição revelou um tom mais acomodatício, omitindo passagens anteriores sobre os riscos em subir a inflação ou a necessidade de cautela antes de cortar novamente.

A governadora Michele Bullock esclareceu, em conferência de imprensa, que não foi discutido um novo corte nesta reunião, e que o tom mais dovish não significa que uma redução esteja garantida em maio. Destacou que o mercado de trabalho continua apertado, e que o banco espera dados adicionais sobre inflação e emprego antes de tomar nova decisão.

Evolução dos Indicadores e Reação do Mercado

A recente leitura da inflação para fevereiro mostrou-se benigna, aumentando a expetativa de que os dados trimestrais, a divulgar no final de abril, sejam suficientemente moderados para justificar um novo corte na reunião de maio. Estão previstos dois relatórios mensais de emprego antes dessa data, o que poderá ser decisivo para a próxima deliberação.

Após o anúncio do banco central, o dólar australiano valorizou 0,3%, enquanto os futuros de obrigações a três anos permaneceram estáveis. Os mercados de derivados passaram a descontar 60% de probabilidade de corte na próxima reunião, refletindo o aumento das expectativas de estímulo monetário.

Adam Boyton, economista-chefe do ANZ para a Austrália, interpretou a declaração como uma forma de o conselho manter flexibilidade nas suas futuras decisões. Ele prevê apenas mais um corte este ano, em agosto, mas alertou que uma maior instabilidade global poderá antecipar ou ampliar o ciclo de descida.

Implicações Políticas e Condições Internas

A decisão de abril, mantendo as taxas inalteradas, não oferece alívio imediato ao governo trabalhista liderado por Anthony Albanese, que enfrenta dificuldades nas sondagens devido ao custo de vida elevado e à crise na habitação. As eleições gerais estão marcadas para 3 de maio de 2025 e o governo esperava um possível impulso eleitoral com uma nova redução de juros.

Apesar da modesta subida de 0,2% nas vendas a retalho em fevereiro, os dados mostram que a procura do consumidor continua fraca, o que poderá reforçar a necessidade de estímulo adicional caso se mantenha esta tendência.

Riscos Externos e Incertezas Globais

O RBA alertou para os efeitos negativos do contexto internacional, especialmente as tensões comerciais crescentes após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar uma nova vaga de tarifas contra parceiros comerciais. A possível retaliação por parte da China, um dos principais destinos das exportações australianas de recursos naturais, poderá afetar diretamente o crescimento da economia australiana.

A governadora Bullock afirmou que a instituição está em contacto com outros bancos centrais de economias pequenas e abertas, para partilhar perspetivas e antecipar os próximos desenvolvimentos. Sublinhou ainda que, apesar de alguma recuperação da economia nacional, a incerteza global aumentou substancialmente, o que justifica uma abordagem prudente.

O banco indicou que os efeitos destes desenvolvimentos internacionais poderão afetar negativamente a atividade económica global. No entanto, o impacto nos preços permanece incerto, admitindo que a inflação “poderá mover-se em qualquer direção”.

Conclusão

A decisão do Banco da Reserva da Austrália de manter as taxas inalteradas em abril de 2025 revela uma estratégia de esperar para ver, enquanto monitoriza atentamente a evolução da inflação e do mercado laboral. O tom mais dovish do comunicado deixa a porta entreaberta para nova descida, possivelmente já em maio, mas sem compromissos firmes.

O contexto externo, especialmente os riscos de uma guerra comercial global – e os desafios domésticos, como o fraco consumo e a pressão política interna, estão a moldar a atuação do banco central. O equilíbrio entre prudência e proatividade será determinante para o rumo da política monetária nos próximos meses.