Mercado de trabalho canadiano: recuperação parcial em setembro após dois meses de forte contração

Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com o Emprego do Canadá. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.

Nota de Contexto

O mercado laboral do Canadá entrou em 2025 sob a pressão combinada de política comercial restritiva dos EUA e desaceleração global da indústria transformadora.
As tarifas impostas por Washington sobre aço, alumínio e automóveis fragilizaram o investimento e o emprego em províncias industriais como Ontário e Alberta, ao mesmo tempo que o setor dos serviços perdeu fôlego após o pico pós-pandemia.

1. Julho e agosto: o ponto mais baixo do ciclo

Entre julho e agosto, a economia canadiana perdeu mais de 106.000 empregos líquidos, o pior bimestre desde o início de 2022.

• Julho: -40.800 empregos, sobretudo entre trabalhadores permanentes; taxa de desemprego em 6,9%.
• Agosto: -65.500 empregos, elevando o desemprego para 7,1%, o valor mais alto desde 2016 (excluindo pandemia).

As perdas concentraram-se nos setores:

• Serviços profissionais, científicos e técnicos: -26.100 empregos.
• Indústria: -19.200 empregos.
• Transporte e logística: -22.700 empregos.

O impacto foi mais severo entre jovens (15–24 anos), cujo desemprego subiu para 14,6%, máximo desde 2010.
A taxa de participação caiu para 65,1%, o nível mais baixo desde a pandemia, refletindo desmotivação no mercado de trabalho.

O chefe economista do BMO, Doug Porter, resumiu o cenário:

“A economia está a lutar com a incerteza comercial e falta de confiança empresarial.”

2. Setembro: uma recuperação parcial e setorial

Em setembro, o mercado de trabalho surpreendeu positivamente, com 60.400 novos empregos, recuperando quase todas as perdas de agosto.

• O crescimento foi totalmente liderado por trabalho a tempo inteiro, distribuído por 10 de 16 setores analisados pela StatCan.
• Indústria: +27.800 empregos (+1,5%), primeira subida desde janeiro.
• Agricultura: +6,1%.
• Recursos naturais: +2,2%.
• Setor dos serviços: crescimento moderado, ainda 80% do total do emprego.

A taxa de desemprego manteve-se em 7,1%, evidenciando que o acréscimo de vagas não foi suficiente para absorver o aumento populacional.
A taxa de desemprego juvenil subiu para 14,7%, o nível mais alto em 15 anos, enquanto imigrantes sobrequalificados aumentaram de forma significativa, sinal de subutilização da força de trabalho.

3. Política monetária e implicações macroeconómicas

O Banco do Canadá já havia reduzido a taxa diretora em setembro para 2,5%, mas os dados de emprego de agosto reforçaram as apostas em nova descida este mês.
Segundo os money markets, a probabilidade de corte adicional de 25 pontos base ronda 72%.

A instituição admite que o mercado laboral continua a mostrar “folga crescente”, especialmente entre jovens e trabalhadores de setores exportadores.
Economistas da CIBC Capital Markets defendem que:

“A persistência de desemprego elevado e de fraca contratação justifica um novo corte de juros, apesar do pequeno alívio em setembro.”

O dólar canadiano reforçou-se 0,27% após a divulgação dos dados, mas a tendência de médio prazo permanece enfraquecida, refletindo expectativas de política monetária expansionista.

4. Estrutura salarial e inflação

O salário médio horário de trabalhadores permanentes manteve um crescimento anual de 3,6%, em linha com agosto e acima da média histórica de 2,8%.
Este indicador é monitorizado de perto pelo Banco do Canadá, pois é proxy da pressão salarial sobre a inflação de serviços.

Embora o crescimento salarial esteja a estabilizar, a produtividade estagnada impede uma recomposição real dos rendimentos.
O ganho médio atingiu 37,87 CAD/hora, confirmando que a inflação salarial não é o principal motor da persistência inflacionária, mas continua incompatível com a meta de 2% de preços a médio prazo.

5. Perspetiva para o 4.º trimestre

Os dados sugerem que o mercado laboral canadiano entrou numa fase de estagnação técnica, em que o crescimento do emprego é insuficiente para reduzir o desemprego.

Cenário provável (Q4 2025):

• Criação líquida mensal média próxima de 20–25 mil empregos.
• Desemprego estabilizado entre 7% e 7,2%.
• Cortes adicionais de juros até 2,25% até dezembro.
• Fragilidade estrutural no setor industrial e exportador, ainda dependente do alívio tarifário norte-americano.

A recuperação dependerá da eventual moderação das tarifas dos EUA sobre aço e automóveis e da resposta fiscal interna até agora, limitada.

Conclusão

O mercado de trabalho do Canadá mostrou resiliência parcial em setembro, mas a manutenção do desemprego em máximos de nove anos confirma que a economia continua sob stress comercial e monetário.
As flutuações mensais refletem uma fragilidade estrutural do emprego industrial, agravada por uma política tarifária norte-americana que continua a restringir o investimento.

O Banco do Canadá enfrenta agora o desafio de suavizar a desaceleração sem reaquecer a inflação, num contexto em que o país vive o maior período de desemprego prolongado desde 2016.
A criação líquida positiva de setembro é bem-vinda, mas insuficiente para inverter a tendência: o mercado laboral canadiano permanece em zona de vulnerabilidade, dependente da política comercial dos EUA e da eficácia dos próximos estímulos monetários.