DESTAQUES (18 de fevereiro de 2025)

• A taxa de inflação anual do Canadá subiu para 1,9% em janeiro de 2025, face aos 1,8% de dezembro, impulsionada pelo aumento dos preços dos combustíveis e do gás natural.
• Sem a isenção de imposto sobre vendas, os preços ao consumidor teriam aumentado a um ritmo de 2,7% em janeiro.
•  As medidas de núcleo da inflação (CPI-median e CPI-trim) subiram para 2,7%, apontando para pressões inflacionistas subjacentes.
•  O dólar canadiano enfraqueceu 0,13% face ao dólar americano, negociando a 1,4199 CAD/USD.
•  Mercados reduzem apostas num corte da taxa de juro pelo Banco do Canadá (BoC) em março, com probabilidade de manutenção agora estimada em 63%.

Inflação e Impacto no Mercado Financeiro

A inflação anual do Canadá subiu ligeiramente para 1,9% em janeiro de 2025, segundo os dados divulgados pela Statistics Canada. Este aumento foi impulsionado pelos preços mais elevados da gasolina (8,6%) e do gás natural (4,8%), que anularam parcialmente o impacto da isenção temporária do imposto sobre vendas em diversos bens essenciais. Apesar deste aumento, a inflação geral manteve-se pelo sexto mês consecutivo dentro do intervalo-alvo do Banco do Canadá (1%-3%), mas a tendência de aumento das medidas de núcleo da inflação levou os mercados financeiros a reverem as expectativas para futuras decisões da autoridade monetária.

Os dados de inflação diminuíram a probabilidade de um corte na taxa de juro do BoC em março, com os mercados agora a precificarem uma chance de 63% de manutenção, contra os 56% antes da divulgação do relatório de inflação. Além disso, o economista Andrew DiCapua, da Câmara de Comércio Canadiana, destacou que a combinação de inflação forte e retoma económica poderá levar o banco central a manter as taxas inalteradas para avaliar o impacto das políticas já implementadas.

O dólar canadiano desvalorizou 0,13% na terça-feira, sendo negociado a 1,4199 CAD/USD (70,43 cêntimos americanos), enquanto os juros das obrigações governamentais a dois anos subiram 6,8 pontos base para 2,797%, refletindo a reavaliação das expectativas do mercado.

Efeito da Isenção Fiscal e Tendências do Consumo

O governo canadiano anunciou, em dezembro de 2024, uma isenção temporária do imposto sobre vendas em diversos produtos essenciais, como alimentos, bebidas, refeições em restaurantes e vestuário infantil, com vigência até fevereiro de 2025. Esta medida ajudou a reduzir a inflação global, mas mascarou parcialmente a verdadeira pressão sobre os preços.

Como resultado, o preço dos alimentos caiu 0,6% em janeiro, marcando a primeira descida anual desde maio de 2017. O maior impacto foi sentido nos preços das refeições em restaurantes, que registaram uma queda recorde de 5,1%. No entanto, sem o efeito desta isenção fiscal, a inflação teria sido significativamente superior (2,7%), indicando que o aumento dos preços permanece uma preocupação para os decisores políticos.

Medidas de Núcleo da Inflação e Perspectivas do Banco do Canadá

Os economistas afirmam que a isenção fiscal distorceu os números da inflação global, tornando as medidas de núcleo (core inflation) um indicador mais fiável da tendência dos preços ao consumidor.

As duas principais medidas utilizadas pelo Banco do Canadá – CPI-median e CPI-trim – subiram ambas para 2,7% em janeiro, face aos 2,6% e 2,5% registados em dezembro, respetivamente.

A pressão inflacionista subjacente foi impulsionada por aumentos nos preços do combustível (8,6%), subida dos preços do gás natural (4,8%) e a primeira alta anual dos preços dos veículos ligeiros em oito meses. Estes fatores indicam que, mesmo com a inflação geral controlada, o Banco do Canadá pode enfrentar desafios para manter a sua trajetória de redução das taxas de juro.

Desde o final de 2024, o BoC implementou o ciclo de afrouxamento monetário mais agressivo entre os países do G7, reduzindo a taxa de referência para 3%. No entanto, a persistência de pressões inflacionistas poderá levar o banco central a uma postura mais cautelosa nos próximos meses.

Conclusão

A inflação do Canadá permaneceu controlada em 1,9% em janeiro de 2025, mas os dados subjacentes apontam para pressões inflacionistas persistentes. O impacto da isenção fiscal temporária ajudou a reduzir a inflação global, mas as medidas de núcleo (CPI-median e CPI-trim) sugerem que os preços continuam a subir de forma consistente, especialmente no setor da energia e transportes.

A incerteza em torno da política monetária do Banco do Canadá aumentou, com os mercados agora a reduzirem as apostas num corte da taxa de juro em março. Se a tendência de inflação persistir, o BoC poderá optar por manter as taxas inalteradas por mais tempo, avaliando se as políticas atuais são suficientes para equilibrar o crescimento económico e o controlo da inflação.