Bank of Canada: Entre Pressões de Crescimento e Inflação Persistente, O Fim da Margem para Cortes
Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária do Canadá. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights — dados até 13 novembro 2025
- 29 outubro 2025: BoC reduz a taxa diretora de 2,50% → 2,25%, o segundo corte consecutivo num contexto de crescimento frágil.
- Inflação: CPI volta a acelerar para 2,4% em setembro; o núcleo permanece acima de 3%, limitando qualquer flexibilização adicional.
- Economia: o Canadá contrai –1,6% no 2.º trimestre e cresce apenas 0,5% no 3.º trimestre, penalizado pelas tarifas americanas.
- Mercado laboral: desemprego persistente perto de 7,1%, com empresas sem planos de contratação ou investimento significativo.
- BoC mantém taxas em 2,25%, reconhecendo que a economia permanece “soft” e que a inflação só deverá regressar ao meio da banda em 2026.
Nota de Contexto
O Bank of Canada (BoC) opera com um mandato simples e direto: manter a inflação estável na banda 1%–3%, preferencialmente perto do seu ponto médio.
Ao contrário de bancos centrais com mandato duplo, o BoC não persegue explicitamente objetivos de pleno emprego ainda que, na prática, o mercado laboral determine grande parte das suas decisões.
A taxa de juro “neutral”, segundo o próprio banco, situa-se entre 2,25% e 3,25%. Em 2025, a combinação de inflação persistente e crescimento fraco coloca o BoC numa situação singular: qualquer movimento em direção ao estímulo monetário arrisca reaquecer a inflação, enquanto uma pausa prolongada pode aprofundar a desaceleração económica.
Este ambiente é agravado por um fator exógeno determinante: as tarifas impostas pelos EUA, que atingiram exportações canadianas de aço, alumínio, automóveis e madeira, afetando procura externa, investimento e emprego.
1. A Retoma da Incerteza: Inflação Reacende às Portas do Outono
O ponto de partida do ciclo de decisões do outono foi a surpresa na inflação.
Depois de meses de alívio, o CPI de setembro voltou a subir para 2,4%, acima dos 1,9% de agosto, enquanto a inflação núcleo (descontando componentes voláteis) manteve-se acima de 3%.
O problema central para o BoC é que esta subida não resulta de um choque isolado; ela surge enquanto a economia enfraquece. Empresas relatam procura inconsistente, volumes de encomendas fracos e um ambiente de contratação praticamente congelado.
Para um banco central que pretende cortar, este é o pior cenário possível:
crescimento fraco + inflação alta = margem de manobra reduzida.
2. O Peso das Tarifas dos EUA: A Contração do 2.º Trimestre e a Fragilidade do 3.º
O Canadá tem sido um dos países mais afetados pelo endurecimento da política comercial dos EUA em 2025.
A administração norte-americana introduziu ou reforçou tarifas sobre:
- aço
- alumínio
- automóveis
- madeira
A consequência foi imediata:
- contração de –1,6% no 2.º trimestre (dados anualizados)
- crescimento de apenas 0,5% no 3.º trimestre, demasiado fraco para reduzir o desemprego
Quando Trump suspendeu todas as negociações comerciais e ameaçou novas tarifas, a pressão sobre o BoC intensificou-se.
Os mercados começaram a incorporar a expectativa de um corte como forma de amortecer o choque externo, com probabilidades que subiram de 70% → 82% entre o início e meados de outubro.
3. O Momento Macklem: Um Banco Central que Volta aos Modelos, Mas com Cautela
A 17 de outubro, o governador Tiff Macklem deu o primeiro sinal formal de mudança de tom.
Depois de meses sem projeções formais para economia e inflação, devido à incerteza criada pelas tarifas, o BoC anunciou que retomaria as single-point forecasts no Monetary Policy Report.
Macklem foi explícito:
“Temos de ser humildes nas previsões e manter o foco nos riscos.”
Este comentário, aparentemente modesto, marcou uma viragem importante: o BoC voltava a olhar para o futuro com estrutura, mesmo num ambiente de incerteza.
Ao mesmo tempo, indicava que a decisão de outubro teria em conta:
- o business outlook survey.
- o relatório de inflação,
- e o cenário de fragilidade persistente.
Era a preparação para o corte.
4. O Corte Chega e Marca o Limite Inferior da Neutralidade
Os mercados não se enganaram.
Com mais de 90% de probabilidade implícita nas swaps de taxa, o BoC cortou 25 pontos base, reduzindo a taxa diretora de 2,50% → 2,25%.
Este corte teve três características fundamentais:
4.1 Foi defensivo, não expansivo
O objetivo não era estimular crescimento, mas evitar maior deterioração causada pelas tarifas e pela perda de confiança das empresas.
4.2 Colocou a taxa no limite inferior do intervalo neutral
A partir deste nível, qualquer movimento adicional seria considerado “estímulo” direto, difícil de justificar com core inflation >3%.
4.3 Sinalizou que a margem para cortar estava praticamente esgotada
Vários economistas nas sondagens de outubro avisaram:
“Cortar abaixo de 2,25% será difícil.”
O BoC sabia isso.
5. Pausa, Prudência e a Admissão de que a Inflação Domina Tudo
A taxa permaneceu em 2,25%, e o banco foi direto:
“A economia continua soft e o mercado laboral mostra sinais de fraqueza.”
Ao mesmo tempo, não suavizou a mensagem sobre preços:
“Core inflation permanece teimosamente acima da nossa banda alvo.”
Pela primeira vez desde a reativação das forecasts, o BoC apresentou projeções completas:
- Crescimento:
- 1,2% em 2025
- 1,3% em 2026
- Inflação:
- apenas regressará ao meio da banda em 2026
- Desemprego:
- permanece perto de 7,1% até final de 2025
- melhora marginalmente em 2026
A leitura é clara: o banco vê dois anos de travessia difícil, mas não catastrófica.
Conclusão
O Bank of Canada entrou no final de 2025 com a política monetária num ponto em que:
- um corte adicional reacenderia inflação,
- uma subida estrangularia uma economia já debilitada,
- e uma pausa prolongada é a única via prudente.
A geopolítica comercial e não apenas os dados internos, torna-se o principal risco: novas tarifas dos EUA podem prolongar a fraqueza do investimento e pressionar exportações; por outro lado, o abrandamento global da inflação permitirá algum alívio gradual no núcleo, mas não no imediato.
Os próximos trimestres dependerão de três variáveis:
- Evolução das tarifas e das relações EUA–Canadá, hoje a maior fonte de incerteza.
- Trajetória da inflação núcleo, que ainda impede qualquer flexibilização adicional.
- Capacidade das empresas de retomarem investimento e contratação, hoje em mínimos.
A mensagem que emerge dos dados e da comunicação do BoC é simples, mas poderosa:
2,25% não é apenas a taxa atual, é a fronteira entre estabilizar a economia e arriscar reacender as pressões inflacionistas.
E, por enquanto, essa fronteira é intransponível.
Visite o Disclaimer para mais informações.
Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Política Monetária do BoC (Canadá), formato “Geral”, atualizado com informações até 13 de Novembro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, BoC, Banco Central, Taxa de Juro, Canadá)