Daimler Truck enfrenta 2025 sob pressão tarifária e procura em queda — margens e empregos sob revisão

Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Daimler Truck. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta empresa e consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.

Nota de Contexto

A Daimler Truck Holding AG, com sede em Leinfelden-Echterdingen (Alemanha), é um dos maiores fabricantes mundiais de veículos pesados, detendo marcas como Mercedes-Benz Trucks, Freightliner, Western Star, Fuso e BharatBenz.
Desde a cisão da Daimler AG em 2021, a empresa atua de forma independente, com foco em rentabilidade, eletrificação e mercados-chave — sobretudo América do Norte (c. 40% das vendas), Europa e Ásia.

A estratégia atual privilegia eficiência operacional e resiliência industrial num ciclo adverso de procura e com forte impacto das políticas comerciais dos EUA.

1. Resultados Financeiros — 1.º semestre de 2025

O exercício de 2025 marcou uma inversão de ciclo para a Daimler Truck.
No 1.º trimestre, a empresa registou uma queda de 8% nas vendas, para 99.812 unidades, face às 108.911 do período homólogo.

• Trucks North America: -16%.
• Mercedes-Benz Trucks: -18%.
• Trucks Asia: +16%, único segmento com crescimento.

A desaceleração foi atribuída à contração da procura norte-americana e ao início dos efeitos indiretos das tarifas impostas sobre produtos industriais.

Em maio, o grupo cortou a previsão de EBIT ajustado para 2025, de um crescimento entre +5% a +15% para um intervalo entre -5% e +5%, refletindo “incerteza crescente da procura” e volatilidade no comércio internacional.

2. Drivers Operacionais e Estrutura de Custos

O CFO Eva Scherer afirmou, em agosto, que os impactos indiretos das tarifas norte-americanas deverão custar à empresa um montante no “baixo intervalo de centenas de milhões de euros” durante 2025, distribuídos entre o 3.º e 4.º trimestres.

“As tarifas não nos atingiram tanto ainda no segundo trimestre, mas terão pleno efeito no segundo semestre”, disse Scherer, explicando que parte será absorvida internamente e parte repercutida nos preços ao cliente.

A empresa mantém proteção parcial via o acordo USMCA, que cobre a produção nos EUA, México e Canadá, mas a exposição indireta através de cadeias de fornecimento e componentes importados permanece relevante.

Como resposta, a Daimler Truck anunciou:

• Corte de 2.000 empregos nas fábricas dos EUA e México;
• Corte adicional de 5.000 postos na Alemanha, dentro do plano de redução estrutural;
• Reforço dos programas de eficiência industrial e digitalização nas unidades de montagem e logística.

A empresa reduziu também o guidance de EBIT ajustado para 3,6–4,1 mil M€, uma descida significativa face ao consenso de 4,15 mil M€.

3. Impacto Tarifário e Repercussão no Setor

O 26 de setembro trouxe novo choque externo: Donald Trump anunciou tarifas de 25% sobre camiões pesados importados, com entrada em vigor a 1 de outubro de 2025.
A medida afetou diretamente a perceção de risco sobre a Daimler Truck e a sua concorrente Traton (Volkswagen Group):

• Ações da Daimler Truck -2%;
• Traton -2,4%.

A associação automóvel alemã (VDA) classificou a medida como “incompreensível”, alertando para o impacto negativo sobre investimento e emprego.

O Citi estimou um impacto potencial de 700–800 M€ nos lucros anuais da Daimler Truck, valor que a empresa poderá compensar parcialmente através de aumentos de preço.
A incerteza, contudo, persiste quanto à aplicação das tarifas a fábricas mexicanas cobertas pelo USMCA e à possibilidade de acumulação (“stacking”) de tarifas setoriais e geográficas.

Enquanto isso, o grupo sueco Volvo, que produz todos os seus camiões nos EUA, ganhou 3,5% em bolsa, beneficiando da nova vantagem competitiva.

4. Perspetivas e Guidance Atualizado

A Daimler Truck encara o 2.º semestre de 2025 com uma estratégia defensiva, centrada na proteção de margens e fluxos de caixa.
A empresa espera que os custos tarifários e logísticos atinjam o pico entre o 3.º e 4.º trimestre, com possibilidade de recuperação gradual em 2026 se as políticas comerciais se estabilizarem.

O guidance atual combina:

• EBIT ajustado entre 3,6–4,1 mil M€,
• Crescimento global de volumes entre -5% e 0%,
• Racionalização adicional da capacidade de produção na América do Norte,
• Foco em eletrificação e digitalização, especialmente nas gamas Freightliner e Mercedes eActros.

O ambiente macroeconómico e o ciclo de investimento industrial permanecem os principais condicionantes da procura.

Conclusão

O exercício de 2025 está a revelar-se o mais desafiante desde a separação da Daimler AG, testando a resiliência operacional da Daimler Truck.
A conjugação de queda de volumes, inflação de custos e políticas tarifárias agressivas levou a dois cortes de guidance em menos de quatro meses.

Apesar disso, a empresa mantém uma postura estratégica coerente, baseada em:

• Controlo de custos rigoroso,
• Flexibilidade industrial entre unidades europeias e americanas, e
• Capacidade de repassar parte dos aumentos de custos aos clientes finais.

A curto prazo, o foco é defender margens e preservar liquidez; a médio prazo, o desafio será reconstruir volumes e confiança do mercado norte-americano, cuja desaceleração continua a ser o maior travão para o desempenho global do grupo.

Se o contexto tarifário se mantiver até 2026, a Daimler Truck poderá emergir mais compacta, mais eficiente, mas também com menor pegada produtiva fora dos EUA, marcando uma mudança estrutural no mapa industrial europeu.