
Fed: divergência interna cresce após corte de setembro e pressões políticas intensificam-se
Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária dos EUA (FED). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights — 30 setembro 2025
- Fed corta taxa diretora em 0,25 p.p. para o intervalo 4,00%–4,25%, o primeiro movimento desde dezembro de 2024.
- Divisão acentuada entre dirigentes: Miran defende cortes drásticos até 2%, enquanto Goolsbee e Collins pedem prudência.
- Jefferson alerta para fragilidade do mercado laboral, estimando crescimento de 1,5% até final do ano.
- Collins admite mais cortes “dependendo dos dados”, com inflação ainda acima dos 2% mas em trajetória descendente.
- A independência da Fed volta ao centro do debate, com pressões políticas diretas da administração Trump e o tema das linhas de swap em dólares sob escrutínio.
Nota de Contexto
A Federal Reserve é o banco central dos Estados Unidos, responsável por conduzir a política monetária, supervisionar o sistema financeiro e garantir estabilidade de preços e pleno emprego. O seu órgão decisor, o Federal Open Market Committee (FOMC), define a taxa de juro de referência, atualmente alvo de forte debate político. Desde o regresso de Donald Trump à Casa Branca, a independência da Fed tem sido repetidamente questionada, quer por tentativas de substituição de membros, quer por pressão direta sobre o ritmo dos cortes de taxa.
1. Política monetária e debate interno
O corte de 0,25 pontos percentuais decidido a 17 de setembro foi justificado como uma medida de gestão de riscos: apoiar o emprego sem perder de vista a inflação ainda acima dos 2%. No entanto, a decisão expôs uma clivagem inédita dentro do FOMC.
O governador Stephen Miran, recém-nomeado por Trump, defendeu uma redução imediata das taxas para 2%, argumentando que a política atual é “excessivamente restritiva” e ameaça provocar uma recessão. Para Miran, as políticas da administração, tarifas comerciais, restrições migratórias e estímulos fiscais, estão a baixar a taxa neutra, justificando cortes rápidos e profundos.
Outros dirigentes, porém, adotaram um tom marcadamente mais prudente:
- Austan Goolsbee (Chicago Fed) sublinhou que cortar antes de confirmar a tendência da inflação “seria um erro”, classificando a atual postura como moderadamente restritiva, mas não excessiva.
- Susan Collins (Boston Fed) apoiou o corte de setembro e mostrou-se aberta a novos cortes, mas apenas “dependendo dos dados”.
- Philip Jefferson (vice-chair) votou a favor do corte, reconhecendo a fragilidade crescente do mercado laboral e a necessidade de equilibrar riscos entre inflação e emprego.
Esta divisão reflete duas leituras distintas do momento económico:
- Miran e aliados políticos consideram que o ambiente de forte desinflação estrutural e políticas restritivas da administração justificam juros baixos rapidamente.
- A maioria do FOMC, liderada por Powell, Jefferson e Goolsbee, vê a inflação ainda resiliente, preferindo ajustes graduais e dependentes de dados.
2. Inflação, tarifas e taxa neutra
A inflação, embora em desaceleração, permanece cerca de 1 p.p. acima da meta. A imposição de novas tarifas sobre bens de consumo e mobiliário ainda não se traduziu num choque generalizado de preços, mas a Fed mantém-se vigilante.
Miran argumenta que as tarifas têm efeito neutro ou desinflacionista, por reduzirem a procura agregada e a taxa neutra. Contudo, estudos citados pelos seus críticos sugerem o oposto: a desglobalização e a procura de capital associada à inteligência artificial podem elevar as taxas neutras globais — cenário incompatível com a tese de Miran.
Goolsbee acrescenta que o impacto da imigração nas pressões inflacionistas é provavelmente pró-inflacionista, dado o peso da mão-de-obra imigrante nos serviços e habitação. Assim, uma redução acentuada da imigração poderá aumentar os custos em vez de os reduzir, contrariando a visão de Miran.
3. Mercado laboral e crescimento
Os dados mais recentes indicam arrefecimento gradual do mercado laboral:
- Jefferson prevê crescimento do PIB em 1,5% até final do ano e alerta que, sem apoio da Fed, o emprego pode “enfrentar stress”.
- Collins fala num ambiente “altamente incerto”, mas mantém uma perspetiva benigna, esperando retorno gradual da inflação à meta em 2026.
- Goolsbee observa “ligeiro abrandamento, não colapso” no emprego e destaca a força inesperada do investimento empresarial, sugerindo que a economia continua a resistir bem ao nível atual de taxas.
A divergência reside, portanto, não tanto na leitura dos dados, mas no horizonte temporal de risco: Miran vê recessão iminente; os restantes preferem aguardar confirmação.
4. Pressão política e independência institucional
O tema da independência da Fed reacendeu-se com força após as tentativas do governo Trump de remover a governadora Lisa Cook e de instalar Stephen Miran como voz pró-cortes dentro do board.
Em paralelo, um artigo de Jamie McGeever (Reuters) destacou como a administração poderá usar as linhas de swap em dólares, canais de liquidez entre bancos centrais, como ferramenta geopolítica.
Enquanto a Argentina (aliada de Trump) pode beneficiar de uma linha de swap, a Coreia do Sul enfrenta hesitações num acordo comercial de 350 mil milhões USD, expondo potenciais critérios políticos na concessão destes instrumentos.
Analistas do Deutsche Bank e da Bank of America recordam que apenas o FOMC e o Congresso podem formalmente alterar estas linhas. Contudo, a pressão moral e as nomeações estratégicas do executivo estão a reconfigurar a fronteira entre política monetária e política externa.
Conclusão
A Fed entra no quarto trimestre de 2025 dividida entre ortodoxia prudente e política intervencionista.
Os dirigentes de linha tradicional, Powell, Jefferson, Collins, Goolsbee, defendem uma política calibrada e dependente dos dados, mantendo o foco na credibilidade institucional.
Miran, pelo contrário, introduz uma narrativa de “Fed subordinada à estratégia económica de Trump”, baseada na ideia de uma taxa neutra estruturalmente mais baixa.
A tensão é dupla: interna, entre visões económicas divergentes; e externa, entre a Fed e o poder executivo.
Se as próximas leituras de inflação confirmarem moderação, a instituição poderá justificar um novo corte modesto em dezembro. Mas se o mercado laboral deteriorar-se mais depressa, a pressão política por cortes agressivos intensificar-se-á, colocando à prova, mais uma vez, o equilíbrio histórico entre autonomia técnica e interferência política na política monetária dos Estados Unidos.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Política Monetária nos EUA (FED) Discursos de Membros, formato “Geral”, atualizado com informações até 30 de Setembro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, FED, Banco Central, Taxa de Juro, EUA)