DESTAQUES (13 de março de 2025)

• Preços na produção nos EUA mantiveram-se inalterados em fevereiro, após sete meses consecutivos de aumentos.
• Pedidos de subsídio de desemprego caíram na última semana, apontando para um mercado de trabalho estável.
• Cortes drásticos na despesa pública e a escalada da guerra comercial podem prejudicar a economia nos próximos meses.
• Ações de companhias aéreas caíram, refletindo a incerteza económica e a retração dos gastos corporativos.
• Reserva Federal deverá manter as taxas de juro entre 4,25%-4,50% na reunião de 19 de fevereiro de 2025.

Estabilidade na Inflação, mas Sinais de Risco no Horizonte

A economia norte-americana mostrou sinais de estabilidade em fevereiro de 2025, com o Índice de Preços na Produção (PPI) a permanecer inalterado, interrompendo uma sequência de sete meses de aumentos consecutivos. Este resultado seguiu-se a uma subida revista em alta de 0,6% em janeiro, de acordo com o Departamento do Trabalho.

Os economistas consultados pela Reuters esperavam um aumento de 0,3%, após a estimativa inicial de 0,4% em janeiro. Nos últimos 12 meses, o PPI avançou 3,2%, desacelerando em relação aos 3,7% registados em janeiro. Apesar da estabilidade geral, alguns componentes do índice revelaram tendências preocupantes. Os preços dos bens aumentaram 0,3%, impulsionados por uma subida de 53,6% nos preços dos ovos no mercado grossista, devido a um surto de gripe aviária. Os preços dos alimentos no atacado aumentaram 1,7%, depois de já terem subido 1,0% em janeiro. Em contrapartida, os preços da energia caíram 1,2%, aliviando parte da pressão inflacionista.

Excluindo alimentos e energia, os preços dos bens subiram 0,4%, o maior aumento em dois anos. Esta subida pode estar associada a aumentos de preços preventivos por parte das empresas, antecipando novas tarifas comerciais.

Impacto da Política Comercial e Fiscal

O governo do Presidente Donald Trump intensificou a guerra comercial ao aumentar as tarifas sobre produtos chineses para 20%, com Pequim a retaliar com medidas semelhantes. Além disso, impôs um novo imposto de 25% sobre importações do Canadá e do México, concedendo uma isenção temporária de um mês para bens que cumpram os critérios do Acordo EUA-México-Canadá (USMCA).

As tarifas sobre aço e alumínio provocaram respostas rápidas da Europa e do Canadá, aumentando a incerteza no comércio global. Trump também ameaçou uma tarifa de 200% sobre vinhos, conhaque e outras bebidas alcoólicas europeias, o que poderá impactar os dados de inflação nos próximos meses.

A instabilidade gerada por estas medidas, combinada com cortes radicais na despesa pública, já resultou no desemprego de milhares de funcionários federais e contratados. Empresas e consumidores mostram-se cada vez mais cautelosos, com companhias aéreas a reverem em baixa as suas previsões de lucros, citando uma redução nas viagens corporativas e no consumo das famílias.

O economista Christopher Rupkey, da FWDBONDS, comentou que, embora não haja sinais de inflação descontrolada nem despedimentos em massa, as políticas governamentais agressivas podem vir a travar o crescimento económico nos próximos trimestres. “Os cortes drásticos na despesa pública e no emprego em Washington podem alastrar-se ao setor privado e levar os CEOs a interromper investimentos e contratações já no segundo trimestre de 2025“, alertou.

Evolução dos Preços dos Serviços e Perspetivas para a Fed

Os preços dos serviços registaram uma queda de 0,2% em fevereiro, refletindo um declínio de 1,4% nas margens de revenda de maquinaria e veículos. Houve também reduções nos preços da alimentação, vestuário e acessórios, mas os custos dos cuidados hospitalares subiram 1,0%, e os serviços ambulatoriais aumentaram 0,3%.

Os custos da gestão de carteiras de investimento aumentaram 0,5%, enquanto os preços das tarifas aéreas permaneceram inalterados. Os preços de hotéis e motéis registaram uma leve queda de 0,1%.

Os economistas estimam que o índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE) – principal indicador de inflação da Reserva Federal – tenha subido 0,3% em fevereiro, podendo mesmo atingir 0,4% após arredondamento. Em termos anuais, a inflação subiu para 2,7%, acima dos 2,6% registados em janeiro.

Face a estes dados, os mercados esperam que a Fed mantenha as taxas de juro na faixa de 4,25%-4,50% na reunião de 19 de fevereiro de 2025. A instituição já reduziu os juros em 100 pontos-base desde setembro de 2024, mas deverá retomar cortes na taxa diretora em junho, caso o abrandamento económico se intensifique.

A Fed elevou as taxas em 5,25 pontos percentuais entre 2022 e 2023, como resposta à inflação elevada, mas agora enfrenta um equilíbrio delicado entre crescimento e estabilidade de preços.

Conclusão

A economia dos EUA entrou em 2025 com sinais mistos, mostrando estabilidade na inflação e no emprego, mas com ameaças significativas à retoma económica. A ausência de crescimento dos preços na produção sugere uma moderação na inflação, mas a incerteza causada por tarifas comerciais e cortes governamentais drásticos pode afetar a confiança de consumidores e empresas nos próximos meses.

A decisão da Reserva Federal de manter as taxas de juro estáveis reflete a necessidade de avaliar os riscos antes de novos cortes nos juros. No entanto, se as políticas comerciais agressivas de Trump e o impacto dos cortes orçamentais continuarem a afetar o mercado de trabalho e o consumo, é provável que a Fed reduza ainda mais as taxas de juro no segundo semestre de 2025.

Os investidores estarão atentos aos dados de inflação e crescimento do primeiro trimestre, pois qualquer sinal de fraqueza poderá pressionar a Fed a intervir mais cedo para evitar uma recessão.