EUA, Política Monetária – 08 Nov 25

Fed corta juros em outubro, dividida e sob pressão política e de dados limitados


Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária dos EUA (FED). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.    


Strategic Highlights – 29 outubro 2025

  • Fed reduz taxa de referência em 25 pb, para o intervalo 3,75%–4,00%, com duas dissidências internas.
  • Decisão tomada com dados incompletos, devido ao shutdown governamental iniciado em 1 outubro.
  • Inflação de 3% em setembro permitiu continuidade dos cortes, embora ainda acima da meta de 2%.
  • Fed suspende o “quantitative tightening”, estabilizando o balanço e reinvestindo em Treasuries.
  • Pressão política intensa: Trump volta a atacar Jerome Powell, apelidando-o de “Jerome ‘Too Late’ Powell” e exigindo cortes mais rápidos.

Nota de Contexto

A Reserva Federal é o banco central dos Estados Unidos, responsável por definir a taxa básica de juro, supervisionar o sistema bancário e controlar a estabilidade de preços e o emprego. Após um ciclo de aumentos para conter a inflação pós-pandemia, a Fed iniciou cortes graduais em 2025 para apoiar o mercado de trabalho, num contexto de crescimento moderado, inflação ainda persistente e forte incerteza política com o regresso de Donald Trump à presidência.

Em outubro, o cenário foi agravado por uma paralisação parcial do governo federal, que interrompeu a publicação de dados económicos cruciais, como o desemprego e o PIB, obrigando a Fed a decidir “às cegas”.

De Musalem a Powell: preparação de uma decisão sob incerteza

No dia 17 outubro, o presidente da Fed de St. Louis, Alberto Musalem, sinalizou apoio a um novo corte, desde que houvesse risco adicional para o mercado laboral e que as expectativas de inflação permanecessem ancoradas.

“Posso apoiar um novo corte se surgirem riscos para o mercado de trabalho e a inflação se mantiver controlada.”

Musalem alertou, contudo, para o risco de um excesso de estímulo e advertiu que as tarifas comerciais impostas pela administração Trump estavam a gerar pressões inflacionistas que poderiam prolongar-se “dois a três trimestres”.

Poucos dias depois, a 20 outubro, um relatório de Washington indicava que a Fed entraria na reunião de política monetária “a voar às cegas” devido à ausência de dados do mercado laboral e de consumo. O shutdown impediu a atualização de indicadores-chave, e vários dirigentes reconheceram a dificuldade em interpretar a economia apenas com relatórios privados ou proxies de crédito.
O governador Christopher Waller defendeu então uma abordagem “cautelosa, mas contínua” de cortes graduais, enquanto o presidente da Fed de Kansas City, Jeffrey Schmid, alertava que a taxa atual era “o nível certo para manter pressão descendente sobre a inflação”.

Sinais de moderação: inflação abranda, Fed prepara corte

O 24 outubro, um relatório do Bureau of Labor Statistics mostrou que o CPI subiu 3,0% em setembro, ligeiramente abaixo das previsões (3,1%).
A reação foi imediata: os mercados precificaram três cortes consecutivos até janeiro de 2026, começando com um quarto de ponto em outubro e outro provável em dezembro.
A Fitch Ratings comentou que a Fed “ficará confortável com inflação em torno dos 3% durante os próximos meses”, priorizando o apoio ao emprego.

27 outubro: antecipação de corte e tensões internas

À medida que se aproximava a reunião do FOMC (28–29 outubro), analistas confirmavam que o consenso era de novo corte de 25 pb, o segundo do ano.
O relatório da Reuters indicava que a Fed estava a tentar evitar um abrandamento mais severo do mercado laboral, onde o desemprego rondava 4,3% antes da suspensão de dados oficiais.

No entanto, emergiam divisões internas:

  • Stephen Miran, recém-nomeado governador, defendia um corte mais agressivo de 50 pb, antes de regressar à Casa Branca como conselheiro económico.
  • Jeffrey Schmid, pelo contrário, via o risco inflacionista como dominante e opôs-se à redução.

O shutdown também afetava a análise interna: Powell preparava-se para justificar decisões com base em dados incompletos e relatórios empresariais, uma situação inédita desde 2013.

29 outubro: decisão final e reações

Em 29 outubro 2025, a Fed cortou as taxas em 25 pb, para 3,75%–4,00%, e anunciou o fim da redução do balanço (“quantitative tightening”), comprometendo-se a reinvestir os rendimentos de MBS em títulos do Tesouro.
A decisão, aprovada por 10 votos a 2, refletiu a crescente preocupação com o mercado de trabalho e a necessidade de manter liquidez nos mercados monetários.

No comunicado, o Fed reconheceu os “limites na tomada de decisão” impostos pela falta de dados, mas afirmou que os “indicadores disponíveis sugerem crescimento moderado”.
Os dois votos dissidentes, Miran (a favor de corte maior) e Schmid (contra qualquer corte), evidenciaram a tensão entre a ala expansionista e a prudente, num raro duplo dissenso simultâneo de sentidos opostos.

A inflação medida pelo PCE estava em 2,7% em agosto, e a Fed projetava 3% até ao final do ano, com descida gradual em 2026.
Powell, na conferência de imprensa, salientou que “os riscos para o emprego aumentaram” e que a política monetária seria ajustada conforme a leitura dos próximos dados, assim que o governo retomasse as publicações.

Reação política e pressão da Casa Branca

No mesmo dia, durante um discurso na Coreia do Sul, Donald Trump intensificou as críticas a Jerome Powell:

“Jerome ‘Too Late’ Powell”, disse Trump, arrancando gargalhadas da audiência, acrescentando que “não teremos uma Fed que sobe juros por receio da inflação daqui a três anos”.

Trump defendeu que a economia americana poderá crescer 4% no 1.º trimestre de 2026, uma previsão muito acima do consenso e que ignora o impacto recessivo das tarifas e do aperto fiscal.
O episódio reforçou a perceção de que o banco central opera sob pressão política direta, num ambiente de retórica populista e desconfiança institucional.

Fed e sistema bancário: teste de stress e regulação

Paralelamente à decisão de juros, o 24 outubro, a Fed aprovou uma proposta de reforma dos “stress tests” bancários, tornando-os mais previsíveis e transparentes, o que foi visto como uma vitória para o setor financeiro.
A vice-presidente Michelle Bowman destacou que o objetivo é reduzir a volatilidade e alinhar os testes com riscos reais, mas o governador Michael Barr criticou duramente a medida, afirmando que “enfraquecerá a credibilidade e a resiliência dos bancos”.

Esta mudança reflete o ambiente político de 2025, em que a administração Trump privilegia flexibilização regulatória e estímulo de crédito, contrastando com a postura mais prudente da era Biden.

Conclusão

A decisão de outubro confirmou uma Fed dividida, pressionada e operando em condições excecionais.
O corte de juros de 25 pontos base marcou o equilíbrio entre o risco de desemprego crescente e o perigo de inflacionar a economia sob estímulo político.

Com o shutdown a limitar o acesso a dados e a Casa Branca a intensificar o escrutínio público, Jerome Powell tenta manter uma linha de credibilidade técnica num cenário em que cada decisão monetária tem impacto político imediato.

A tendência de inflação suavizada (≈3%) e crescimento incerto sugere que o próximo passo dependerá do ritmo de recuperação do mercado de trabalho e do comportamento dos preços até ao final de 2025.
O desafio para a Fed será preservar a autonomia e gerir expectativas sem abdicar do seu mandato dual, estabilidade de preços e pleno emprego, num ambiente em que ambos os objetivos parecem em rota de colisão.


Visite o Disclaimer para mais informações.

Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Política Monetária nos EUA (FED) Discursos de Membros, formato “Geral”, atualizado com informações até 29 de Outubro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, FED, Banco Central, Taxa de Juro, EUA)

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