EUA, Politica Monetária (FED) – 17 Out 25

Fed entra em fase de desaceleração controlada: cortes graduais, debate interno e dilema entre emprego e inflação


Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária dos EUA (FED). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.    


Strategic Highlights – 08 outubro 2025

  • Taxa diretora reduzida para 4,00%–4,25%, após corte de 25 pb em setembro, com mais dois cortes previstos até dezembro.
  • Divisão no FOMC: metade dos membros apoia apenas mais uma redução, enquanto a outra metade defende duas ou mais.
  • Stephen Miran (novo governador) propôs corte de 50 pb e alertou que a Fed está a sobrestimar os riscos inflacionistas.
  • Dados laborais em deterioração: o Survey of Consumer Expectations do NY Fed mostra aumento das preocupações com o emprego e inflação esperada de 3,4% a um ano.
  • Shutdown federal limita visibilidade económica, adiando relatórios-chave e obrigando a Fed a “voar às cegas”.

Nota de Contexto

A Federal Reserve iniciou em setembro um novo ciclo de cortes após 18 meses de política restritiva. O movimento ocorre num ambiente de inflação persistente (2,7%), crescimento robusto (PIB próximo de 4%) e mercado laboral em abrandamento, mas ainda resiliente.

O corte foi justificado como medida de gestão de risco: suavizar a desaceleração no emprego sem reanimar pressões inflacionistas. No entanto, as divisões internas no FOMC e a incerteza causada pelo encerramento parcial do governo tornaram a formulação de política monetária mais dependente da leitura subjetiva dos riscos — não dos dados, agora ausentes.

1. Setembro: o reinício do ciclo de cortes

Em 19 setembro, a Fed reduziu as taxas em 25 pb, para o intervalo 4,00%–4,25%, conforme esperado.
O “dot plot” indicou duas reduções adicionais até ao fim de 2025, mas o tom do comunicado foi prudente, sublinhando a necessidade de “avaliar cuidadosamente a resposta do mercado de trabalho”.

O dólar recuperou parte das perdas iniciais após a reunião, refletindo a perceção de que o ciclo de cortes será mais lento do que o previsto. O índice DXY fechou a semana praticamente estável, com o mercado a ajustar posições de hedge e expectativas de política.

2. O debate interno: Miran e a redefinição do “neutro”

O novo governador Stephen Miran, nomeado por Donald Trump, estreou-se defendendo cortes mais profundos e rápidos, de 50 pb por reunião até ao final do ano.
Miran argumenta que a Fed sobreestima o impacto restritivo das taxas atuais e que o conceito de “taxa neutra” precisa de ser revisto:

“As condições financeiras estão a impulsionar o crescimento em cerca de um ponto percentual anual, não a travá-lo”.

A sua visão contrasta com a dos membros mais conservadores, como Jeffrey Schmid (Kansas City Fed) e Lorie Logan (Dallas Fed), que alertam que os preços dos serviços continuam a subir a 3,5% e que “há pouco espaço para cortes adicionais sem arriscar uma postura excessivamente acomodatícia”.

O Vice-Chair Philip Jefferson reforçou que o corte de setembro apenas trouxe a política “para mais perto de uma posição neutra”, sem indicar um ciclo acelerado.

3. Minutas e perceção do risco: emprego vs. inflação

As minutas da reunião de setembro revelaram uma divisão quase simétrica entre membros preocupados com o mercado laboral e aqueles ainda focados na inflação acima da meta.

  • “A maioria” concordou que o risco para o emprego justificava uma redução.
  • “Uma minoria” insistiu que os riscos inflacionistas permanecem elevados, agravados por tarifas e volatilidade nos preços de energia.
  • Stephen Miran foi o único a votar por um corte de 50 pb.

A Fed reconheceu que o mercado de trabalho está a arrefecer, mas considerou que a política ainda “não é particularmente restritiva”, o que justifica prudência antes de novos movimentos.

4. “Cegueira de dados”: o efeito do shutdown federal

O encerramento parcial do governo dos EUA desde o início de outubro suspendeu a publicação de indicadores essenciais, emprego, inflação e pedidos de subsídio de desemprego.
O colunista Jamie McGeever (Reuters) alertou que a Fed está agora a “andar às cegas”, com o “risco de cortar demasiado cedo num ambiente de crescimento ainda sólido”.

Estimativas da Oxford Economics sugerem que cada semana de paralisação retira 0,1 a 0,2 pp ao crescimento trimestral do PIB, o que poderá forçar cortes adicionais caso o shutdown se prolongue.

Entretanto, a qualidade dos dados económicos já vinha a degradar-se: segundo a Goldman Sachs, os erros padrão das sondagens aumentaram 26% desde 2019, minando a precisão dos modelos macroeconómicos.

5. O mercado laboral e a perceção do público

O Survey of Consumer Expectations do New York Fed mostra que as famílias americanas estão mais pessimistas sobre o emprego e mais preocupadas com a inflação.

  • Inflação esperada a um ano: 3,4% (vs. 3,2% em agosto).
  • Inflação a cinco anos: 3,0%.
  • Expectativa de perda de emprego: em alta.

Apesar disso, as famílias avaliam positivamente a sua situação financeira atual, mas reduziram as intenções de consumo para 2026.
O Presidente do NY Fed, John Williams, resumiu o dilema:

“Temos de equilibrar a descida da inflação com o apoio a um mercado de trabalho que tem enfraquecido gradualmente”.

6. O dilema Logan: cortes com cautela

A presidente do Dallas Fed, Lorie Logan, reiterou a 2 de outubro que os cortes devem ser “muito cautelosos”, defendendo calibragem “para não inverter o curso e ter de restaurar a estabilidade de preços à força”.
Logan considera que a política de setembro foi um seguro contra uma subida abrupta do desemprego, mas que a inflação acima de 2% há quatro anos ainda exige prudência.

“Se as expectativas de inflação se enraizarem, os riscos de longo prazo aumentam significativamente”.

7. Implicações financeiras globais

A política da Fed tem repercussões diretas sobre o dólar e os fluxos de investimento:

  • A retomada dos cortes reduziu os custos de hedge cambial para investidores estrangeiros, levando fundos europeus e asiáticos a aumentar as coberturas sobre ativos em USD.
  • O euro e o iene apreciaram marginalmente, enquanto o dólar caiu cerca de 10% no acumulado de 2025.
  • O total de ativos estrangeiros nos EUA ultrapassa 30 biliões USD, dos quais 8 biliões são europeus, amplificando o impacto da Fed sobre fluxos cambiais e rendimentos de Treasuries.

Entretanto, dados do New York Fed indicam que as reservas de Treasuries detidas por bancos centrais estrangeiros caíram para 2,78 biliões USD, o valor mais baixo desde 2012, sinal de redução gradual da procura oficial por dívida americana, interpretado por alguns analistas como “alarme de desdolarização”.

8. O risco de euforia financeira

Apesar do abrandamento da economia, a política expansionista da Fed está a alimentar um “everything rally”, subida generalizada de ações, ouro, semicondutores e criptomoedas.

  • O S&P 500 e o Nasdaq estão em máximos históricos.
  • O crescimento do PIB ronda 3% anualizado.
  • As condições financeiras são as mais folgadas desde 2022, com credit spreads no nível mais estreito desde 1998.

O colunista Jamie McGeever adverte:

“Mais cortes podem aquecer Wall Street sem melhorar o mercado laboral. A Fed corre o risco de reacender uma bolha financeira sob o disfarce de cautela macroeconómica.”

Conclusão

Entre setembro e outubro de 2025, a Fed entrou num território de ambiguidade controlada:

  • Corta para prevenir, mas sem visibilidade de dados fiáveis;
  • Divide-se internamente entre contenção e estímulo;
  • Enfrenta um mercado financeiro em euforia, onde o risco de excesso supera o de recessão.

O cenário atual lembra 1998: política acomodatícia em meio a desequilíbrios de mercado e confiança excessiva no “soft landing”.
Se o crescimento se mantiver forte e a inflação estabilizar acima de 2%, a Fed poderá ser forçada em 2026 a reverter parte dos cortes, comprometendo a credibilidade da sua meta de estabilidade de preços.

Até lá, como descreveu Jerome Powell após a reunião de setembro:

“Não há caminhos sem risco.”


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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Política Monetária nos EUA (FED) Discursos de Membros, formato “Geral”, atualizado com informações até 08 de Outubro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, FED, Banco Central, Taxa de Juro, EUA)

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