França 2025: crise política força suspensão da reforma das pensões e orçamentos mais duros; spreads estabilizam mas confiança degrada-se
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Strategic Highlights – 21 outubro 2025
- Suspensão da reforma das pensões de 2023 até depois de 2027, proposta por Sébastien Lecornu para viabilizar o governo e o orçamento de 2026.
- Meta de défice de 4,7% do PIB em 2026, com >30 mil milhões de euros em medidas (La Tribune), incluindo aperto de despesa e aumentos de receita.
- Previsão da Banque de France: PIB 2025 em 0,7%, abrandando para 0,9% em 2026 e 1,1% em 2027; inflação <2% até 2027.
- Primeiro-ministro refeito e reconduzido: Lecornu demite-se (6 out), conduz conversações (7–8 out) e é reconduzido (10 out); novo elenco (12 out) sob moções de censura.
- Mercados: OAT–Bund ~80 pb (máx. semanal 87,96 pb); investidores veem risco fiscal mas sem catalisador para agravamento sem eleições; BlueBay fechou short em OATs.
Nota de Contexto
A crise política crónica em França, parlamento fragmentado em três blocos e sucessivas demissões de primeiros-ministros, colide com a necessidade de um ajustamento orçamental credível. Entre setembro e outubro de 2025, o Eliseu tentou estabilizar o executivo, enquanto a Banque de France alertou para impacto na confiança e no crescimento, e os mercados calibraram o risco soberano com foco no défice e nas reformas estruturais.
Linha Cronológica (15 setembro – 21 outubro 2025)
- 15 set – Banque de France: revê PIB 2025 para 0,7% (de 0,6%); 2026: 0,9% (de 1,0%); 2027: 1,1% (de 1,2%); inflação 1,0% (2025), 1,3% (2026), 1,8% (2027); desemprego ~7,5%; riscos em baixa pós-2025 por incerteza política.
- 18 set – Greves e protestos anti-austeridade: sindicatos indicam 400 mil participantes; Interior fala em >280 mil; exigem travar cortes e taxar riqueza.
- 6–7 out – Lecornu demite-se horas após anunciar governo; Macron encarrega-o de conversações de última hora (48h) para “plataforma de estabilidade”.
- 8 out – Eliseu: maioria de deputados rejeita dissolução; há “caminho possível” para orçamento até 31 dez; novo PM em 48h.
- 10 out – Recondução de Lecornu; prioridade: orçamento 2026; Villeroy estima custo de ≥0,2 p.p. do PIB pela incerteza; spreads OAT–Bund semana ~80 pb, pico ~88 pb.
- 12–13 out – Novo elenco anunciado; moções de censura pela direita radical e pela esquerda; Macron rejeita demissão.
- 14 out – Suspensão da reforma das pensões até 2028 (sem aumento da idade até então); Socialistas sinalizam não derrubar o governo; objetivo de poupanças >30 mil M€ e défice 2026 a 4,7%.
- 21 out – Prossegue debate orçamental; Lagarde afirma não ver sinais de desordem no mercado obrigacionista da zona euro.
Política e Governabilidade: custo da instabilidade
A sequência “demissão–conversações–recondução” de Lecornu expôs a fragilidade do executivo. A recondução visou agregar apoios para o orçamento de 2026, sob ameaça de moções de censura e com linhas vermelhas: a esquerda exigia suspensão da reforma das pensões; a direita, contenção da despesa e rejeição de novos impostos generalizados.
O pragmatismo prevaleceu: a suspensão da reforma (símbolo da legislatura) foi a “moeda” para destravar votos mínimos de sobrevivência. Em paralelo, o Eliseu rejeitou dissolver a Assembleia e descartou renúncia presidencial, privilegiando uma via de orçamento enxuto e negociação caso a caso.
Orçamento 2026: âncora no défice e trocas políticas
O plano divulgado pela imprensa aponta para >30 mil milhões de euros de medidas, combinando:
- Cortes de despesa e receitas adicionais, incluindo medida fiscal sobre sociedades veículo/holdings de património, e não atualização de algumas prestações sociais à inflação; meta de défice: 4,7% do PIB (2026).
- A suspensão da reforma das pensões (sem subir a idade até jan 2028) custa ~400 M€ em 2026 e ~1,8 mil M€ em 2027, exigindo compensações para não agravar o saldo.
A Banque de France sustenta que seria desejável o défice não exceder 4,8% em 2026, com trajetória para 3% até 2029, implicando redução ≥0,6 p.p. já no primeiro ano do ajuste, sob pena de punição pelos mercados. Isto baliza o espaço de compromisso político.
Indicadores macro: recuperação ténue, inflação baixa
A projeção da Banque de France, PIB 0,7% (2025), 0,9% (2026), 1,1% (2027); inflação 1,0% → 1,8%; desemprego ~7,5%, traduz arranque frágil e desaceleração da dinâmica face a junho, com riscos em baixa após 2025 devido à incerteza fiscal/política e contexto externo menos favorável (euro mais forte, petróleo mais alto).
Villeroy quantifica o custo da incerteza em ≥0,2 p.p. do PIB, via poupança preventiva das famílias e adiamento de investimento empresarial.
Mercados: ações sensíveis ao ruído político; dívida ancorada no fiscal
- Ações: na fase aguda (6 out), CAC 40 caiu >1,3%; em 8 out, recuperou ~1,1% após sinais de “caminho possível” para orçamento.
- Dívida soberana: o spread OAT–Bund 10 anos fechou a semana ligeiramente mais largo (~80 pb); atingiu 87,96 pb no pico. Gestores veem história de crédito a deteriorar-se no tempo, mas sem catalisador para alargamento material sem novas eleições. A BlueBay fechou o short em OATs.
- Perceção institucional: Lagarde não observa desordem no mercado obrigacionista da área euro, apesar do stress político francês.
Sociedade e pressão de ruas: custo político do ajuste
As greves de 18 setembro (CGT: ~400 mil; Interior: >280 mil) mostraram resistência a cortes e apoio a taxação da riqueza e reversão da idade de reforma, posição que condicionou a engenharia parlamentar do governo e culminou na suspensão da reforma.
Riscos, Drivers e Cenários (próximos 3–6 meses)
Base (prob. >50%)
- Orçamento 2026 aprovado após concessões (pensões suspensas, foco em poupanças >30 mil M€), com défice ~4,7%; spreads mantêm intervalo 75–90 pb; PIB 2026: ~0,9%; inflação contida.
Risco Negativo
- Censura ou bloqueio do orçamento → medidas extraordinárias, downgrade de notação sugerido como plausível por gestores; spreads >95–100 pb; confiança recua (≥0,2 p.p. PIB adicionais).
Risco Positivo
- Pacto mínimo centro-esquerda–centro-direita em torno de ancoragem do défice (≤4,8% em 2026) e agenda micro de competitividade; estabilização abaixo de 80 pb; melhor sentimento empresarial.
Implicações Estratégicas
- Soberano (OATs): com ausência de eleições antecipadas, o catalisador para novo alargamento é limitado; carry e rolldown tornam-se relevantes em 10–15 anos, mas a assimetria permanece se houver choque político/orçamental.
- Duration europeia: curvas tendem a empinar com foco fiscal global; manter exposição seletiva em Bunds longos como hedge macro, ajustando beta à evolução do défice francês.
- Ações França: beta elevado ao headline risk; resultados dependem da trajetória orçamental e da suspensão das pensões não degradar a credibilidade fiscal (observação: Socialistas não derrubam governo após a concessão).
- Política económica: sequenciação do ajuste (≥0,6 p.p. do PIB já em 2026) é chave para credibilidade e para cumprir 3% em 2029.
Conclusão
França entrou no último trimestre de 2025 com equilíbrio delicado: um governo politicamente minoritário, mas disposto a suspender a reforma das pensões para destravar o orçamento de 2026; um banco central a quantificar o custo da incerteza; e mercados de dívida que distinguem ruído tático de fundamentais fiscais.
Se Paris entregar um orçamento credível, défice ~4,7% em 2026 e trajetória para 3% em 2029, os spreads podem estabilizar e a confiança recuperar gradualmente. Em contrapartida, um novo impasse político reacenderia pressão sobre OATs, ações e confiança, com impacto direto no crescimento já frágil.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre os Desafios Políticos em França, formato “Geral”, atualizado com informações até 21 de Outubro de 2025. Categorias: Política. Tags: Política, França, Economia)