Pressão das tarifas obriga a rever planos de investimento

A Honda Motor revelou a 13 de maio de 2025 uma previsão fortemente negativa para o novo exercício fiscal, antecipando uma queda de 59% no lucro operacional para 500 mil milhões de ienes, face aos 1,21 biliões registados até março. O principal motivo é o impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, particularmente sobre veículos e componentes produzidos fora do território norte-americano.

A empresa estima que 650 mil milhões de ienes do impacto nos lucros se devem às tarifas, dos quais cerca de 300 mil milhões estão diretamente associados às importações de veículos completos. Apesar de estratégias de mitigação que poderão compensar cerca de 200 mil milhões de ienes, o fardo permanece substancial.

Pausa em investimento no Canadá e nova estratégia nos EUA

Face ao atual ambiente comercial e à desaceleração na procura por veículos elétricos (EV), a Honda optou por suspender, por dois anos, o projeto de criação de uma cadeia de fornecimento de EVs em Ontário, no Canadá, anunciado em abril de 2024. A decisão espelha a dificuldade de justificar grandes investimentos em contextos de incerteza regulatória e fraca procura.

Como resposta às tarifas, a empresa também decidiu transferir a produção do novo Civic híbrido do México para o estado de Indiana (EUA), com início previsto para maio de 2028 e uma capacidade anual de 210.000 unidades. Esta decisão visa proteger um dos seus modelos mais vendidos nos EUA, onde o Civic representa mais de 240.000 unidades por ano.

Produção regionalizada e resposta às medidas protecionistas

Embora tenha negado oficialmente planos de realocar fábricas, a Honda está a aumentar gradualmente a produção nos EUA, com planos para crescer até 30% em dois a três anos, respondendo à tarifa de 25% aplicada por Donald Trump a veículos importados. A empresa considera aumentar a mão de obra nas suas unidades norte-americanas e introduzir um sistema de três turnos e trabalho ao fim de semana.

A empresa reiterou, no entanto, que não planeia encerrar fábricas no Canadá ou no México, e que continuará a estudar opções estratégicas com base nas condições de mercado.

Fim das negociações com a Nissan e desafio da concorrência chinesa

A Honda confirmou ainda o fim das negociações de fusão com a Nissan, embora continue a colaborar na área dos veículos elétricos. O CEO Toshihiro Mibe admitiu que a indústria enfrenta um momento muito difícil, mas sublinhou que a Honda procurará novas parcerias estratégicas para se manter competitiva, particularmente face ao avanço das marcas chinesas de EV.

A empresa registou um aumento de 5% no lucro trimestral no final de 2024, suportado pela forte performance da divisão de motociclos e pela depreciação do iene, embora as vendas na China tenham recuado. A previsão de vendas globais foi ajustada de 3,8 para 3,75 milhões de veículos.

Conclusão

A Honda enfrenta um ambiente de elevada incerteza, com forte pressão de tarifas, abrandamento da procura por EVs e concorrência crescente da China. A suspensão do investimento no Canadá, a realocação de produção e a previsão de lucros em queda marcam uma nova fase na estratégia da empresa. O sucesso dependerá da capacidade de adaptação rápida e da construção de alianças estratégicas, num mercado automóvel cada vez mais fragmentado e sensível a questões geopolíticas.