
O Impacto da Vitória de Trump na Economia da Alemanha
- A Alemanha pode ser a grande perdedora de uma presidência Trump, com o risco de uma guerra comercial entre os EUA e a Europa.
- Trump planeja tarifas aduaneiras de 10% a 20% em importações e de 60% em produtos chineses, o que pode impulsionar a indústria dos EUA, mas prejudicar a Alemanha.
- Um relatório do instituto IW prevê uma queda do PIB da zona euro de 1,3% e de até 1,5% na Alemanha em caso de tarifas.
- As exportações alemãs podem sofrer uma contração significativa, especialmente nos setores automóvel e farmacêutico.
- A incerteza causada pelas políticas protecionistas pode agravar a fraqueza da economia alemã, que já enfrenta desafios.
A possibilidade de uma nova presidência de Donald Trump gera preocupações significativas para a economia da Alemanha, que poderia emergir como uma das grandes perdedoras num cenário de guerra comercial entre os Estados Unidos e a Europa. A força industrial da Alemanha, anteriormente admirada, poderia tornar-se uma vulnerabilidade aguda diante das políticas protecionistas que Trump pretende implementar.
Trump anunciou planos para aplicar tarifas aduaneiras que variariam entre 10% a 20% sobre praticamente todas as importações, além de tarifas de 60% ou mais sobre produtos provenientes da China. Segundo o ex-presidente, estas medidas visam impulsionar a indústria transformadora dos EUA. No entanto, um relatório do instituto económico alemão IW, fornecido em exclusivo à Reuters, concluiu que a imposição de tarifas de 20% à União Europeia (UE) resultaria numa queda do PIB da zona euro em 1,3% em 2027 e 2028, com a Alemanha a sofrer uma redução ainda maior de até 1,5%.
Os efeitos negativos sobre o PIB da UE aumentariam entre 2025 e 2028, enquanto os impactos no PIB dos EUA seriam mais significativos nos primeiros dois anos. O estudo sugere que, em 2025, o PIB dos EUA poderia declinar 1,3% com tarifas de 10% e 1,5% com tarifas de 20%. Com o tempo, os efeitos sobre os EUA diminuiriam, uma vez que as importações reduzir-se-iam mais do que as exportações, levando a uma balança comercial mais favorável.
Atualmente, a Alemanha, a maior economia da Europa, enfrenta um panorama desolador. Segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional, a Alemanha será o único país do G7 a não registar crescimento durante dois anos consecutivos. Um conflito comercial com os EUA, seu principal parceiro comercial, teria repercussões severas sobre a produção.
Jacob Funk Kirkegaard, membro sénior do Bruegel e do Peterson Institute for International Economics, alertou que se as previsões de crescimento na China falharem, a Alemanha não será capaz de contar com uma recuperação naquele mercado. Kirkegaard destacou que o protecionismo crescente dos EUA deixaria a Alemanha sem fontes de crescimento a curto prazo.
Recentemente, os Estados Unidos ultrapassaram a China como o maior parceiro comercial da Alemanha, após oito anos consecutivos em que a China ocupou a primeira posição. Robert Habeck, ministro alemão da Economia, reconheceu que metade do crescimento da Alemanha depende das exportações, e que as tensões globais estão a atacar esse pilar fundamental.
Em 2023, as exportações alemãs sofreram uma contração de 0,3%, reflexo da fraca procura global e das tensões geopolíticas. As previsões para este ano apontam para uma nova contração de 0,1%. Um estudo da Fundação Hans Boeckler indicou que tarifas de 20% poderiam reduzir a produção na Alemanha em 1% nos primeiros dois anos. Da mesma forma, um estudo do Instituto Ifo previu que as exportações alemãs para a China poderiam diminuir cerca de 9,6% numa guerra comercial entre os EUA e a China, e que as exportações para os EUA poderiam cair 14,9%.
Os setores mais afetados incluem a indústria automóvel e farmacêutica, com quedas estimadas de 32% e 35%, respetivamente. Esta situação representa um novo golpe para a indústria alemã, que enfrenta uma recessão sem sinais de recuperação à vista.
Neil Devaney, sócio e co-diretor da área de reestruturação do Weil em Londres, alertou que as propostas de direitos aduaneiros sobre produtos internacionais poderiam agravar as dificuldades de uma base industrial já fragilizada. Juergen Matthes, diretor de política económica internacional da IW, acrescentou que mesmo tarifas de apenas 10% poderiam criar incertezas que afetariam negativamente a economia alemã, uma vez que a fraqueza do investimento e a relutância em consumir aumentam com o sentimento de incerteza.
Em suma, a vitória de Trump poderá representar uma tempestade perfeita para a economia da Alemanha, cujas bases dependem fortemente das exportações. A incerteza gerada por uma possível guerra comercial com os EUA pode minar ainda mais a confiança nas perspetivas de crescimento do país.
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