DESTAQUES (12 de março de 2025)

• Empresas japonesas de destaque, incluindo Toyota, Hitachi e Denso, concordaram com aumentos salariais significativos pelo terceiro ano consecutivo.
• A Hitachi anunciou um aumento salarial mensal recorde de 6,2%, cumprindo totalmente as exigências sindicais.
• A Denso, principal fornecedora de peças da Toyota, também planeia um aumento recorde, enquanto a Toyota manterá os níveis de 2024, os mais altos desde 1999.
• O aumento salarial médio para 2025 deverá ser semelhante ao de 5,1% em 2024, a maior subida em 33 anos.
• O Banco do Japão poderá ajustar a sua política monetária dependendo do impacto dos aumentos salariais no consumo e na inflação.

Pressão por Aumentos e Impacto no Mercado

As negociações anuais de salários no Japão (“shunto”) chegaram ao fim esta semana, com grandes empresas a concordarem em aumentar significativamente os salários, refletindo a pressão dos sindicatos e do governo para ajudar os trabalhadores a lidar com a inflação elevada e resolver escassez de mão de obra.

A Hitachi confirmou que irá aumentar os salários mensais em 6,2%, o maior aumento da sua história, alinhando-se às exigências dos sindicatos. A Denso, um dos maiores fornecedores da Toyota, também anunciou aumentos salariais recorde. Já a própria Toyota confirmou que a sua subida salarial total para os trabalhadores da produção será semelhante à de 2024, ano em que foi registado o maior aumento desde 1999.

Estes aumentos ocorrem num contexto de lucros recorde para as empresas japonesas, impulsionados por um iene fraco, mas também de custos de vida mais elevados. O governo e os decisores políticos têm vindo a pressionar as empresas a conceder aumentos salariais robustos, com o objetivo de estimular o consumo e ajudar o Banco do Japão a abandonar a sua política monetária ultra-expansionista.

Expectativas Económicas e Política Monetária

Os economistas estimam que o aumento médio dos salários em 2025 seja próximo dos 5,1% registados em 2024, o maior dos últimos 33 anos. Esta subida foi um dos fatores que levou o Banco do Japão a abandonar a sua política de taxas de juro ultra-baixas, que vigorava há mais de uma década.

A Rengo, a maior confederação sindical do Japão, com 7 milhões de membros, divulgará um relatório preliminar sobre os aumentos acordados a 14 de março de 2025. Os sindicatos estavam a pedir um aumento médio de 6,09%, acima dos 5,85% de 2024.

Naoki Hattori, economista sénior da Mizuho Research and Technologies, afirmou que um aumento médio de 5% a 5,5% sustentaria a expectativa de que o Banco do Japão continuará a subir as taxas de juro a cada seis meses, com o próximo aumento esperado para junho de 2025. No entanto, caso o aumento salarial médio se aproxime dos 6%, isso poderá acelerar a normalização da política monetária, com uma subida de taxas já em maio.

Apesar disso, alguns economistas permanecem céticos quanto ao impacto dos aumentos salariais no consumo. Kazutaka Maeda, do Meiji Yasuda Research Institute, alertou que uma subida média de 5% a 5,5% apenas compensaria a inflação, sem gerar um aumento significativo no consumo das famílias.

Inflação e Impacto nas Pequenas Empresas

A inflação tem sido um fator determinante nestas negociações. Em janeiro de 2025, a taxa de inflação dos consumidores, que inclui alimentos frescos mas exclui rendas, subiu para 4,7% em termos anuais, o nível mais alto em dois anos.

A grande incógnita para a economia japonesa continua a ser a capacidade das pequenas e médias empresas (PMEs) de acompanhar esta tendência de aumentos salariais. Estas empresas representam cerca de 70% da força de trabalho do Japão, e o seu comportamento será essencial para determinar se a tendência de aumentos salariais se mantém a longo prazo.

A Toyota anunciou que pretende pagar mais pelos componentes produzidos no Japão, ajudando os seus fornecedores a financiar aumentos salariais. No entanto, muitas PMEs continuam a enfrentar dificuldades para repassar o aumento dos custos salariais para os clientes, o que levou o Primeiro-Ministro Shigeru Ishiba a prometer medidas de apoio governamental para ajudar as empresas a aumentar a produtividade e a absorver os custos salariais mais elevados.

Conclusão e Reação das Grandes Empresas

Entre as principais empresas japonesas, várias aceitaram as exigências sindicais na totalidade, incluindo a Mitsubishi Heavy Industries e a NEC. Já a Nippon Steel e a Panasonic anunciaram aumentos salariais, mas abaixo do nível solicitado pelos sindicatos.

Historicamente, o Japão enfrentou décadas de deflação e, antes de 2023, os aumentos salariais anuais eram modestos, variando entre 1% e 2%. Isso deixou os salários japoneses bem atrás da média da OCDE, um problema que as autoridades agora tentam corrigir.

Susumu Takimoto, vice-diretor de recursos humanos da Hitachi, destacou a importância deste ano para consolidar a recuperação salarial no Japão:
“Este é um ano crucial para garantir que a dinâmica dos aumentos salariais se mantém, permitindo à economia japonesa finalmente escapar da deflação.”

O impacto total destes aumentos ainda depende da resposta das PMEs e do comportamento do consumo interno. No entanto, os dados sugerem que o Japão poderá finalmente estar a dar passos sólidos para um ciclo de crescimento salarial sustentado, o que pode ter implicações diretas na política monetária e na recuperação económica do país.