
Inflação no Japão desacelera mas mantém-se acima da meta do BOJ
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Inflação do Japão. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 19 de setembro de 2025
- A inflação core nacional subiu 2,7% em agosto de 2025, o nível mais baixo em nove meses, mas manteve-se acima da meta de 2% do BOJ.
- Em Tóquio, o core CPI registou 2,5% em agosto, desacelerando face a julho, mas com alimentos ainda a subir 7,4%.
- A inflação grossista acelerou para 2,7% em agosto, refletindo custos persistentes em alimentos e bebidas, enquanto os preços da energia recuaram com subsídios.
- As famílias japonesas projetam aumentos médios de 12,8% nos preços a um ano, o nível mais alto desde 2006, revelando mudança estrutural nas expectativas.
- A política ficou exposta: a saída do PM Shigeru Ishiba, a 7 de setembro, foi atribuída ao impacto político da escalada dos preços do arroz.
Inflação nacional e em Tóquio
Os dados mais recentes mostraram uma desaceleração da inflação nacional. O core CPI subiu 2,7% em agosto, em linha com as previsões, mas abaixo dos 3,1% de julho, atingindo o valor mais baixo em nove meses. Mesmo assim, os preços permanecem acima da meta do Banco do Japão (BOJ) há mais de três anos consecutivos. Excluindo alimentos frescos e energia, o índice avançou 3,3%, ligeiramente abaixo dos 3,4% do mês anterior, sinal de que as pressões subjacentes ainda não desapareceram.
Em Tóquio, indicador antecedente das tendências nacionais, o core CPI atingiu 2,5% em agosto, após 2,9% em julho, influenciado por subsídios à energia. No entanto, os alimentos excluindo frescos avançaram 7,4%, revelando a persistência do choque no custo de vida. Em julho, o mesmo índice tinha subido 2,9%, com os serviços a crescerem 2,1% e a inflação alimentar a atingir 7,4%, evidenciando que as famílias continuavam sob pressão.
Inflação grossista e custos de importação
A inflação grossista mostrou sinais mistos. Em junho, o índice de preços no produtor (CGPI) avançou 2,9%, abrandando face a maio (3,3%), enquanto as importações em ienes caíram 12,3%, ajudando a aliviar custos de matérias-primas. Já em julho, o índice avançou 2,6%, antes de acelerar novamente para 2,7% em agosto, refletindo sobretudo a pressão contínua nos alimentos e bebidas, que subiram 5,0% nesse mês.
Apesar disso, subsídios do governo ajudaram a travar os custos da energia, com eletricidade, gás e água a caírem 2,9% em agosto. A volatilidade dos preços internacionais, associada às tarifas norte-americanas, continua a ser um fator determinante para os preços grossistas e, com algum atraso, para os preços ao consumidor.
Expectativas das famílias e perceção pública
A perceção das famílias japonesas mudou de forma estrutural. No inquérito do BOJ relativo a junho, 85,1% das famílias esperavam que os preços subissem dentro de um ano, e 83,1% acreditavam em subidas a cinco anos. O aumento médio esperado para um ano fixou-se em 12,8%, o nível mais alto desde 2006, refletindo a erosão do paradigma deflacionário.
Os aumentos mais sentidos pelas famílias continuam a ser os dos alimentos. Em junho, os preços da alimentação subiram 8,2%, com o arroz quase a duplicar de preço em relação ao ano anterior, levando a aumentos de 19% no custo de onigiri e 6,5% nas refeições de sushi. A persistência destes choques alimentares tornou-se o símbolo da inflação no Japão.
Política e impacto social
A inflação entrou diretamente no campo político. O primeiro-ministro Shigeru Ishiba renunciou a 7 de setembro, depois de o Partido Liberal Democrata ter sofrido derrotas eleitorais atribuídas ao aumento dos preços dos alimentos, em particular do arroz. A sucessão abriu espaço para duas correntes opostas: Sanae Takaichi, crítica das subidas de taxas do BOJ e defensora de mais despesa pública, e Shinjiro Koizumi, que defende disciplina fiscal e aposta em medidas para estabilizar os preços agrícolas.
Este choque político ilustra como a inflação, sobretudo em bens essenciais, passou a condicionar a estabilidade governativa, algo raro na história recente japonesa.
O dilema do BOJ
O Banco do Japão aumentou a taxa de juro de referência para 0,5% em janeiro de 2025, após sair de uma década de estímulos extraordinários. Desde então, mantém prudência na calibragem da política monetária. Apesar de a inflação se manter acima de 2%, a combinação de crescimento fraco, consumo em queda e impacto das tarifas norte-americanas levou o banco a sinalizar cautela em novos aumentos.
Na reunião de 18–19 de setembro de 2025, o BOJ manteve as taxas inalteradas, confirmando uma postura de espera. O dilema é claro: a inflação está sustentada acima da meta, mas a sua origem continua fortemente ligada a choques de oferta (alimentos, energia, tarifas), o que fragiliza o argumento para um ciclo acelerado de subidas de juros.
Conclusão
Entre julho e setembro de 2025, a inflação no Japão mostrou sinais de desaceleração gradual, mas continuou firme acima da meta de 2% do BOJ. O peso dos alimentos, e em particular do arroz, não só pressionou os orçamentos familiares como também se tornou um fator político decisivo, levando à saída de um primeiro-ministro.
O BOJ enfrenta um dilema entre responder a uma inflação persistente e proteger uma economia fragilizada por tarifas externas e procura interna anémica. Para já, a mensagem é de prudência: taxas mantidas em 0,5%, acompanhadas de vigilância sobre os salários e as expetativas de preços. A evolução do último trimestre de 2025 será crítica para avaliar se o Japão caminha para uma estabilização inflacionária sustentada ou para um novo período de incerteza monetária e política.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre Inflação do Japão, formato “Geral”, atualizado com informações até 19 de Setembro de 2025. Categorias: Economia. Tags: Economia, Japão, Inflação)