Japão – Política: Takaichi chega ao poder com coligação minoritária, foco em estímulo, energia nuclear e defesa
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Strategic Highlights – 24 outubro 2025
- Sanae Takaichi foi eleita primeira-ministra a 21 outubro, após acordo LDP–Ishin que garantiu a votação no parlamento.
- O pacto LDP–Ishin soma 231 lugares na câmara baixa (–2 face à maioria), deixando o governo em minoria e dependente de apoios ad-hoc.
- O executivo prepara um pacote de estímulo > JPY 13,9 biliões (≈ USD 92 mil milhões), assente em alívio da inflação, indústrias de crescimento e segurança nacional.
- A agenda energética privilegia aceleração dos reinícios nucleares e diversificação de LNG, com Ryosei Akazawa na pasta da Indústria/Energia.
- Na defesa, Takaichi promete trazer para março a meta de gastos de 2% do PIB, antecipando o maior reforço desde a II Guerra.
Nota de Contexto
O Liberal Democratic Party (LDP) governa grande parte do pós-guerra mas perdeu o parceiro Komeito após 26 anos de coligação, na sequência de um escândalo de financiamento e divergências com a nova liderança conservadora de Takaichi. Para garantir a investidura, o LDP firmou um pacto com o Ishin (direita reformista), obtendo 231 lugares em 465 na câmara baixa—insuficiente para maioria estável, exigindo acordos casuísticos com outras forças na agenda orçamental e legislativa.
Formação do Governo: aritmética, estabilidade e primeiros sinais
A rutura com o Komeito a 10 outubro transformou uma transição “automática” numa disputa apertada, com oposição a tentar unificar-se em torno de Yuichiro Tamaki (DPP).
O acordo LDP–Ishin foi o turning point: embora –2 face à maioria, garantiu a eleição de Takaichi a 21 outubro e um gabinete com apenas duas ministras (incluindo Satsuki Katayama nas Finanças).
- Números-chave
- 231 lugares LDP+Ishin (–2 da maioria); câmara baixa: 465 lugares.
- 64% de aprovação ao novo governo (inquérito Kyodo), apesar da minoria parlamentar.
Leitura: a solução LDP–Ishin assegura governabilidade mínima, mas mantém fragilidade política: orçamentos suplementares e reformas estruturais exigirão pontes com oposição (CDP, DPP). O risco de moções de censura e de eleições antecipadas permanece no radar dos investidores.
Política Económica: estímulo “Abenomics-like”, ienes e BOJ
Takaichi prepara um pacote > JPY 13,9 biliões, com abolir a taxa provisória sobre gasolina, reforçar subvenções locais focadas em PME e investimento em IA/semicondutores; será viabilizado por orçamento suplementar e, se necessário, emissão de dívida. Satsuki Katayama, primeira mulher nas Finanças, é uma insider do ministério e sinalizou no passado valor de equilíbrio do iene ~JPY 120–130/USD.
- Dados-chave
- Tamanho do pacote: > JPY 13,9 biliões (≈ USD 92 mil milhões).
- Eixos: inflação, crescimento (IA/semis), segurança.
- FX: antes da investidura, o iene rompeu JPY 150/USD; Finanças alertaram contra volatilidade a 7 outubro; com a rutura LDP–Komeito, o iene apreciou ~0,5–1% pelo menor risco de estímulo “sem travão”.
Leitura: a nomeação de Katayama pode conter apostas contra o iene, mas a ambição fiscal de Takaichi exige engenharia orçamental e coordenação com o BOJ. A margem para “empurrar” o banco central é limitada por inflação >2% e pressões de Washington por normalização.
Energia e Indústria: retorno ao nuclear, menos “mega-solar” importado
A estratégia energética assenta em acelerar reinícios nucleares para aliviar custos e reduzir a dependência externa, com Ryosei Akazawa (negociador do acordo tarifário EUA–Japão) a liderar a pasta.
- Dados-chave
- Gasto 2024 em LNG+carvão: JPY 10,7 biliões (≈ USD 71 mil milhões), ~10% das importações; 60–70% da eletricidade vem de fósseis.
- Parque nuclear: 33 reatores operáveis; 14 já reiniciados; prazos de licenciamento longos.
- Contratos Sakhalin-2 (Rússia): a maioria expira 2028–2033; cessação antecipada implica multas.
- Orientações: pró-fusão e perovskites; menor apoio a mega-solar (dependência de painéis chineses) e offshore com dificuldades recentes.
Leitura: a opção nuclear é o atalho mais rápido para baixar preços grossistas de energia e travar a inflação importada; a componente LNG EUA abre moeda de troca na agenda bilateral com Trump.
Defesa e Relações Externas: aceleração orçamental e teste com os EUA
Liberta do travão pacifista do Komeito, a coligação com o Ishin alinha-se na revisão constitucional, armas e até debate de “nuclear-sharing” ao estilo NATO. Takaichi quer antecipar para março o objetivo de 2% do PIB em defesa e prepara o primeiro face-a-face com Trump (ASEAN Malásia no domingo; Tóquio no início da semana seguinte).
- Dados-chave
- Meta defesa: 2% do PIB até 31 março (fim do ano fiscal).
- Diplomacia: pacote de compras (LNG, bens) para “balancear” exigências dos EUA.
- Gabinete: apenas 2 ministras; Katayama (Finanças), Koizumi (Defesa), Motegi (Negócios Estrangeiros).
Leitura: a ambição externa esbarra na aritmética interna: sem maioria em nenhuma câmara, promessas quantitativas (ex.: 3% do PIB em defesa) podem gerar atrito precoce com Washington.
Sinalização de Mercado: “Takaichi trade”, FX e ações
A expectativa de estímulo e monetária mais branda originou o chamado “Takaichi trade”: ações em alta e iene mais fraco; porém, crises pontuais (rutura com Komeito) apreciaram o iene ao reduzir a probabilidade de cheque em branco fiscal.
- Movimentos-chave
- Nikkei: +3,4% para máximo histórico com o pacto LDP–Ishin e expectativa de gasto/afrouxamento.
- Iene: enfraqueceu com a vitória no LDP; apreciou ~0,5–1% na rutura com Komeito; voltou a enfraquecer com a investidura e perspetiva de adiamento de subidas do BOJ.
Leitura: para os mercados, a direção é função do binómio estímulo-minoria. Quanto mais complicado o parlamento, maior a chance de moderação fiscal (apoio Ishin mais “small-gov”), o que sustenta o iene e limita yields; um pacote amplo aprovado via acordos ad-hoc reativa o “trade” pro-equities.
Conclusão
O ciclo de outubro no Japão oferece uma mensagem dupla para investidores: ambição política e económica elevadas, mas capacidade de execução condicionada por uma coligação em minoria. A combinação estímulo (> JPY 13,9 biliões), regresso ao nuclear e aceleração da defesa pode reanimar crescimento e ancorar energia, mas exigirá compromissos com a oposição e uma gestão fina do BOJ/FX.
Para carteiras:
Em energia/utilities, premium para ativos expostos a nuclear restarts e LNG; cautela em offshore e mega-solar dependentes da cadeia chinesa.
Monitorizar tramitação do orçamento suplementar e pontos de veto (CDP/DPP).
Em FX, maior probabilidade de volatilidade bidirecional conforme a escala efetiva do pacote e o sinal do BOJ (nomeadamente pós 29–30 outubro).
Visite o Disclaimer para mais informações.
Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Política Interna e Externa do Japão, formato “Geral”, atualizado com informações até 24 de Outubro de 2025. Categorias: Política. Tags: Geopolítica, Política, Japão)