
BOJ mantém prudência, mas prepara novos aumentos de juros e plano para reduzir estímulos
Aqui pode acompanhar as últimas notícias relacionadas com a Política Monetária do Japão (BOJ). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 12 de setembro de 2025
- Próxima reunião do BOJ marcada para 18-19 de setembro de 2025, com a decisão oficial a ser anunciada a 19 de setembro e conferência de imprensa do governador Ueda às 06h30 GMT.
- Taxa diretora mantida em 0,5%, mas com elevada probabilidade de subida para 0,75% no 4.º trimestre.
- 37 biliões de ienes (c. 251 mil milhões USD) em ETFs no balanço, com plano de venda gradual já em preparação.
- Balanço do BOJ equivale a 125% do PIB japonês, o maior entre as principais economias.
- Pressões dos EUA para subida de juros intensificaram-se em agosto, com críticas de que o BOJ está “atrasado”.
- PIB japonês acima do esperado no 2.º trimestre e inflação ainda acima da meta reforçam argumentos para mais subidas.
- Pacote bilateral EUA-Japão: redução de tarifas norte-americanas para 15% em troca de 550 mil milhões USD em investimentos japoneses nos EUA, com reafirmação da margem para intervenções cambiais limitadas à volatilidade excessiva.
Política monetária e inflação
O Banco do Japão (BOJ) manteve a taxa de juro em 0,5% em setembro de 2025, mas o tom das últimas reuniões confirma uma trajetória de normalização gradual após décadas de estímulos extraordinários. O governador Kazuo Ueda reiterou que a decisão de novos aumentos dependerá da confirmação de que a inflação subjacente se mantém próxima de 2% de forma sustentável.
Em julho, o banco já tinha revisto em alta as previsões de preços, reconhecendo o risco de que a inflação alimentar se propague a outros setores. De facto, mais de 1.000 produtos alimentares tiveram preços aumentados em agosto e outros 8.000 itens deverão subir em outubro, sinal de efeitos de segunda ordem.
Apesar disso, a incerteza ligada às tarifas impostas pelos EUA e aos sinais de enfraquecimento da economia norte-americana justificam a prudência. O inquérito Tankan, a publicar em outubro, será determinante para avaliar se as empresas japonesas conseguem manter aumentos salariais consistentes com o objetivo de inflação.
Debate interno e perspetiva de novas subidas
As atas de junho e julho mostraram um debate cada vez mais hawkish entre os nove membros do conselho:
- Alguns defenderam subidas mais rápidas, mesmo perante incertezas externas, devido à inflação mais persistente e ao aumento dos salários.
- Outros sublinharam que a taxa atual de 0,5% ainda está abaixo do nível neutro, justificando aumentos graduais adicionais.
- As sondagens da Reuters em agosto e setembro apontaram para uma maioria de economistas a esperar nova subida para 0,75% ainda em 2025, com outubro e janeiro de 2026 como os cenários mais prováveis.
A dimensão política também entrou no debate: a sucessão do primeiro-ministro Shigeru Ishiba poderá influenciar o calendário. Analistas alertaram que, caso Sanae Takaichi, considerada mais dovish, assuma o cargo, a probabilidade de novas subidas poderá reduzir.
Redução do balanço e fim da era de estímulos
Paralelamente à discussão sobre taxas, o BOJ iniciou a fase final do desmantelamento do programa de estímulos lançado em 2010 e expandido em 2013. O banco central prepara-se para vender gradualmente os seus 37 biliões de ienes em ETFs, ativos acumulados durante 13 anos de compras para sustentar o mercado acionista.
O processo é sensível, dado que o balanço da instituição já equivale a 125% do PIB japonês, o nível mais elevado entre os grandes bancos centrais. A estratégia passará por vendas graduais em pequenas parcelas, evitando disrupções, em linha com a experiência anterior de alienação de ações adquiridas a bancos, que demorou 20 anos a concluir.
Relação com os EUA e pressão externa
As tensões com Washington marcaram agosto. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que o BOJ estava “atrás da curva” no combate à inflação, numa alusão clara à necessidade de mais aumentos de juros. O governo japonês rejeitou oficialmente a ideia de pressão externa, mas os mercados interpretaram os comentários como sinal de expectativa norte-americana de uma política mais restritiva no Japão.
A valorização do iene e a subida dos juros das obrigações a 10 anos para 1,56% refletiram esse contexto, reforçado pelos dados positivos do PIB japonês no 2.º trimestre.
No plano bilateral, o acordo comercial EUA-Japão incluiu a redução das tarifas norte-americanas para 15% na maioria das importações japonesas, em troca de 550 mil milhões USD de investimento japonês nos EUA. O comunicado conjunto reafirmou ainda que intervenções cambiais são aceitáveis apenas para conter volatilidade excessiva, deixando ao Japão margem para atuar em situações extremas sem ser acusado de manipulação cambial.
Impacto de mercado
O iene mostrou volatilidade ao longo de setembro, com os investidores a ponderar a divergência entre a política japonesa e a norte-americana. Enquanto a Fed se prepara para cortar juros, o BOJ mantém o discurso de aperto gradual. Este desfasamento aumenta o risco de valorização abrupta do iene, o que poderia penalizar as exportações japonesas já afetadas pelos custos mais altos das tarifas dos EUA.
Os mercados obrigacionistas também refletiram esta perspetiva: os juros das JGB a 10 anos subiram para 1,49%-1,56% em agosto e setembro, acompanhando as expectativas de subida de taxas.
Conclusão
Entre 1 de agosto e 12 de setembro de 2025, o BOJ confirmou a sua estratégia de normalização gradual, mantendo as taxas em 0,5% mas preparando o terreno para nova subida até ao final do ano. Em paralelo, iniciou a preparação para reduzir o balanço histórico, com destaque para a venda de ETFs, que assinala o fim definitivo de mais de uma década de estímulos.
A economia japonesa mostra sinais de resiliência, apoiada no acordo comercial com os EUA e no crescimento acima do esperado, mas continua vulnerável às tensões externas e à evolução da política norte-americana. O BOJ procura assim equilibrar prudência e credibilidade, mantendo abertas as opções de intervenção num cenário de forte incerteza global.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Política Monetária do Banco Central do Japão, formato “Geral”, atualizado com informações até 12 de Setembro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, BoJ, Banco Central, Japão, Taxa de Juro)