Johnson & Johnson: Choques Legais e Reforço Industrial nos EUA

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Nota de Contexto

A Johnson & Johnson (J&J) é um dos maiores conglomerados de saúde do mundo, com operações em farmacêutica, dispositivos médicos e bens de consumo. Tradicionalmente considerada um pilar de estabilidade no setor, a empresa enfrenta nos últimos anos uma dupla pressão: litígios multimilionários relacionados com alegadas contaminações por amianto nos produtos de talco e a necessidade de reorganizar a sua base produtiva nos EUA perante políticas comerciais mais restritivas e custos crescentes de importação.

1. Impacto Judicial: Veredito de 966 Milhões USD no Caso Mae Moore

Em 7 de outubro de 2025, um júri de Los Angeles condenou a Johnson & Johnson ao pagamento de 966 milhões USD à família de Mae Moore, uma mulher californiana falecida em 2021 aos 88 anos devido a mesotelioma, um tipo raro de cancro associado à exposição a asbestos (amianto).

• 16 milhões USD foram atribuídos como danos compensatórios e 950 milhões USD como danos punitivos.
• O montante poderá ser reduzido em recurso, dado que o Supremo Tribunal dos EUA limita normalmente os danos punitivos a um máximo de nove vezes o valor compensatório.

A J&J considerou a decisão “egregious and unconstitutional” e anunciou recurso imediato. O vice-presidente global de litígios, Erik Haas, afirmou que os advogados dos queixosos basearam o caso em “junk science” e reiterou que os produtos da empresa são seguros e isentos de amianto.

A família Moore acusa a empresa de ter continuado a vender produtos de talco contaminados, nomeadamente o Johnson’s Baby Powder, apesar de riscos conhecidos. O advogado dos queixosos, Trey Branham, declarou após o veredito que “espera que a Johnson & Johnson finalmente assuma responsabilidade por estas mortes sem sentido”.

A J&J cessou a venda de talco nos EUA em 2020, substituindo-o por pó de amido de milho, mas enfrenta ainda mais de 67 mil processos judiciais relacionados com alegados cancros provocados pelo uso de talco, sobretudo cancros do ovário.

Nos últimos meses, a empresa foi alvo de vários vereditos desfavoráveis em casos de mesotelioma, embora tenha vencido alguns, como o julgamento na Carolina do Sul na semana anterior ao caso Moore, em que o júri considerou a J&J não responsável. Em Oregon, um tribunal já tinha anulado um veredito de 260 milhões USD, determinando novo julgamento.

O conjunto de litígios representa um dos maiores passivos legais da história corporativa dos EUA, com três tentativas falhadas de resolução via capítulo 11 da lei de falências, bloqueadas por tribunais federais.

2. Estratégia Industrial: 2 Mil Milhões USD em Investimento na Carolina do Norte

Em contraste com o ambiente jurídico adverso, a J&J anunciou em 21 de agosto de 2025 um investimento de 2 mil milhões USD para expandir a sua capacidade industrial nos EUA, nomeadamente através de uma nova unidade em Holly Springs, Carolina do Norte.

A iniciativa surge num contexto de tensão comercial após a administração Trump ter anunciado tarifas graduais sobre medicamentos importados, que poderão atingir até 250%.

• O projeto envolve uma parceria de 10 anos com a japonesa Fujifilm Biotechnologies, que opera uma unidade de 160.000 pés quadrados (cerca de 15.000 m²) em Holly Springs.
• A expansão deverá criar cerca de 120 novos empregos especializados.
• A Fujifilm, por sua vez, assinara em abril de 2025 um contrato de 3 mil milhões USD com a Regeneron para fornecimento de produtos farmacêuticos nos EUA, utilizando a mesma infraestrutura industrial.

O plano da J&J insere-se num programa mais vasto de reforço do investimento interno em 25%, totalizando mais de 55 mil milhões USD ao longo de quatro anos, incluindo a construção de uma nova fábrica em Wilson, Carolina do Norte.

Esta estratégia pretende mitigar o risco das tarifas de importação e reforçar a autonomia produtiva da empresa no mercado norte-americano, garantindo resiliência nas cadeias de fornecimento.

3. Perspetiva Estratégica e Implicações

A Johnson & Johnson vive atualmente um período de transição estrutural, dividido entre a defesa legal de enorme escala e a reorientação produtiva para o território norte-americano.

• O caso Mae Moore é mais um teste à capacidade da empresa de limitar a exposição financeira de litígios relacionados com talco. Mesmo que os montantes venham a ser reduzidos, a acumulação de processos implica riscos reputacionais e de capital significativos.
• Em contrapartida, o investimento industrial sinaliza confiança na robustez operacional dos EUA e uma resposta proativa ao novo ambiente tarifário.

A médio prazo, a J&J procurará compensar potenciais perdas legais com aumento de eficiência e expansão produtiva, num contexto em que o mercado farmacêutico norte-americano permanece altamente rentável mas politicamente volátil.

Conclusão

A Johnson & Johnson entra no quarto trimestre de 2025 com um duplo foco: defender-se nos tribunais e reforçar as bases industriais nos EUA. O veredito de 966 milhões USD marca um ponto crítico na litigância sobre talco, enquanto o investimento de 2 mil milhões USD na Carolina do Norte demonstra uma estratégia clara de reindustrialização e mitigação de risco geopolítico.

O balanço entre passivos legais e expansão produtiva será determinante para o desempenho da empresa nos próximos trimestres, especialmente num contexto de incerteza regulatória e pressão sobre as margens farmacêuticas.

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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Johnson & Johnson, formato “News”, atualizado com informações até 07 de Outubro de 2025. Categorias: Saúde. Tags: Acionista, Biotecnologia, Saúde, Farmacêutica, EUA)