Nova Zelândia, Politica Monetária – 26 Out 25

Nova Zelândia entra em ciclo agressivo de cortes de juros e prepara nova liderança no banco central


Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária da Nova Zelândia (RBNZ). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.    


Strategic Highlights – 08 outubro 2025

  • RBNZ corta a taxa diretora em 50 pontos-base, para 2,5%, o nível mais baixo em mais de três anos.
  • Sinaliza nova redução de 25 pb até ao final do ano, com o objetivo de reposicionar a inflação perto de 2% até 2026.
  • Economia contraiu 0,9% no 2.º trimestre, confirmando recessão técnica e fragilidade no consumo.
  • Nova governadora nomeada: Anna Breman (Riksbank, Suécia) — a primeira mulher e primeira estrangeira a liderar a RBNZ.
  • Pressão política crescente: o primeiro-ministro Christopher Luxon e o governo apoiam abertamente taxas mais baixas para impulsionar o crescimento.

Nota de Contexto

A Nova Zelândia enfrenta em 2025 uma das fases económicas mais frágeis da sua história recente. Após ter sido um dos primeiros países a subir juros agressivamente entre 2021 e 2023, um total de +525 pb, para conter a inflação pós-pandemia, o país entrou em recessão técnica em 2024, com o PIB a recuar por três trimestres consecutivos.

A política restritiva travou o consumo, provocou queda nos preços imobiliários, aumento do desemprego e colapso da confiança empresarial. Desde agosto de 2024, a RBNZ já cortou 300 pb, tentando reverter o impacto dessa política.

A recente nomeação de Anna Breman marca o início de uma nova era institucional, após a saída conturbada de Adrian Orr e o mandato interino de Christian Hawkesby, que se encerra em dezembro.

1. Setembro: a nomeação de Anna Breman e o desafio de restaurar credibilidade

Em 24 setembro 2025, o governo neozelandês anunciou a escolha da sueca Anna Breman, vice-governadora do Riksbank, como nova governadora da RBNZ, com início a 1 dezembro 2025.

Um nome simbólico e pragmático

  • Primeira mulher e primeira estrangeira a liderar a instituição desde a criação do banco central moderno.
  • Breman, de 49 anos, é economista com experiência em política monetária, estabilidade financeira e pagamentos.
  • Foi selecionada após um processo internacional que envolveu mais de 300 candidatos.

A ministra das Finanças, Nicola Willis, descreveu a nomeação como um “novo capítulo” para o banco e destacou a necessidade de “liderança técnica e independência institucional” após anos de tensão entre o governo e a antiga direção.

Breman elogiou a reputação da RBNZ, recordando que a Nova Zelândia foi pioneira no regime de metas de inflação, e declarou:

“A Reserva da Nova Zelândia é uma instituição respeitada globalmente. O seu pessoal é dedicado e tem consciência do papel vital que desempenha para o país.”

Críticas e contexto político

A nomeação ocorreu num momento de crise de credibilidade:

  • O ex-governador Adrian Orr demitiu-se após críticas do governo sobre a lentidão em responder à recessão.
  • O orçamento da RBNZ foi cortado em 20%, com redução prevista de 20% do quadro de pessoal.
  • O primeiro-ministro Christopher Luxon chegou a afirmar publicamente que “a taxa de juro deve descer”, um comentário visto como interferência direta na política monetária.

Economistas locais, como Jarrod Kerr (Kiwibank), sublinharam que a RBNZ “ficou atrás da curva” e esperam de Breman uma postura “proativa e previsível”.

2. Outubro: corte surpresa de 50 pontos-base e viragem monetária

A 8 outubro 2025, a RBNZ surpreendeu o mercado ao reduzir a taxa diretora em 50 pb, para 2,5%, quando a maioria dos economistas esperava um corte de apenas 25 pb.

O comunicado do Comité de Política Monetária destacou:

“A decisão reflete o abrandamento persistente da economia e o objetivo de estabilizar a inflação de forma sustentável em torno do ponto médio da meta de 2%.”

Impactos imediatos

  • O dólar neozelandês (NZD) caiu 0,9%, para 0,5745 USD, o nível mais baixo em seis meses.
  • As taxas swap a dois anos desceram para 2,52%, com os mercados a precificarem nova redução para 2,25% em novembro e probabilidade de 60% de 2,0% terminal.
  • A bolsa de Wellington registou ganhos moderados nos setores de banca e construção, mais sensíveis aos juros.

Fundamentação económica

O corte foi sustentado por dados que confirmam a fragilidade do crescimento:

  • PIB -0,9% no 2.º trimestre, surpreendendo negativamente as projeções.
  • Confiança empresarial e do consumidor em mínimos de dez anos.
  • Desemprego acima de 6%, com queda acentuada no investimento residencial e corporativo.

O governo, pela voz da ministra Willis, saudou a decisão como “boa notícia para o emprego e o investimento”, embora tenha evitado comentários diretos sobre o ritmo de cortes.

Economistas como Nick Tuffley (ASB Bank) consideraram que “a prioridade da RBNZ passou a ser o risco de uma inflação demasiado fraca, não o oposto”.

3. Contexto internacional e desafios para Breman

A decisão aproxima a Nova Zelândia de um grupo de economias que já inverteram totalmente os ciclos de aperto monetário, contrastando com a postura mais cautelosa da Fed e do Banco da Reserva da Austrália (RBA).

A sucessora de Hawkesby, Anna Breman, herda um banco com múltiplos desafios:

  1. Reconstruir a independência institucional face ao governo Luxon.
  2. Gerir uma economia com inflação a 3% e crescimento negativo, evitando deflação.
  3. Rever a estrutura de capital e regulação bancária, criticada por limitar o crédito e encarecer o financiamento das famílias.
  4. Restaurar a confiança pública após cortes de pessoal e perceção de ingerência política.

4. Interpretação estratégica

A decisão de outubro representa uma inflexão decisiva: a política monetária da Nova Zelândia deixa de ser defensiva e passa a ser abertamente expansionista.

Sinais-chave

  • A RBNZ abandonou a postura reativa e sinalizou cortes preventivos adicionais.
  • A política monetária tornou-se alinhada com a prioridade política do governo, ainda que sob o risco de comprometer a perceção de independência.
  • A transição de governadores de Hawkesby para Breman, coincide com uma mudança de paradigma: de um modelo técnico rígido para uma abordagem mais pragmática e coordenada com a política fiscal.

Implicações

  • Curto prazo: estímulo ao crédito e estabilização do mercado imobiliário.
  • Médio prazo: risco de pressão cambial e fuga de capital, dada a divergência face às taxas australianas e americanas.
  • Longo prazo: redefinição do papel da RBNZ como “banco central híbrido”, simultaneamente técnico e politicamente sensível.

Conclusão

A RBNZ entra em 2026 com nova liderança e nova orientação, marcada por cortes agressivos de juros, reestruturação institucional e debate sobre independência.
A política de afrouxamento rápido reflete a urgência de reanimar uma economia em estagnação, mas também um risco crescente de politização da autoridade monetária.

A governadora Anna Breman assumirá em dezembro uma instituição enfraquecida, mas ainda respeitada, com a missão de reconstruir credibilidade e recuperar a eficácia da política monetária.
O desafio será encontrar o equilíbrio entre estímulo e prudência e provar que a Nova Zelândia ainda pode ser, como no passado, um laboratório global de inovação monetária.


Visite o Disclaimer para mais informações.

Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Política Monetária da Nova Zelândia, formato “Geral”, atualizado com informações até 23 de Setembro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, RBNZ, Banco Central, Taxa de Juro)

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