Reino Unido, BoE Dilema – 27 Fev 25

Aqui pode acompanhar as últimas noticias relacionadas com discursos de membros dos bancos centrais fora do âmbito das comunicações oficiais dos próprios bancos centrais. Este tipo de discurso é fundamental para ajudar a entender a futura orientação da política monetária.


Sinais Contraditórios na Economia do Reino Unido Deixam o Banco de Inglaterra sem Direção Clara

DESTAQUES (21 de fevereiro de 2025)

  • Empresas britânicas reduziram empregos ao ritmo mais rápido desde a pandemia de COVID-19, segundo o índice PMI.
  • Mercado laboral apresenta sinais mistos, com um aumento das ofertas de emprego em janeiro após sete meses de queda.
  • Inflação de janeiro superou as previsões, reforçando o dilema do Banco de Inglaterra sobre futuras descidas das taxas de juro.
  • Crescimento económico do Reino Unido permaneceu estagnado na segunda metade de 2024, com uma previsão revista em baixa para 2025 (0,75%).
    Receitas fiscais mais fracas do que o esperado em janeiro podem levar a novas medidas de contenção orçamental por parte do governo.

Desempenho Económico e Impacto no Mercado

O Reino Unido enfrenta um cenário económico confuso e contraditório, dificultando as decisões do Banco de Inglaterra (BoE) sobre a política monetária. Dados recentes mostram que as empresas reduziram postos de trabalho ao ritmo mais rápido desde a pandemia de COVID-19, de acordo com o Índice de Gestores de Compras (PMI) divulgado a 9 de fevereiro de 2025. O estudo aponta que os cortes de emprego foram quase tão acentuados como os registados após o colapso do Lehman Brothers em 2008, no auge da crise financeira global.

A incerteza aumentou entre os empregadores devido à subida das contribuições para a segurança social, anunciada pela ministra das Finanças, Rachel Reeves, em outubro, e que entrará em vigor em abril de 2025, juntamente com um aumento de quase 7% do salário mínimo. Vários inquéritos indicam que as empresas optaram por despedimentos ou por não substituir funcionários que saíram, refletindo um mercado laboral fragilizado.

Contudo, dados do setor de recrutamento divulgados no mesmo dia mostram um aumento das ofertas de emprego em janeiro, o primeiro em sete meses. Além disso, números oficiais publicados no início da semana indicaram que o mercado de trabalho resistiu melhor do que o esperado no final de 2024.

Em termos de consumo, as vendas a retalho cresceram pela primeira vez desde agosto de 2024, sugerindo alguma resiliência dos consumidores. No entanto, um estudo paralelo apontou que a confiança dos consumidores continua fraca, com apenas uma ligeira melhoria.

Dilema do Banco de Inglaterra: Estagnação vs. Inflação

O Banco de Inglaterra enfrenta um dilema difícil, pois os sinais contraditórios complicam a sua estratégia para as taxas de juro. Após reduzir os juros pela terceira vez desde agosto, a instituição tem sido clara ao afirmar que cortes adicionais serão graduais e cautelosos.

O economista-chefe do NatWest Markets, Ross Walker, destacou que esta situação reforça o cenário de estagflação – um período de crescimento fraco combinado com inflação persistente – no qual o Reino Unido parece estar preso.

Além disso, os desafios fiscais agravam-se para o governo. A arrecadação fiscal em janeiro foi inferior ao esperado, o que pode obrigar Reeves a adotar novas medidas de austeridade ou aumentar impostos já no próximo mês, caso se desvie das metas fiscais estabelecidas há menos de quatro meses.

Perspetivas para 2025: Crescimento Fraco e Inflação Persistente

O crescimento económico do Reino Unido permaneceu praticamente estagnado na segunda metade de 2024, e o Banco de Inglaterra reviu em baixa a previsão para 2025, reduzindo-a para 0,75%. No entanto, a inflação deverá atingir um pico de 3,7% entre julho e setembro, face aos 3,0% atuais, antes de começar a cair novamente.

Alguns economistas alertam que a inflação pode chegar aos 4%, o que seria o dobro da meta oficial do Banco de Inglaterra. Esta pressão inflacionista foi sublinhada pelo mais recente estudo PMI, que revelou que as empresas, além de reduzirem empregos, enfrentam custos mais elevados, uma vez que os fornecedores estão a aumentar os preços em antecipação às novas taxas de segurança social e ao aumento do salário mínimo em abril.

Rob Wood, economista-chefe do Reino Unido na Pantheon Macroeconomics, afirmou que, embora algumas empresas estejam a absorver os custos adicionais em vez de os repassar para os consumidores, a história sugere que tentarão recuperar margens de lucro nos próximos meses, pressionando ainda mais os preços.

Conclusão

A economia do Reino Unido continua a enviar sinais mistos, tornando incerta a trajetória futura da política monetária. Apesar da recuperação nas vendas a retalho e do aumento das ofertas de emprego em janeiro, os cortes acentuados no mercado de trabalho e a inflação mais elevada do que o esperado representam desafios sérios para o Banco de Inglaterra e para o governo.

Com a economia estagnada e a inflação acima da meta, o Banco de Inglaterra deverá adotar uma postura cautelosa nas futuras reduções das taxas de juro. Por outro lado, o governo poderá ser forçado a impor cortes adicionais na despesa pública ou aumentar impostos para cumprir os seus objetivos fiscais. O cenário para 2025 continua desafiante, exigindo equilíbrio entre a necessidade de apoiar o crescimento económico e o controlo da inflação.


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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre o Dilema do Banco Central do Reino Unido, formato “Geral”, atualizado com informações até 21 de Fevereiro de 2025. Categorias: Política Monetária. Tags: Política Monetária, BoE, Banco Central, Reino Unido, Taxa de Juro)