
Aqui pode acompanhar as últimas noticias relacionadas com discursos de membros dos bancos centrais fora do âmbito das comunicações oficiais dos próprios bancos centrais. Este tipo de discurso é fundamental para ajudar a entender a futura orientação da política monetária.
Banco de Inglaterra Avalia Riscos de Inflação com Crescimento Salarial Surpreendente
DESTAQUES (04 de Março de 2025)
- Crescimento salarial do setor privado no Reino Unido atingiu 6,2% no quarto trimestre de 2024, contrariando expectativas de desaceleração.
- Dave Ramsden, vice-governador do Banco de Inglaterra (BoE), considera que o risco de inflação acima da meta de 2% já não está apenas na descida, mas também na subida.
- Corte na taxa de juro de 4,75% para 4,5% decidido pelo BoE em 6 de fevereiro de 2025.
- Divergências dentro do BoE: alguns membros defendem cortes mais rápidos, enquanto outros preferem um ritmo mais prudente.
- Banco de Inglaterra prevê que a inflação suba para 3,7% no terceiro trimestre de 2025, antes de regressar à meta de 2% apenas em 2027.
Impacto do Crescimento Salarial e Desafios para a Inflação
O vice-governador do Banco de Inglaterra (BoE), Dave Ramsden, alertou que as pressões salariais no Reino Unido aumentaram o risco de a inflação permanecer acima da meta de 2% por mais tempo do que o esperado. Ramsden revelou que foi surpreendido pelos dados oficiais que mostraram que o crescimento dos salários no setor privado acelerou para uma taxa anual de 6,2% no quarto trimestre de 2024, contrariando as previsões de desaceleração.
Falando numa sessão de perguntas e respostas na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, onde participou numa reunião do G20, Ramsden classificou essa evolução como “preocupante”. Além disso, um inquérito do BoE a empregadores indicou que as expectativas salariais para 2025 estão no topo da previsão anterior de 2%-4%, quando o próprio Ramsden esperava que fossem inferiores a 3%.
Diante destes dados, Ramsden afirmou que já não vê os riscos de inflação apenas na descida, mas também na subida, refletindo a possibilidade de cenários tanto inflacionários como desinflacionários.
Decisão de Política Monetária e Debate no Banco de Inglaterra
No dia 6 de fevereiro de 2025, o Banco de Inglaterra decidiu reduzir a taxa de juro de 4,75% para 4,5%, num movimento apoiado pela maioria do Comité de Política Monetária (MPC), incluindo Ramsden. No entanto, dois membros votaram a favor de uma redução mais agressiva de 0,5 pontos percentuais, enquanto na reunião anterior, em dezembro de 2024, Ramsden fazia parte de uma minoria mais dovish que já defendia cortes, quando a maioria optou por manter as taxas inalteradas.
A principal divisão dentro do MPC reside na abordagem à descida das taxas. O grupo dominante prefere um ritmo “cuidadoso”, como indicado no comunicado oficial do BoE, enquanto outro grupo defende um tom “cauteloso”, sugerindo cortes mais lentos.
Perspectivas para a economia britânica e a Inflação
Apesar da incerteza sobre o ritmo dos cortes, Ramsden reiterou que as taxas estão numa trajetória descendente, defendendo que a desinflação continua em curso. No entanto, usou uma metáfora de montanhismo para descrever o processo:
“Uma abordagem gradual e cuidadosa é sempre necessária na descida de uma montanha para garantir um percurso seguro e um desfecho bem-sucedido. Mas isso não significa que a descida tenha de ser sempre lenta.”
A previsão do Banco de Inglaterra aponta para uma inflação de 3,7% no terceiro trimestre de 2025, antes de descer para a meta de 2% apenas em 2027. No entanto, alguns economistas alertam que a inflação pode atingir os 4%, o que reforça a necessidade de vigilância sobre as pressões de preços.
Ramsden também sublinhou que a sua tolerância a uma inflação acima da meta é “muito, muito baixa”, realçando o risco de que o crescimento económico fraco possa refletir uma capacidade produtiva ainda mais reduzida do que o BoE inicialmente avaliou.
Se esse for o caso, o mercado de trabalho pode permanecer apertado por mais tempo, prolongando o crescimento dos salários e resultando numa inflação interna mais persistente.
Conclusão
As preocupações do Banco de Inglaterra com o crescimento salarial inesperado e a possibilidade de uma inflação mais persistente criam um cenário incerto para a política monetária em 2025. Embora a descida das taxas de juro tenha começado, o ritmo dos cortes pode variar consoante as condições económicas.
A divergência dentro do Comité de Política Monetária reflete os desafios em equilibrar o crescimento económico com o controlo da inflação, num contexto onde a capacidade produtiva do Reino Unido pode estar ainda mais enfraquecida do que se pensava.
Se a inflação se revelar mais resistente, o Banco de Inglaterra poderá ser forçado a manter as taxas mais elevadas por mais tempo, impactando diretamente o crescimento, o mercado de trabalho e o poder de compra dos consumidores britânicos.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre riscos para inflação com subida dos Salários pelo BOE, formato “Geral”, atualizado com informações até 04 de Março de 2025. Categorias: Política Monetária. Tags: Política Monetária, BoE, Banco Central, Reino Unido, Taxa de Juro, Inflação, Emprego)