Reino Unido, Economia – 31 Out 25

Reino Unido – Outubro 2025: crescimento frágil, inflação persistente e pressão fiscal antes do orçamento de Reeves


Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Economia do Reino Unido. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.


Strategic Highlights – 22 outubro 2025

  • O PIB do Reino Unido cresceu apenas 0,1% em agosto, após revisão negativa de julho, confirmando a estagnação económica.
  • A inflação manteve-se em 3,8%, abaixo das previsões de 4%, abrindo espaço para possível corte de juros pelo Bank of England (BoE).
  • O mercado de trabalho enfraqueceu, com as intenções de contratação ao nível mais baixo desde 2020 e desemprego em 4,7%.
  • O setor industrial e da construção contraiu-se pelo nono mês consecutivo, com PMIs abaixo de 50.
  • O mercado imobiliário arrefeceu acentuadamente, com preços a subir apenas 1,3% em termos anuais, a menor taxa desde abril de 2024.

Nota de Contexto

A economia britânica atravessa uma fase de ajustamento pós-pandemia e pós-Brexit, marcada por pressões inflacionistas persistentes, crescimento anémico e austeridade fiscal reimposta.
A ministra das Finanças, Rachel Reeves, prepara o Orçamento de 26 novembro 2025, sob o duplo desafio de repor credibilidade fiscal e evitar recessão.
A política monetária, com a taxa diretora em 4%, encontra-se num ponto de inflexão: o BoE tenta equilibrar o combate à inflação com a necessidade de evitar novo abrandamento económico.

1. Crescimento: economia estagna e confiança empresarial em queda

Após um primeiro semestre relativamente sólido, com o PIB a crescer 0,7% no 1.º trimestre e 0,3% no 2.º, o ritmo abrandou fortemente no verão.

  • Em agosto, o PIB avançou apenas 0,1%, após revisão em baixa de julho (-0,1%).
  • No trimestre até agosto, o crescimento acumulado foi de 0,3%, impulsionado por serviços públicos e travado pelo consumo privado.

Economistas apontam para expetativas fracas de investimento e consumo até ao orçamento.
O Deutsche Bank estimou que o crescimento do 3.º trimestre será “metade da previsão do BoE (0,4%)”, citando a incerteza fiscal e a desaceleração nos serviços.

O défice da balança corrente atingiu 28,9 mil milhões de libras (3,8% do PIB) no 2.º trimestre, o mais elevado em dois anos, refletindo pagamentos de dividendos a investidores estrangeiros e vulnerabilidade externa crescente.

2. Inflação: estabilização técnica, mas risco estrutural

A inflação manteve-se em 3,8% em setembro, contrariando previsões de nova alta para 4,0%.

  • Serviços: 4,7%, estável (esperado 4,9%).
  • Alimentos: +4,3%, abrandando face a 4,8% em agosto.
  • Preços à produção (PPI): +3,4%, em aceleração.

A surpresa positiva levou os mercados a antecipar um corte de juros do BoE em dezembro, com probabilidade de 75%, face a 46% antes da divulgação.
Contudo, economistas como Ellie Henderson (Investec) alertam que “a taxa de 3,8% continua quase o dobro da meta de 2%” e que o alívio é apenas cíclico.

O governo reagiu prometendo medidas de apoio ao custo de vida no orçamento, com Reeves a afirmar:

“Durante demasiado tempo, a economia tem estado estagnada, com as famílias a dar mais e a receber menos. Isso tem de mudar.”

3. Mercado de trabalho: fragilidade crescente

O inquérito de decisão empresarial do BoE (Decision Maker Panel) revelou que as intenções de contratação são as mais fracas desde 2020, refletindo perda de dinamismo no emprego.

  • As empresas esperam manter o nível de emprego inalterado nos próximos 12 meses, algo inédito desde janeiro.
  • O desemprego subiu para 4,7%, o nível mais alto desde 2021.
  • As expetativas de inflação empresarial para os próximos 12 meses mantiveram-se em 3,4%, a mais elevada desde fevereiro de 2024.

Economistas da Pantheon Macroeconomics notaram que a combinação de pressão salarial persistente e procura laboral fraca deve levar o BoE a adiar cortes de taxas até 2026, apesar da desaceleração.

4. Setores: recessão industrial e construção em queda

A atividade industrial e da construção continuou em retração.

  • O PMI industrial caiu para 46,2 em setembro, o pior resultado em cinco meses.
  • O PMI da construção subiu ligeiramente para 46,2, mas permaneceu abaixo de 50 pelo nono mês consecutivo.
  • O PMI composto, que agrega indústria e serviços, caiu para 49,7, sinalizando contração da atividade privada.

Segundo a S&P Global, as empresas referiram:

“Investimentos suspensos até ao orçamento e custos laborais ainda elevados.”

O abrandamento no investimento privado é agravado pelo ambiente fiscal: Reeves prepara um ajuste de até 30 mil milhões de libras entre aumentos de impostos e cortes de despesa.

5. Mercado imobiliário: abrandamento generalizado

O setor imobiliário perdeu tração de forma nítida.

  • A Halifax reportou subida anual de 1,3%, a mais baixa desde abril de 2024, com queda mensal de 0,3%.
  • A Rightmove indicou aumento marginal de 0,3% nas quatro semanas até 11 outubro, face à média histórica de 1,1% para o período.
  • Em termos regionais, Londres registou apenas +0,6% anual, enquanto Irlanda do Norte avançou 6,5%.

A incerteza orçamental, nomeadamente sobre impostos sobre propriedades de gama alta, tem levado compradores a adiar decisões, em particular no sul de Inglaterra.
A Rightmove notou ainda que o número de transações recuou em setembro face a 2024, refletindo o fim dos cortes temporários no stamp duty e as expectativas de nova carga fiscal.

6. Política fiscal: dilema de Reeves e intervenção do FMI

O Fundo Monetário Internacional interveio publicamente a 15 outubro, recomendando que o Reino Unido mantenha previsões económicas semestrais e não reduza a transparência orçamental.

“As previsões devem continuar a ser feitas duas vezes por ano, em linha com as melhores práticas internacionais”, declarou Vítor Gaspar, diretor do FMI para assuntos fiscais.

O Fundo considera que a estratégia de Reeves equilibra crescimento e sustentabilidade, mas alerta para produtividade baixa e inflação estrutural como fatores que elevam os custos de financiamento público, hoje os mais altos do G7.

Conclusão

O quadro económico britânico em outubro de 2025 é de fragilidade estrutural disfarçada por estabilidade aparente.

  • O PIB cresce marginalmente, mas o investimento e a confiança empresarial deterioram-se.
  • A inflação estabilizou, mas permanece elevada, mantendo o BoE num impasse.
  • O mercado de trabalho abranda, a habitação esfria, e a fiscalidade apertada ameaça travar o consumo.

O Orçamento de 26 novembro será decisivo: Reeves precisa de reafirmar disciplina orçamental sem sufocar a recuperação, sob o olhar atento dos mercados e do FMI.

Perspetiva: o Reino Unido deve crescer apenas 0,2–0,3% por trimestre até final de 2025, com inflação a caminhar lentamente para 3%, e uma eventual redução da taxa do BoE apenas no início de 2026.


Visite o Disclaimer para mais informações.

Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Economia do Reino Unido, formato “Geral”, atualizado com informações até 22 de Outubro de 2025. Categoria: Economia. Tags: Economia, PIB, Reino Unido, Inflação)

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