Bank of England: Entre o Aperto Prudente e o Desafio da Inflação Persistente
Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária do Reino Unido (BOE). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 17 outubro 2025
- O Banco de Inglaterra (BoE) manteve a taxa diretora em 4,0% e reduziu o ritmo de aperto quantitativo (QT) de 100 mil milhões para 70 mil milhões de libras anuais.
- A inflação britânica deverá atingir 4% em setembro, mantendo-se bem acima da meta de 2% até meados de 2027.
- A economista-chefe Huw Pill defendeu uma redução mais cautelosa das taxas, alertando para a persistência das pressões inflacionistas.
- A decisora Catherine Mann considerou que a inflação no Reino Unido “tornou-se persistentemente elevada”, apesar de não excluir cortes adicionais.
- A partir de novembro de 2025, o BoE passará a explicar com mais detalhe as suas decisões, numa reforma inspirada na revisão de Ben Bernanke.
Nota de Contexto
O Banco de Inglaterra, fundado em 1694, é o banco central do Reino Unido e um dos pilares da política monetária global. Desde a crise financeira de 2008, expandiu agressivamente o seu balanço através de compra de dívida pública (QE), acumulando 875 mil milhões de libras em gilts. Desde 2022, tem vindo a reverter o processo, QT (Quantitative Tightening), vendendo títulos e reduzindo a liquidez bancária.
Em 2025, o desafio do BoE é restaurar a estabilidade de preços sem abalar um crescimento económico já frágil e sem provocar disrupção no mercado de dívida pública britânica.
Política Monetária: Uma Viragem de Ritmo, Não de Direção
Em setembro de 2025, o Comité de Política Monetária (MPC) decidiu, por 7 votos contra 2, manter as taxas em 4% e abrandar o QT para 70 mil milhões de libras por ano, face aos 100 mil milhões anteriores.
O governador Andrew Bailey sublinhou que o Reino Unido “ainda não saiu do perigo” e que quaisquer cortes futuros deverão ser feitos “de forma gradual e cuidadosa”.
- Composição da votação: Swati Dhingra e Alan Taylor defenderam um corte de 25 pb; Mann votou a favor de uma redução mais agressiva do QT para 62 mil milhões; Pill preferiu manter o ritmo anterior.
- Distribuição das vendas: 40% em dívida de curto prazo, 40% média e 20% longa, evitando pressão sobre o segmento de longo prazo, que atingiu os rendimentos mais altos desde 1998.
- O BoE reviu ligeiramente em alta o crescimento do PIB do 3.º trimestre para +0,4% em cadeia, face a +0,3% previsto.
A Inflação Britânica: Persistente e de Difícil Contenção
A inflação britânica, 3,8% em agosto, é a mais elevada do G7 e 3.8% em setembro antes de recuar gradualmente.
Apesar do arrefecimento do mercado laboral e da desaceleração dos salários, a dinâmica dos preços, sobretudo em serviços e habitação continua a preocupar o BoE.
A decisora Catherine Mann afirmou que “o cenário de persistência inflacionista descrito em agosto está a concretizar-se”, refletindo o impacto combinado de salários em aceleração e produtividade débil.
Ainda assim, Mann admitiu que novos cortes nas taxas não estão fora de questão, dada a incerteza sobre o crescimento.
Já Megan Greene alertou para o risco de o processo de desinflação “estar a abrandar”, acrescentando que a produtividade britânica pode evoluir abaixo das hipóteses do BoE — um fator que poderá manter a inflação mais elevada por mais tempo.
A Nova Comunicação do Banco de Inglaterra
Em resposta às críticas sobre previsões e transparência durante o pico inflacionista de 2022, o BoE implementará, a partir de novembro de 2025, uma reforma profunda na comunicação das suas decisões.
Segundo Huw Pill, o BoE introduzirá:
- Caixas explicativas adicionais nos relatórios trimestrais de política monetária;
- Uma secção dedicada a riscos e cenários;
- E a possibilidade de cada um dos nove membros do MPC explicar individualmente o seu voto.
Esta mudança segue as recomendações do relatório Bernanke (2024) e visa restaurar a credibilidade da instituição após um ciclo prolongado de previsões falhadas.
QT e a Gestão da Credibilidade
O QT (Quantitative Tightening) tornou-se um teste de equilíbrio entre estabilidade financeira e reputação institucional.
Ao reduzir o ritmo anual para 70 mil milhões de libras, o BoE procura minimizar o impacto nos mercados obrigacionistas, onde as yields longas subiram para máximos de 27 anos.
A política de vendas diferencia-se da dos EUA e da zona euro, único grande banco central a vender ativamente dívida pública em vez de esperar pela maturidade.
O objetivo implícito: manter credibilidade perante o Tesouro e os mercados, demonstrando que o controlo da inflação permanece a prioridade.
Sinais de Divergência Interna
As recentes intervenções públicas dos membros do MPC revelam uma fragmentação crescente de opiniões:
- Pill defende cortes “lentos e prudentes”, temendo que cortes rápidos façam regredir o processo de desinflação.
- Mann votou contra o corte de agosto e pediu QT mais lento, mas reconhece que “a curva de reservas do sistema bancário está a tornar-se mais inclinada”, sugerindo menor liquidez.
- Greene mostra-se mais dovish, acreditando que as taxas “continuam restritivas” e que a sua trajetória futura será descendente, embora com riscos crescentes de inflação estrutural.
Esta diversidade interna reforça a ideia de que o ciclo de política monetária do BoE entrou numa fase de calibração fina, em que o consenso é mais difícil e a comunicação mais crítica.
Perspetivas de Mercado e Política
Os mercados financeiros ajustaram rapidamente as suas apostas:
- Um novo corte de 25 pb está totalmente descontado para fevereiro de 2026, após ter sido antecipado de abril.
- O consenso dos economistas (Reuters Poll) antecipa uma única redução adicional em 2025, levando a taxa a 3,75%.
- A inflação média projetada é de 3,6% no 4.º trimestre de 2025 e 2,5% em 2026, regressando à meta apenas em 2027.
O crescimento esperado do PIB é modesto: +1,3% em 2025 e +1,2% em 2026, sustentado por despesa pública, mas com procura privada deprimida.
Conclusão
O Banco de Inglaterra encontra-se num ponto de inflexão institucional e económico.
A inflação persistente impede cortes agressivos, o mercado de dívida mostra fragilidade e a credibilidade da comunicação tornou-se um ativo estratégico.
Com a nova transparência introduzida por Huw Pill e a prudência de Bailey, o BoE tenta reconstruir confiança sem perder o controlo do ciclo de preços.
Mas a tensão permanece: cada movimento no QT ou na taxa diretora é simultaneamente económico e simbólico, refletindo a difícil missão de equilibrar estabilidade, crescimento e reputação.
O Reino Unido entra assim no inverno de 2025 com a inflação controlada mas não vencida, e um banco central que tenta, passo a passo, recuperar a iniciativa num ambiente de incerteza prolongada.
Visite o Disclaimer para mais informações.
Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Política Monetária do BOE, formato “Geral”, atualizado com informações até 17 de Outubro de 2025. Categorias: Bancos Centrais. Tags: Política Monetária, BoE, Banco Central, Reino Unido, Taxa de Juro)