Destaques (28 Mar 25)

• Vendas a retalho cresceram 1,0% em fevereiro face a janeiro, contrariando previsões de queda.
• Crescimento homólogo acelerou para 2,2%, bem acima dos 0,5% esperados pelos analistas.
• Reforço da poupança das famílias pode sustentar consumo nos próximos meses.
• Descontos em vestuário e forte desempenho das lojas de bens domésticos impulsionaram os resultados.
• Contexto macroeconómico ainda marcado por incertezas com novas subidas de custos a partir de abril.

Surpresa Positiva nas Vendas a Retalho

Os consumidores britânicos surpreenderam em fevereiro ao aumentarem as suas compras, com os volumes de vendas a registarem uma subida mensal de 1,0%, anunciou esta sexta-feira (28 de março) o Office for National Statistics (ONS). Este desempenho contraria as projeções de uma queda de 0,4% feitas pelos analistas e supera claramente o crescimento revisto de 1,4% registado em janeiro.

Na comparação anual, as vendas aumentaram 2,2%, o ritmo mais acelerado desde finais de 2022, sinalizando um início de ano mais dinâmico para o consumo, apesar do contexto económico frágil.

Bens Não Alimentares em Destaque

O crescimento foi impulsionado sobretudo pelas lojas de bens domésticos, que registaram a sua maior subida desde abril de 2021, e pelo setor do vestuário, beneficiando de descontos generalizados. Apenas os supermercados viram um recuo nas vendas, após um janeiro particularmente forte.

De acordo com a economista Sandra Horsfield, do Investec, “o desempenho foi generalizado, com todas as principais categorias, exceto os alimentos, a apresentarem crescimento, um sinal encorajador para o PIB do primeiro trimestre”.

Poupança Familiar em Máximos Fora do Período COVID

Num sinal adicional de robustez potencial do consumo, o ONS revelou que a taxa de poupança das famílias atingiu os 12,0% no quarto trimestre de 2024, o valor mais elevado desde o período da pandemia, excetuando esse evento. O rendimento disponível real cresceu 4,3% em termos anuais no mesmo trimestre, impulsionado por aumentos salariais.

A economia britânica registou um crescimento de 0,1% no quarto trimestre, com uma revisão em alta do crescimento de 2024 para 1,1%, face aos 0,9% anteriormente reportados. No entanto, o PIB per capita manteve-se estagnado, refletindo os desafios estruturais da economia.

Perspetivas e Riscos

O retalho poderá beneficiar dessa poupança acumulada, mas os analistas mantêm uma visão prudente. Thomas Pugh, da RSM, considera que “estes dados podem ser um sinal de que o consumo das famílias poderá recuperar em 2025, embora sem entusiasmo”.

A subida de impostos sobre os empregadores, o aumento das faturas energéticas reguladas e a elevação do salário mínimo, todos com entrada em vigor em abril, são fatores que poderão condicionar a confiança e o poder de compra.

Segundo Oliver Vernon-Harcourt, da Deloitte, “a inflação alimentar ainda elevada está a limitar os volumes de compra e os retalhistas estão cautelosos perante os novos encargos salariais”.

Reações no Sector

Entre as empresas do setor, os resultados têm sido mistos: a retalhista de moda Next reviu em alta a sua previsão de lucros após um desempenho acima do esperado, enquanto a Kingfisher, ligada ao setor do bricolage, sinalizou impactos negativos causados pelas medidas do orçamento de outubro.

Apesar do impulso recente, o volume total de vendas a retalho continua ligeiramente abaixo dos níveis pré-pandemia, segundo o ONS, um lembrete de que a recuperação ainda não está concluída.

Conclusão

Fevereiro trouxe sinais encorajadores para o consumo no Reino Unido, com os dados de vendas a retalho a superarem largamente as expectativas. Contudo, o cenário mantém-se frágil, com os encargos adicionais previstos para abril a representarem um teste decisivo à resiliência dos consumidores britânicos e à capacidade do retalho em manter esta dinâmica positiva no segundo trimestre de 2025.