Shein, News – 12 Out 25

Shein acelera expansão global entre tensões comerciais e bloqueio regulatório


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Strategic Highlights – 02 outubro 2025

  • FCA britânica aprovou o IPO da Shein em abril, mas a listagem em Londres ficou suspensa por falta de aval da CSRC chinesa.
  • Mudança de rota para Hong Kong: a empresa submeteu um novo prospeto em julho, tentando desbloquear o processo.
  • Vendas no Reino Unido cresceram 32,3% em 2024, atingindo 2,05 mil milhões de libras, com lucro antes de impostos a subir 56,6%.
  • Armazém de 15 hectares no Vietname reforça a diversificação logística face à guerra comercial EUA–China.
  • Primeiras lojas permanentes em França previstas para novembro geram forte reação política e do retalho tradicional.

Nota de Contexto

Shein, fundada na China e sediada em Singapura desde 2022, tornou-se uma das maiores plataformas de moda ultrarrápida do mundo, com operações em mais de 150 países e uma rede de cerca de 7.000 fornecedores. O modelo baseia-se em produção descentralizada, venda direta via e-commerce e no uso do regime “de minimis”, que isenta pequenas encomendas de direitos aduaneiros. A empresa não possui fábricas próprias e depende fortemente de subcontratados na China, embora tenha vindo a ampliar operações no Brasil, Turquia e agora no Vietname.

1. IPOs e Estratégia de Mercado de Capitais

Em abril de 2025, a Financial Conduct Authority (FCA) britânica aprovou a oferta pública inicial (IPO) da Shein em Londres, um avanço importante na tentativa de legitimação da empresa como entidade global e não chinesa. No entanto, a operação ficou condicionada à autorização da China Securities Regulatory Commission (CSRC), que mantém controlo sobre todas as listagens offshore de empresas com origem chinesa.

A ausência de resposta de Pequim levou a empresa, em maio, a redirecionar a operação para Hong Kong, preparando o envio do prospeto nas semanas seguintes. O movimento visava contornar o bloqueio político, agravado por alegações de uso de algodão de Xinjiang e pela crescente desconfiança das autoridades chinesas em permitir listagens externas sem controlo direto.

Em julho, a Shein formalizou o pedido de IPO em Hong Kong, numa manobra dupla: manter o projeto vivo e pressionar os reguladores britânicos a flexibilizarem as exigências de divulgação de risco. O Financial Times descreveu a jogada como tentativa de “salvar” o IPO londrino e forçar um desfecho até final de 2025.

O valor estimado da empresa deverá ficar próximo de 50 mil milhões USD, cerca de 25% abaixo da última valorização privada de 2023 (66 mil milhões USD), refletindo a incerteza sobre o impacto das tarifas e o fim da isenção de importações “de minimis”.

2. Impacto da Política Comercial e Logística Global

A política de Donald Trump, ao eliminar em maio a isenção “de minimis” para bens vindos da China e Hong Kong, até então livres de direitos para encomendas abaixo de 800 USD, alterou profundamente a estrutura de custos da Shein. As novas taxas de 120%, depois revistas para 54% e 30% consoante o valor das remessas, minaram a vantagem fiscal do modelo de microenvios.

A resposta estratégica veio sob a forma de diversificação geográfica. Em maio de 2025, a Shein arrendou 15 hectares de terreno industrial no Vietname, nas imediações de Ho Chi Minh City, onde instalará o seu primeiro grande centro logístico regional. A infraestrutura equivalente a cerca de 26 campos de futebol, permitirá gerir exportações e armazenar produtos vindos de fábricas locais e chinesas, reduzindo a dependência direta de portos e alfândegas chinesas.

Segundo fontes citadas pela Reuters, a Shein estuda ainda expandir esta presença logística no Sudeste Asiático, num contexto em que os EUA e a UE planeiam eliminar as isenções equivalentes (limites de 800 USD e 150 EUR, respetivamente), pressionando o modelo de comércio direto transfronteiriço.

3. Desempenho Operacional e Lucros no Reino Unido

O relatório financeiro da subsidiária Shein Distribution UK Ltd revelou um salto de 32,3% nas vendas, para 2,05 mil milhões de libras em 2024, e um aumento de 56,6% no lucro antes de impostos, para 38,25 milhões de libras.

O Reino Unido consolidou-se como o terceiro maior mercado da empresa, atrás dos EUA e da Alemanha, apoiado por campanhas promocionais agressivas (pop-ups em Liverpool, autocarro natalício em 12 cidades e dois novos escritórios em Londres e Manchester).

Este crescimento contrasta com o contexto de inflação persistente e fragilidade do consumo britânico, o que indica que Shein continua a ganhar quota de mercado a retalhistas locais como ASOS e H&M, através de preços ultracompetitivos e de um catálogo cada vez mais diversificado.

4. Expansão Física e Reação Regulamentar

O passo seguinte da Shein é simbólico: abrir as suas primeiras lojas permanentes em França. O plano, anunciado a 2 de outubro de 2025, prevê espaços no BHV Paris e nas Galeries Lafayette de Dijon, Grenoble, Reims, Limoges e Angers.

A iniciativa, em parceria com a Société des Grands Magasins (SGM), gerou forte oposição de políticos e retalhistas franceses. A presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, criticou publicamente o projeto por contrariar os objetivos de “comércio local sustentável”. A própria Galeries Lafayette afirmou que a parceria “viola o acordo de franquia” e “contradiz os valores” da marca.

A reação negativa insere-se num clima mais amplo: o Parlamento francês debate atualmente um projeto de lei contra o “fast fashion”, que poderia proibir publicidade de empresas como a Shein. Além do impacto reputacional, a empresa enfrenta o desafio operacional de manter inventário em lojas físicas, uma mudança estrutural face ao modelo puramente digital que lhe permitia margens elevadas e baixo desperdício.

5. Perspetivas e Avaliação Estratégica

A Shein entra no último trimestre de 2025 num equilíbrio instável entre expansão e risco regulatório.
Por um lado, o crescimento internacional continua sólido, com diversificação geográfica e logística; por outro, o cerco político e as mudanças aduaneiras ameaçam a sustentabilidade do modelo de preços ultrabaixos.

O IPO em Hong Kong representa tanto uma porta de saída táctica como um teste de credibilidade global. Se for bem-sucedido, poderá servir de base para uma futura dupla cotação em Londres. Caso contrário, a empresa poderá enfrentar maior escrutínio e menor liquidez internacional.

A reação europeia ao fenómeno Shein agora visível em França, sinaliza uma nova fase na regulação da moda ultrarrápida, com implicações que vão além do retalho: sustentabilidade, fiscalidade e política industrial tornam-se agora elementos centrais do debate.

Conclusão

A trajetória de 2025 mostra uma Shein simultaneamente em crescimento e sob pressão.
O salto nas vendas e lucros no Reino Unido e o investimento no Vietname confirmam uma estratégia pragmática de adaptação às novas barreiras comerciais. No entanto, o bloqueio da CSRC, a contestação política na Europa e a erosão do regime “de minimis” revelam os limites de um modelo baseado na arbitragem global de custos.

A Shein mantém-se um caso-teste do futuro da moda digital: uma empresa que tenta transformar a escala planetária num ativo financeiro, mas que enfrenta agora a fase em que a regulação e a sustentabilidade começam a definir o ritmo da expansão.   


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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Shein, formato “News”, atualizado com informações até 02 de Outubro de 2025. Categoria: Consumo. Classe de Ativos: Ações. Tags: Acionista, China, Shein, Consumo, Vestuário)

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