Spirit Airlines: falência expõe os limites do modelo “low-cost premium” nos EUA
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Spirit Airlines. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta empresa e consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 10 outubro 2025
- Spirit Airlines entra novamente em falência (Chapter 11), apenas seis meses após a saída da anterior reestruturação.
- A empresa vai reduzir a frota em quase 100 aviões, o equivalente a 45% da capacidade atual, como parte do plano de viabilidade.
- Foram rejeitados 87 contratos de leasing, abrangendo aeronaves e aeroportos, com o objetivo de poupar “centenas de milhões de dólares” em custos anuais.
- Estratégia de “upgrade” de mercado, assentos maiores, Wi-Fi e snacks gratuitos, falhou em atrair clientes de maior rendimento e agravou custos operacionais.
- A crise da Spirit revela um problema estrutural do setor low-cost americano, pressionado pela inflação e pela concorrência das grandes companhias (Delta, United, American).
Nota de Contexto
Fundada em 1983 e baseada na Florida, a Spirit Airlines (NYSE: SAVE) construiu a sua marca como ultra-low-cost carrier (ULCC), operando com margens mínimas e tarifas extremamente baixas.
Após a pandemia, tentou reposicionar-se como transportadora híbrida, adicionando serviços premium e programas de fidelização.
A aposta fracassou: a inflação de custos e a guerra de preços no segmento económico anularam qualquer ganho de margem.
1. Segunda falência em menos de um ano
Em 3 de outubro de 2025, o CFO Fred Cromer anunciou que a Spirit Airlines entrou novamente em Chapter 11, citando excesso de capacidade, fraca procura e queda nas tarifas médias.
A empresa opera atualmente 214 aviões, mas planeia eliminar quase metade da frota, revertendo a expansão feita nos anos de 2019–2023.
Medidas principais do plano:
- Rejeição de 87 contratos de leasing, mediante autorização judicial.
- Saída de 12 aeroportos e cancelamento de 40 rotas domésticas.
- Acordo com a AerCap, que resultou em 150 milhões USD de compensação e cancelamento de 27 aeronaves futuras (Airbus A320neo, entregas 2027–2028).
- Conclusão da revisão da frota prevista para 27 de outubro de 2025.
O plano permitirá uma poupança estimada em centenas de milhões de dólares anuais, reduzindo custos fixos e ajustando a capacidade a um mercado saturado.
2. Falência de um modelo: o “low-cost premium”
Após a primeira reestruturação, concluída em março, a Spirit tentou reposicionar-se no segmento intermédio, uma espécie de “baixo custo com conforto”.
Introduziu assentos mais largos, bebidas gratuitas, Wi-Fi e prioridade de embarque, inspirando-se em modelos híbridos como a Breeze Airways e a JetBlue.
Mas o resultado foi desastroso:
- Receitas trimestrais caíram 20%, com redução acentuada no volume de passageiros.
- Custos operacionais (excluindo combustível) passaram de 84% da receita em 2019 para 118% em 2025.
- Perda líquida de 246 milhões USD no 2.º trimestre, refletindo a erosão total da vantagem de custo.
O mesmo fenómeno atinge concorrentes diretas:
- Frontier Airlines perdeu 70 milhões USD no trimestre.
- Breeze Airways sobrevive apenas ao concentrar-se em rotas curtas sem competição direta das grandes companhias.
Em termos estruturais, a inflação, salários, manutenção e leasing destruiu a base do modelo “ultra-low-cost”, enquanto o consumidor pós-pandemia dá prioridade a fiabilidade e conforto, não apenas ao preço.
3. O cerco das grandes companhias
As três maiores transportadoras norte-americanas (Delta, United e American) reforçaram a oferta de tarifas “basic economy”, invadindo o espaço dos low-cost.
- A United Airlines já obtém 15% das suas vendas domésticas dessa categoria.
- Estas tarifas oferecem preços equivalentes aos da Spirit, mas com uma perceção de marca e serviço superiores, retirando aos low-cost a sua principal vantagem competitiva.
Além disso, as grandes companhias beneficiam de:
- Maior escala e flexibilidade operacional,
- Receitas diversificadas (corporativo, carga, cartões de crédito, loyalty programs),
- Acesso facilitado a financiamento e infraestrutura aeroportuária.
Como resultado, o mercado norte-americano voltou a consolidar-se em torno dos “Big Three”, enquanto as companhias menores enfrentam exclusão progressiva de slots e gates estratégicos.
4. Imagem de marca e perceção negativa
Um dos maiores obstáculos à reinvenção da Spirit é a sua reputação histórica de serviço pobre e cobranças adicionais.
Em 2025, a empresa voltou a ocupar o último lugar no índice de satisfação da J.D. Power, ao lado da Frontier.
Entre 2022 e 2023, as duas pagaram 26 milhões USD em bónus a funcionários para impor regras de bagagem, política que reforçou a imagem de “empresa que multa clientes”.
Embora a Spirit tenha eliminado taxas de alteração e reintroduzido atendimento telefónico para membros de elite, os esforços de rebranding não alteraram a perceção.
Como sintetizou um analista da OAG:
“Nunca houve uma companhia que tentasse subir na cadeia de valor e conseguisse sobreviver.”
5. Perspetivas e implicações setoriais
A crise da Spirit Airlines é mais do que um caso isolado: representa um ponto de inflexão no modelo low-cost americano.
Fatores estruturais negativos
- Inflação estrutural dos custos de leasing e manutenção.
- Pressão competitiva das grandes transportadoras em rotas domésticas.
- Consumidor menos sensível ao preço e mais atento à experiência de voo.
Possíveis desdobramentos
- Consolidação no setor, com potenciais fusões entre ULCCs menores.
- Foco em rotas regionais sem competição direta (modelo Breeze/Allegiant).
- Redefinição do conceito de “baixo custo” nos EUA, centrado em eficiência, não em austeridade.
Conclusão
A segunda falência da Spirit Airlines em 2025 marca o colapso do ideal “ultra-low-cost” nos Estados Unidos.
Num ambiente de custos inflacionados e concorrência agressiva das grandes companhias, a tentativa de subir na cadeia de valor diluíu a simplicidade operacional que sustentava o modelo.
A reestruturação atual deverá produzir uma Spirit menor, mais enxuta e financeiramente estável, mas dificilmente competitiva num mercado onde o preço baixo já não é suficiente.
O caso torna-se, assim, um estudo de limite estrutural da estratégia “low-cost premium” e um alerta para todo o segmento de transporte aéreo norte-americano.
Visite o Disclaimer para mais informações.
Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Spirit Airlines, formato “News”, atualizado com informações até 10 de Outubro de Julho de 2025. Categoria: Transporte. Classe de Ativos: Ações. Tags: Acionista, Spirit Airlines, EUA, Transporte, Companhia Aérea)