Stellantis revê estratégia em Itália e admite alienar Maserati sob nova liderança

Estratégia sob escrutínio com possível venda da Maserati

A 20 de junho de 2025, fontes internas revelaram que a Stellantis está a avaliar a possibilidade de alienar a Maserati, marca de luxo italiana integrada no portefólio desde a fusão da Fiat Chrysler com o grupo PSA. A decisão ainda não está fechada, mas faz parte de uma revisão estratégica para reduzir complexidade e otimizar rentabilidade por unidade de negócio.

O grupo, que controla 14 marcas incluindo Peugeot, Jeep, Alfa Romeo e Fiat, procura focar-se em segmentos com maior escala industrial e menor exigência de capital intensivo, num momento de forte transição tecnológica no setor automóvel.

Transição de liderança sem mudanças estruturais gera frustração

A 23 de junho, as ações da Stellantis caíram 3,2% após a primeira grande intervenção pública do novo CEO, que optou por manter a estrutura de gestão herdada do antecessor Carlos Tavares, sem mudanças relevantes na direção de marcas ou operações.

Analistas esperavam uma clarificação estratégica ou ajustes de governação logo na entrada em funções, mas a decisão de manter a equipa atual sem alterações operacionais foi recebida com ceticismo pelo mercado.

Cortes em Itália acentuam tensão laboral

A 7 de maio, o sindicato Fiom-Cgil confirmou que a Stellantis irá cortar até 500 postos de trabalho por via de rescisões voluntárias na fábrica de Melfi, onde trabalham cerca de 5.000 pessoas. Este número soma-se às 350 saídas já anunciadas nas unidades de Pomigliano e Pratola Serra.

Embora os cortes sejam voluntários, o sindicato recusa assinar os acordos por considerar que estão a preparar um desinvestimento estrutural no país, apesar de promessas anteriores de relançamento da produção nacional.

O grupo assegura que mantém o compromisso com Itália, e que novos modelos das marcas Lancia, Jeep e DS começarão a ser produzidos em solo italiano a partir de 2025, com impacto esperado apenas no final deste ano.

Reorganização industrial e pressão sobre marcas históricas

A Stellantis enfrenta o desafio de gerir uma estrutura multimarcas complexa e altamente diversificada, num ambiente de investimento intensivo em eletrificação e digitalização dos veículos. As marcas de nicho, como a Maserati, têm enfrentado custos elevados de desenvolvimento e margens inconsistentes, levando a especulações sobre vendas, parcerias ou mesmo encerramentos seletivos.

O grupo já iniciou processos semelhantes com algumas linhas de produção fora da Europa e tem procurado simplificar operações regionais para preservar liquidez e margem operacional, num cenário de desaceleração na Europa e tarifas crescentes em mercados extracomunitários.

Conclusão

A Stellantis entra no segundo semestre de 2025 num momento de ajuste estratégico profundo, entre promessas de relançamento industrial em Itália, pressão sobre marcas premium e exigência de resultados face à nova liderança. A possível alienação da Maserati e os cortes seletivos reforçam o foco do grupo em reduzir custos, priorizar escala e garantir flexibilidade financeira num mercado em rápida transformação.

O sucesso dependerá da capacidade da administração em concretizar a simplificação prometida, sem comprometer a coesão das marcas e o equilíbrio social nas geografias mais sensíveis, como Itália e França.